Polícia

Compra de fita, mentiras e ameaças: veja detalhes do inquérito do caso Romano

As investigações do caso Romano dos Anjos têm detalhes de como os suspeitos agiram para sequestrar e torturar o jornalista.

Mais cedo, o Roraima em Tempo revelou com exclusividade que o deputado Jalser Renier (SD) é apontado pela Polícia Civil como o mandante do crime.

Contudo, conforme o inquérito, os militares que atuavam na organização criminosa arquitetaram o crime pelo menos duas semanas antes.

Detalhes do caso Romano

  • Paulo Cézar de Lima Gomes – (tenente-coronel);

Paulo é tenente-coronel aposentado e ex-membro das Forças de Operações Especiais da Polícia Militar de Roraima (PMRR).

À época do crime, comandava a Segurança Institucional da Assembleia Legislativa, bem como a equipe da Seção de Inteligência e Segurança Orgânica (SISO) da Casa. Pela função, ele recebia salário de R$ 11,3 mil.

Segundo a Polícia Civil, ele é um dos principais líderes da organização criminosa de Jalser. O inquérito revela que, no dia do atentado, ele verificou as rotas que seriam usadas pelo grupo para levar Romano até o Bom Intento, onde seria abandonado.

Além disso, Paulo também fez uma ligação pelo celular perto do local onde o carro do jornalista foi localizado, em horário próximo ao sequestro. Contudo, durante depoimento o militar alegou que estava em um shopping.

“Embora tenha dito que estava no shopping naquela noite, a representação afirma que, no momento da chamada telefônica, o investigado esteve em área mais próxima ao veículo e não no perímetro do shopping”, diz a juíza Graciete Sotto Mayor, ao mandar prendê-lo.

As investigações mostram, ainda, que ele pediu ao motorista para que comprasse fitas “silver tape”, as mesmas utilizadas para prender Romano e a esposa, Nattacha Vasconcelos.

Além disso, horas antes do crime, Paulo desmarcou com o motorista uma caminhada que faria às 18h.

O inquérito mostra ainda que o tenente-coronel determinou a um servidor da Casa que monitorasse carros da Polícia Federal, em “clara tentativa de antever possível investigação e atrapalhá-la”.

Em depoimento, ele confirmou a ordem e disse que era para acompanhar “eventual operação da PF na Assembleia ou na casa do presidente [Jalser]”. Naquele mês, o governador Antonio Denarium (PP) tinha pedido que a Federal assumisse o caso.

  • Vilson Carlos Pereira Araújo – (major);

Araújo é major da Polícia Militar e ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).

Segundo a Polícia Civil, Vilson organizou os policiais militares que trabalharam fazendo a segurança privada do deputado federal Ottaci (SD), aliado político de Jalser, quando concorria às eleições em 2020.

No dia crime, em 26 de outubro, o inquérito aponta que o major estava sem conexão de internet no celular. Contudo, no dia seguinte, ele se conectou à torre de telefonia próximo à casa de Romano para monitorar a residência.

Durante depoimento, Vilson mentiu e alegou que estava dormindo em casa no dia do atentado.

“Para a investigação, restou cristalina a prática do delito de corrupção passiva exercida pelo policial Vilson Carlos Pereira Araújo no tocante à coordenação e efetivação de pagamentos para um grupo de policiais militares realizarem atividade de segurança privada em comícios no período eleitoral de 2020”, cita o inquérito.

  • Clóvis Romero Magalhães Souza (subtenente);

Romero é policial militar da Força Tática e, à época do crime, estava lotado no SISO e também na segurança pessoal de Jalser. Ele foi promovido de sargento para subtenente no ano passado.

O nome de Clóvis também como condenado por violência doméstica no Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR). A sentença é de março de 2020.

Dias antes ao atentado a Romano, o inquérito indica que Clóvis procurou outro militar para propor que participasse do crime ordenado por Jalser.

Na noite do sequestro, ele estava com o celular desligado. No entanto, durante a madrugada, ele pesquisou na internet: “polícia já tem descrição do veículo usado no sequestro”. Além disso, a última localização antes de desligar o aparelho era próxima à residência de outro militar suspeito.

Conforme o depoimento de uma testemunha, Clóvis costumava usar um veículo Amarok, que é um dos modelos de carro utilizados no crime.

Em depoimento, Clóvis afirmou que trocou de celular e jogou fora o antigo aparelho, em data posterior ao sequestro, o que “demonstra o propósito de ocultação de provas”. “Clóvis estava aliciando pessoas para o cometimento do sequestro”, segundo a Polícia Civil.

No mês do sequestro, Clóvis recebeu da Assembleia Legislativa pelo desempenho da função militar R$ 4,3 mil.

Romano foi sequestrado e torturado no dia 26 de outubro de 2020 – Foto: Arquivo/Roraima em Tempo/Nonato Sousa
  • Gregory Thomaz Brashe Júnior – (sargento);

Gregory Thomaz Brashe Júnior é policial militar da Força Tática, e trabalhava como segurança de Jalser na época do atentado.

