A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um balanço de dois anos de pandemia. O relatório é do dia 9 de fevereiro. O objetivo é a melhor compreensão da evolução da pandemia no Brasil.
De acordo com o boletim, os primeiros casos de um novo Coronavírus (Sars-CoV-2) e uma nova doença causada pelo mesmo (Covid-19) foram identificados na cidade chinesa de Wuhan ao final de 2019.
Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou infecção humana pelo vírus como uma Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional.
A primeira fase caracterizou-se pela introdução do vírus e a detecção do aumento dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) nas primeiras semanas da pandemia em 2020. Sendo os casos mais frequentes em indivíduos acima de 60 anos.
Na primeira semana de março, o InfoGripe da Fiocruz já havia detectado um crescimento de casos que excedia o limiar pré-pandêmico.
A partir da segunda quinzena, a taxa de incidência de SRAG já sinalizava um nível de intensidade muito alta.
Ainda nas primeiras semanas de março, ocorreu a expansão da transmissão de capitais e grandes cidades em direção a áreas periféricas. Com isso, indicando um movimento gradual de interiorização.
Esse processo foi mais lento que o verificado em outros países, iniciando em fevereiro e perdurando até maio de 2020. O ritmo e o volume foram menores que os casos de SRAG. Dessa forma, sugeria uma acentuada subnotificação e carência de testes para diagnóstico.
Deram-se assim, os primeiros e importantes passos para o monitoramento e vigilância da pandemia.
Porém, foram também seguidos de esforços variados e pouco coordenados para uma melhor organização das ações da Atenção Primária em Saúde nos municípios. Igualmente, não houve sincronicidade na compra de respiradores no país.
A esta altura, as desigualdades estruturais já se evidenciavam, notadamente com o fato de mais de 90% dos municípios não disporem de recursos para o atendimento de casos graves de Covid-19, principalmente na Região Norte do país.
Os profissionais de saúde sofreram forte impacto com aumento de casos, sobrecarga de trabalho e dificuldades no manejo da doença, cuja fisiopatologia ainda não era suficientemente conhecida.
Os indicadores de transmissão estabilizaram-se. Nesta fase, a queda contínua do distanciamento físico seguiu-se do crescimento gradual de casos, bem como o crescimento de testes positivos. Além disso, também houve maior constatação de internação e mortes que estabilizaram em um patamar elevado.
Dessa forma, foi um período caracterizado por um alto nível de mortalidade, com cerca de 1.000 mortes diárias no Brasil.
As situações mais críticas de taxas de ocupação de leitos de UTI aconteciam neste momento. Particularmente em alguns estados da Região Centro-Oeste e Sul do país.
Como consequência, observou-se momentos de alta de óbitos, ocorridos mesmo fora de hospitais, o que detectou por um forte excesso de mortalidade.
A partir deste momento, houve a transição entre a primeira e a segunda onda da pandemia de Covid-19.
Ocorreu uma relativa redução do número de casos e mortes, ocasionada pelas medidas adotadas por vários governos estaduais e municipais. A população estava sendo instruída a fazer distanciamento físico e social, assim como a fazer o uso de máscaras.
Em novembro, os casos voltaram a crescer. Houve um maior impacto nas taxas de ocupação de leitos de UTI na região Sul, Centro-Oeste e novamente no estado do Amazonas.
Embora com variações espaciais, a média de idade do maior número de casos, internações e mortes estava acima dos 60 anos.
A idade média das mortes esteve acima deste patamar, impactando, principalmente, os mais idosos, além de pessoas com comorbidades.
Na quarta fase, teve início a segunda onda. Ela começou no verão e coincidiu com o período de festas de fim de ano e férias. O que acompanhou o relaxamento de medidas de restrição, principalmente nos meses de novembro e dezembro de 2020.
Do mesmo modo, foi nesse contexto que ocorreu o rápido crescimento e predominância da variante Gama, atingindo o ápice em abril de 2021.
Assim, ela atingiu valores muito altos de casos e mortes de março a junho, alcançando picos de até 3.000 óbitos por dia (pela média móvel).
