Cidades

Bienal de São Paulo reúne obras de artistas indígenas de Roraima

As artes indígenas de Roraima conquistaram espaço na 34ª Bienal de São Paulo. Neste ano, a mostra completa 70 anos e tem como tema “Faz escuro, mas eu canto”.

No total, são 1.110 trabalhos de 91 artistas de todos os continentes que participam do evento gratuito até dia 28 de novembro.

As obras dos demais artistas de Roraima das etnias Yanomami, Xirixana, Patamona, Wapichana, Macuxi, Taurepang ficam no Museu de Arte Moderna de São Paulo até o dia 5 de dezembro.

Jaider Esbell, da etnia Macuxi, da Raposa Serra do Sol, é o curador responsável por escolher as obras de artistas e pensadores renomados como Davi Kopenawa e Ailton Krenak.

“Eles identificaram meu trabalho e me convidaram para participar. Assim, propuseram que eu fizesse essa curadoria para o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Pensei que podíamos ampliar essa proposta para todo o Brasil e quem sabe outros países”, disse ao Roraima em Tempo.

Moquém Surarî

Esbell apresenta o trabalho ao lado do Pavilhão da Bienal no Museu de Arte Morderna (MAM), denominado como Mostra “Moquém Surarî: arte indígena contemporânea”.

Por outro lado, na Sala Paulo Figueiredo tem 34 artistas dos povos Baniwa, Guarani Mbya, Huni Kuin, Krenak, Karipuna, Lakota, Marubo, Pataxó, Taripé, Tikmu’um Maxakali. Além disso, contempla as seis etnias de Roraima.

“Exigi que tivessem mais artistas indígenas. É importante que a gente se posicione enquanto povos e donos dessas terras. Uma Bienal que já ocorre há 70 anos nunca fez o que deveria fazer, que é acolher os povos indígenas do Brasil. Foi um trabalho de articulador para trazer artistas como Daiara Tucano, Gustavo Caboco e Carmézia Emiliano”, fala.

De acordo com Jaider, esta é a Bienal dos indígenas, assim como um importante momento para mostrar os povos originários.

“Os brasileiros precisam entender que nós, povos indígenas, estamos realmente chegando a todos os lugares das manifestações sociais, espaços sociais, pois a gente vem de uma trajetória de 521 anos, todavia, minimizada pela mídia”, critica.

Esbell

Seis etnias indígenas de Roraima participam da mostra – Foto: Arquivo pessoal

Nascido em Normandia, Jaider Esbell é um artista e escritor macuxi. Em 2013 organizou o I Encontro de Todos os Povos. Desde então, ele assumiu um papel central para consolidar a Arte Indígena Contemporânea no Brasil.

Dessa forma, ele atua de forma múltipla e interdisciplinar, combinando o papel de artista, curador, escritor, educador, ativista, promotor, e catalisador cultural. 

A guerra dos kanaimés

Ao todo, Jaider apresenta quatro trabalhos na Bienal. A primeira está no pavilhão principal, batizada de “A guerra do kanaimés”.

“Produzi  11 telas inéditas para a Bienal com a figura do Kanaimé, que é uma entidade”, diz.

História do vovô Makunaima

Logo depois está a obra a “Historia do vovô Makunaima”, uma série de desenhos que são chamados por ele de proposta pedagógica.

“Fiz junto com o professor Charles Gabriel do Maturuca, em Uiramutã. Começamos a trabalhar com base na cosmologia. Neste trabalho apresento desenhos feitos de algodão cru”, explica.

Carta ao velho mundo

Jaider fala que essa é a Bienal dos Indígenas – Foto: Arquivo pessoal

Além disso, o artista apresenta o livro “Carta ao velho mundo”. Conforme Jaider, o objetivo da obra é denunciar a colonização do mundo de onde ela vem. A obra já foi apresentada em diversos países da Europa.

“Fui convidado em 2019 para fazer um circuito de arte na Europa. Para isso, comprei um livro de história da arte em uma loja de sebos antigos e comecei a redesenhar página por página. Com isso, apresento as denúncias da atualidade como garimpo na Amazônia, confusão, e todas essas coisas ruins que acontecem e com esse governo piorou”, afirma.

Conforme Jaider, na Bienal, cópias estão coladas em uma parede, bem como o livro está em uma caixa de vidro. “É basicamente denunciar a colonização do mundo de onde ela vem da Europa”, enfatiza.

Entidades

Por fim, o quarto trabalho do curador se chama “Entidades”. De acordo com ele, pode ser vista no lago do Ibirapuera.

“As figuras de cobras grandes de 17 metros já estiveram em Belo Horizonte em 2020. Agora, elas estão instaladas dentro do lago”, disse.

Por Yara Walker

Yara Walker

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