Conforme o inquérito, o militar usou o celular próximo à casa de Romano várias vezes nos dias anteriores ao crime. Para a polícia, ele estava levantando informações.

Na noite do sequestro, Gregory não usou o aparelho, contudo, ele recebeu uma mensagem no grupo de segurança de Jalser, que dizia:

“Éhhh… alguém da segurança do presidente aí, tem o contato ou então, tá em contato com o Romero? Preciso falar com o Romero U. U.”

Na manhã seguinte, o documento afirma que Gregory enviou uma mensagem pedindo para que o militar apagasse a mensagem.

“Ontem, antes do acontecimento [sequestro] aí… teve uma chamada com urgência… pra um dos seguranças do presidente da ALE, apaga essa mensagem lá… ow! Faz um favor!”, escreveu Gregory, na tentativa de ocultar a prova, conforme o inquérito.

No mesmo mês, Gregory recebeu da Assembleia Legislativa pelo desempenho da função militar R$ 4,3 mil.

  • Luciano Benedicto Valério – (ex-servidor da Assembleia);

Luciano também trabalhou na Casa no período em que Jalser era presidente. Conforme a polícia, ele utilizava dois celulares.

Dessa forma, Luciano usou um dos dispositivos no período de 16 e 23 de outubro próximo à casa de Romano.

“O dispositivo de rastreamento veicular do investigado, a partir do dia 21 de outubro, se conectou em torres de telefonia próximas à residência do jornalista, o que indica que estava monitorando as vítimas [Romano e Nattacha]”, destaca o inquérito.

Já no período das 18h do dia 26 e 10h do dia 27, horário do crime, o mesmo celular não registrou atividades.

Luciano era do setor de inteligência da Casa Legislativa, e aparece na lista de detetives particulares. Em depoimento, ele confirmou que o setor tinha dois veículos “velados”, inclusive com utilização de placas controladas.

  • Nadson José Carvalho Nunes – (subtenente);

Subtenente da Polícia Militar e membro do Bope, ele trabalhava na segurança pessoal da família de Jalser e estava lotado no SISO à época do crime.

Para a polícia, Nadson é um investigado de alta periculosidade, pelo domínio operacional e de inteligência. “Atuação ao longo da investigação demonstra histórico de potencial prejuízo à nova fase da investigação”, diz a juíza.

O suspeito também fez usou o WhatsApp na noite do crime, 26 de outubro, em uma rede de internet Wi-fi do escritório do deputado Jalser Renier.

De acordo com a polícia, ele acompanhou o depoimento da esposa do jornalista Romano dos Anjos na delegacia durante o registro do boletim de ocorrência.

Segundo o texto, na noite do crime, Nadson estava o tempo todo atrás de Nattacha, acompanhando o depoimento e conversando no celular com outro militar.

“Numa clara atitude intimidatória e se comunicando com os demais investigados sobre o que a vítima falava e se os implicaria”, diz a juíza na ordem de prisão.

Ainda conforme o inquérito, no dia em que Nadson recebeu a intimação para depor sobre o caso, ele foi até a casa de Romano, tirou uma foto e enviou para ele.

O jornalista interpretou a mensagem como “clara ameaça velada” e registrou um boletim de ocorrência. Depois, o suspeito se justificou, dizendo que era amigo das vítimas e queria visitá-las, o que foi negado por elas.

  • Thiago de Oliveira Cavalcante Teles – (soldado);

Policial militar da Força Tática, usou o celular próximo à casa da vítima diversas vezes dias antes do crime, o que indica que estava monitorando as vítimas.

Segundo a polícia, outros dois investigados que fizeram contato com Thiago, na tarde do dia 26, horas antes do crime, sendo eles Gregory Thomaz e Edielson Moraes Silva.

Além disso, Thiago recebeu mensagens de Nadson que vigiava o depoimento da esposa de Romano.

Por Redação

Josué Ferreira

Recent Posts

STF confirma benefício para mulheres vítimas de violência

Vítima terá manutenção do vínculo empregatício por 6 meses

38 minutos ago

Justiça condena empresário que foi flagrado com 103kg de ouro ilegal dentro de carro em Roraima

Bruno Mendes de Jesus foi preso em agosto deste ano na BR-401, em Boa Vista

57 minutos ago

Casal desaparece em Rorainópolis e carro é encontrado incendiado

Segundo a Polícia Civil, havia dois corpos carbonizados dentro do veículo, mas ainda não há…

1 hora ago

Blitz alerta motoristas sobre direção responsável nas festas de fim de ano em Boa Vista

Ação faz parte da campanha preventiva iniciada no último domingo, 14

2 horas ago

Bandeiras tarifárias começam a valer dia 1º janeiro; saiba como vai funcionar

Roraima Energia explica que as bandeiras tarifárias funcionam como um "semáforo" que indica se a…

2 horas ago

Mais de 600 mil professores da educação básica deixarão de pagar Imposto de Renda

Estudo mostra que, com o aumento da faixa de isenção para quem ganha até R$…

3 horas ago