Esta fase também destacou-se pelo colapso do sistema de saúde e pela ocorrência de crises sanitárias. Assim, combinando deficiência de equipamentos, de insumos para UTI e esgotamento da força de trabalho da saúde.
Por outro lado, o estado do Amazonas, onde as medidas de restrição foram fortemente atacadas no mês de dezembro de 2020, com a organização de manifestações contrárias, sofreu um novo colapso do sistema de saúde.
Pacientes morreram sem acesso aos cuidados necessários e, mesmo quando hospitalizados, por falta de oxigênio.
A crise no Amazonas foi o princípio da crise e colapso do sistema de saúde que se espalharia por todo país.
A campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil iniciou no dia 17 de janeiro de 2021. Inicialmente, com um pequeno número de doses disponível (6,2 milhões).
Somente a partir do mês de março o país conseguiu chegar a um volume suficiente para acelerar o processo de vacinação (27,5 milhões).
Esse avanço, contudo, não ocorreu com quantidade e velocidade necessárias para impedir o rápido crescimento e grande número de casos, internações e óbitos, bem como a crise e colapso do sistema de saúde, que atingiu o país entre março e junho.
Desse modo, mesmo possuindo um Programa Nacional de Imunização com mais de 40 anos de experiência na oferta de vacinas seguras e eficazes para todos os grupos populacionais a que são destinadas, a escassez de doses no início do processo, a divergência de calendários vacinais e de critérios de priorização de grupos entre estados e municípios contribuiu para atrasos e comprometeu a busca da vacina em outras localidades para a aplicação das segundas doses.
Dessa forma, não foi possível impedir a crise sanitária, mas foi possível testemunhar o impacto positivo do processo de vacinação. Ele contribuiu para reduzir o número de casos graves, internações e óbitos, principalmente entre os mais idosos.
Ainda mais, a quinta fase foi um período de redução do número de casos graves e mortalidade. Além disso, o sistema de saúde teve um consequente alívio.
Ao mesmo tempo em que a variante Delta crescia e se tornava predominante, foi possível verificar a efetividade da vacina na redução de transmissão e da gravidade de casos da doença.
A vacinação resultou na queda das taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos. Além disso, a queda da taxa de positividade de testes também pontuou menor transmissão do vírus como efeito da vacinação.
Dessa forma foi possível reduzir a média móvel diária de mortes para números próximos aos da primeira onda.
Em setembro, com 40% da população elegível vacinada, o Brasil alcançou uma média diária de 500 mortes, a metade do número alcançado na primeira onda. E em novembro, já com 60% da população vacinada, a média de óbitos diários era em torno de 250.
Uma nova onda de transmissão iniciou em dezembro de 2021. Coincidindo com o período de festas, férias, relaxamento de medidas de restrição e a introdução no país da variante Ômicron, que muito rapidamente se tornou predominante.
Esta fase foi marcada também por uma epidemia de vírus Influenza A, o que levou ao aumento de casos de SRAG.
Ao mesmo tempo, durante várias semanas a recepção de dados da vigilância foi interrompida. O que comprometeu o monitoramento e análise da evolução da pandemia.
Nesta fase, observamos um acelerado aumento no número de casos, precedido pelo aumento da positividade de testes com velocidade muito superior às primeiras ondas.
Isso resultou numa alta no número de mortes, ainda que em menores proporções, com taxas de mortalidade e letalidade mais baixas do que nas fases anteriores.
O Brasil ainda se encontra nesta fase. Há forte especulação sobre que momento da pandemia estamos vivendo, e se estamos caminhando para o seu fim.
O cenário atual, porém, ainda traz preocupação. A transmissão comunitária da variante aumentou o número de casos em níveis impressionantes desde o final de dezembro de 2021, com repercussão em janeiro de 2022.
O que explica que a vacinação impediu que as internações e óbitos subam em igual velocidade aos casos. O aumento súbito de doentes eleva, inevitavelmente, a demanda por serviços de saúde, com impactos nas taxas de ocupação de leitos de UTI.
