“Jaider Esbell: um makuna’imî entre nós” é o nome do livro que homenageia o artista da etnia Macuxi, que se tornou mundialmente conhecido. A obra reúne obras histórias de amigos sobre Jaider Esbell. O material foi lançado no último sábado (16), três dias antes da celebração do Dia dos Povos Indígenas.
Tradicionalmente conhecido como “Dia do Índio”, o termo foi modificado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados para atender uma demanda dos povos originários pelo termo correto: indígena. A proposta partiu da deputada federal Joênia Wapichana (Rede), primeira mulher indígena a ocupar o cargo.
Nascido na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Esbell se tornou um artivista. O termo combina arte e ativismo, pois é exatamente o que o movimento encabeçado por Jaider representa. Trata-se de artistas que praticam e se expressam politicamente através da arte.
Conhecido por pensar e produzir arte pela coletividade dos indígenas, Esbell foi encontrado morto no próprio apartamento em São Paulo em 2021, aos 42 anos e no auge de sua carreira. Ele foi responsável por introduzir mais indígenas na 34ª Bienal de São Paulo. Lideranças de diversas etnias o apontam como um influenciador para as novas gerações que vivem dentro e fora das comunidades.
A professora de Direito da Universidade Federal de Roraima, Priscilla Cardoso Rodrigues, descreve Jaider como “grande articulador e incentivador da arte indígena contemporânea brasileira”. Ela, que foi uma das organizadoras do livro, o aponta como responsável por inserir a arte indígena no cenário ocidental.
“Além de sua atuação nas artes plásticas, era intelectual, escritor, performancer e foi o principal responsável pela construção dos conceitos de artivismo e de arte indígena contemporânea”, descreve Priscilla.
De acordo com Arawak, amigo de Jaider que também participou da criação da obra, a ideia do livro foi reunir textos e remontar a trajetória do ativismo indígena.
“Esse espaço de militância de artivismo político dentro de Roraima também acaba ganhando o Brasil e o mundo. Jaider tinha um rede de artivismo mundial na qual ele tinha uma mobilidade de poder colocar em pauta a questão da política dos povos indígenas no contexto de Roraima, do Brasil e do mundo. Nós tivemos a belíssima ideia de fazer uma homenagem a ele pela sua genialidade e sua generosidade”, disse.
A obra tem como objetivo, segundo Arawak, de ser uma memória viva e materializada da vida de Jaider e marcar a presença da política indígena no Brasil e, especialmente, em Roraima.
“Onde as pessoas que coadunam com nossas ideias possam ter como parâmetro todo nosso trabalho de décadas frente a uma militância sempre ativa contra o Estado, contra a corrupção, contra o garimpo, contra tudo o que há de mais venal dessa violência social produzida contra os povos indígenas”, afirmou.
Conforme Arawak, Jaider foi porta-voz e representante legítimo dos povos indígenas. Ele denunciou as violências sofridas pelo grupo de maneira ímpar através da sua arte.
“Todo o conjunto da obra de Jaider Esbell é uma denúncia contra o Estado, é uma denúncia contra o modelo político, é uma denúncia contra a corrupção, é uma denúncia contra a devastação e a violência social produzida por esse país contra a as populações indígenas. O trabalho de Jaider está permeado desse conteúdo, dessa essência. Toda trajetória do trabalho de Jaider, de luta e de resistência”, pontuou.
Em 2016, Esbell venceu o Prêmio Pipa, um dos maiores prêmios do país no campo das artes visuais. Já em outubro do ano passado, o Centro Georges Pompidou, de Paris, adquiriu duas de suas obras denominadas “Carta ao Velho Mundo” (2018-2019) e “Na Terra Sem Males” (2021).
Em outubro do mesmo ano, ocorreu a inesperada morte de Jaider que impactou todos aqueles que o conheciam. Um trecho do livro declara que após um período de luto e reflexões, a obra de homenagem ao artista marca a retomada das lutas dos artivistas de Roraima.
Fonte: Lara Muniz, jornalista do Roraima em Tempo
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