A ocorrência de internações tem sido consistentemente maior entre idosos, quando comparados aos adultos. No entanto, vemos crescer em níveis preocupantes as internações de crianças.
Por se tratar do último grupo em que a vacinação foi iniciada, já em 2022, elas representam hoje a parcela da população com maior vulnerabilidade.
Após dois anos, num cenário de rápida transmissão de uma nova variante, especialistas tentam projetar cenários que sugerem o fim da pandemia.
A cada fase surgem novos desafios. Se no primeiro momento, o diagnóstico e tratamento adequado eram questões maiores, nas fases posteriores a adequação dos hospitais e demais estabelecimentos de saúde foram cruciais para a redução do impacto da doença.
A vacinação passou a ser parte do debate público no final de 2020, e hoje se coloca como prioridade para o controle da doença. No entanto, em nenhum momento foi possível afirmar que outras medidas coletivas, chamadas “não-farmacológicas”, pudessem ser rejeitadas, já que o distanciamento físico e o uso de máscaras constituem os principais meios de redução da exposição e infecção pelo vírus.
Na fase atual, assistimos ao monitoramento da dinâmica de transmissão da variante Ômicron, associado ao estudo genético de suas mutações, que sugerem um rápido crescimento de casos por conta de sua grande infectividade, estimando-se que sua capacidade de propagação seja cerca de 70 vezes maior do que outras variantes, como a Delta.
Alguns pesquisadores defendem que se trata de uma variante menos agressiva, uma vez que a ocorrência de hospitalizações e óbitos não acompanha a curva de crescimento de casos, ao contrário do que ocorreu com as variantes Gama e Delta.
Possivelmente, parte da explicação está na expansão da cobertura vacinal, cujo objetivo é exatamente impedir casos graves e fatais.
Alguns estudos têm apontado que os riscos de internação é mais de dez vezes maior entre pessoas
não vacinadas, comparado a pessoas que receberam pelo menos duas doses das vacinas.
De fato, a letalidade da Covid-19 nas primeiras ondas da pandemia se situava entre 2% e 3%. No momento, com a predominância da variante Ômicron e a maior parte da população adulta vacinada, esse indicador caiu para valores próximos a 0,3%.
No cenário atual, alguns países e agências de saúde já discutem a transição da caracterização da doença de pandemia para a endemia. Essa mudança não representa, de nenhuma maneira, a eliminação do vírus e da doença, nem a redução da adoção de medidas de proteção individual e coletiva.
Caso o país, neste momento, intensifique a oferta de vacinas, conseguiremos, em tese, impedir a transmissibilidade do vírus de forma comunitária por algum tempo.
Para que isso seja possível, é essencial pensarmos em quatro estratégias de saúde pública.
São medidas sobre as quais não há controvérsia, e possuem um histórico de utilização efetiva em outras sociedades, como a asiática.
Conforme a Fiocruz, é necessário reforçar este ponto, para que estas práticas sejam adotadas pela população de forma definitiva, mesmo que estejamos fora da pandemia.
Finalmente, o avanço da vacinação no Brasil, mesmo depois de um ano, não tem ocorrido de forma homogênea.
As evidências disponíveis mostram as diferentes realidades do avanço da vacinação no país.
Enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam elevado percentual da população imunizada, áreas da região Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda apresentam bolsões com baixa imunização para Covid-19.
São locais de menor Índice de Desenvolvimento Humano, populações mais jovens, menos escolarizadas, baixa renda e residentes em cidades de pequeno porte. Nestes locais, o fim da pandemia parece mais distante que em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, que já apresentam elevada cobertura vacinal com duas doses.
O Estado deve cumprir seus princípios de saúde gratuita, universal e equitativa (como deve ser qualquer política pública).
E mais do que nunca, cabe à ciência cumprir seu papel de comunicar, de tornar a verdade clara, para que a população, em sua forma mais plena, possa exercer o controle social, reivindicando por seus direitos fundamentais.
Fonte: Da Redação
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