Familiares e amigos de Carmem Elisa e da bebê Alice Eloah se reuniram na frente da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth na tarde desta segunda-feira (23).
Eles protestaram contra o atendimento prestado na unidade e pela mortes da paciente e da filha ocorridas recentemente. Os manifestantes pediram, sobretudo, Justiça.
Rodrigo Silva, esposo de Carmem e pai da recém-nascida, esteve no local e disse que vai buscar Justiça por sua família.
“Estamos aqui nessa causa não só ela minha esposa, mas por todas as mulheres que já perderam seus filhos. Tem muitas mulheres que não têm coragem. Têm medo porque muitos já perderam seus filhos na maternidade e abafaram o caso. Mas a minha [esposa] ela tem família. A Carmem tem família. E a família tá de pé e vai atrás, vai à luta atrás de justiça“.
Ele falou ainda de sua revolta com o posicionamento da Secretara de Saúde (Sesau) em culpar a vítima pela própria morte e prestar um péssimo atendimento.
“Eu fiquei muito revoltado quando nós demos entrada na maternidade ela ficou jogada numa cadeira de rodas. Isso me machucou demais… Eu pedi, implorava por atendimento urgente”.
Do mesmo modo, Aparecida Souza, que é do Núcleo de Mulheres de Roraima, defendeu a livre manifestação e ressaltou que apesar da luta em defesa das mulheres, a violência ainda é uma realidade principalmente em Roraima.
“Nós do movimento feminista nunca deixamos de lutar, todo o dia é luta, por isso é importante que a gente não se cale diante de tantas injustiças. A vida das mulheres importam, no entanto, importam para quem? Tem que importar para toda a sociedade para que ocorra mobilização. E, e uma lástima que a gente tenha autoridades tanto na Assemblei Legislativa, na Câmara e e inclusive algumas mulheres infelizmente que não lutam pela vida de outras mulheres. O estado de Roraima sendo recordista de violência contra a mulher. É como se a gente tiver um pé no colonial. Enquanto estamos nos mobilizando pela vida da Carmem, outras mulheres neste momento estão sofrendo violência, apesar de estarmos lutando. A gente não pode se calar diante da morta da Carmem”, desabafou.
Um recém-nascido morreu na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth no dia 14 de setembro. Para a família, tratou-se de um caso de negligência.
O pai do bebê e marido da paciente detalhou sobre o óbito da criança e afirmou que não havia oxigênio para a filha no local.
O homem relatou demora para o atendimento e também para encontrar oxigênio para a esposa. Segundo ele, o problema começou ainda na entrada da mulher na maternidade, com a dificuldade para conseguir um leito.
“Demoraram muito para atender ela. Médicos e enfermeiros não estavam apreensivos […] Ela estava entubada e respirando normal, a minha esposa. Depois que tiraram o tubo e trouxeram ela para respirar normal, o quadro dela começou a piorar e começou a ficar roxa. Eu chamei os médicos, os enfermeiros, mas teve uma hora que não tinha oxigênio na Ala das Orquídeas, não tinha oxigênio lá. Foram atrás em outra ala e não tinha oxigênio também lá. Caçaram muito esse oxigênio, demoraram muito para encontrar e poder levar ela para a sala da cesárea. Mas ela não estava mais respirando, estava ficando roxa. Demoraram muito para atender ela, para conseguir um leito. Ela estava com pressão alta e gritava muito, mas demorou muito para ela ser atendida”, disse o marido da paciente.
Ainda de acordo com Rodrigo, a esposa teve uma parada cardiorrespiratória. Na sequência, a mulher precisou passar por uma cesariana. O pai da criança afirma que, posteriormente, foi informado de que não havia oxigênio para o bebê.
“Mandaram eu sair, mas eu ainda consegui ver. Tentaram fazer a remoção da neném, aplicaram remédio nela para ela voltar. E foi a médica que falou para mim que não tinha oxigênio para a bebê, que só tinha oxigênio para a mãe e que não poderiam fazer nada. Isso é um descaso e falta de respeito. Lá na sala da cesárea, a médica me informou, ela falou para mim próprio que não tinha oxigênio lá na sala de parto cesariana”, relatou o pai da criança.
Após complicações no parto, Carmen Elisa precisou ser encaminhada para o Hospital Geral de Roraima. Conforme o marido dela, por falta de UTI na maternidade.
“Ela chega boa e agora está desse jeito, respirando por aparelho. Isso é um descaso. A Sesau disse que desmentiu, mas se eu estava lá, vi tudo, estou com a perda de uma filha e não estou aqui para mentir. Não quero nada, só quero Justiça”, exclamou Rodrigo.
O Roraima em Tempo chegou a questionar a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) sobre o porquê da transferência da mulher para o HGR, visto que o governador Antonio Denarium (Progressistas) afirmou, durante a inauguração da reforma do prédio da maternidade no dia 6 de setembro, que agora o local conta com cinco leitos de UTI materna. No entanto, a pasta não respondeu ao questionamento.
A Sesau publicou uma nota para tentar desmentir a família da paciente e acusar a imprensa de fake news. Contudo, várias pessoas demonstraram revolta na publicação.
“Fake News nada governador, respeita o povo roraimense , a família não iria conceder entrevista se fosse mentira. Mais empatia pelas mulheres”, disse uma internauta na página oficial do Governo de Roraima.
“Achei que a nova maternidade contava com leitos de UTI conforme pronunciado na propaganda do governo”, questionou outra pessoa.
Um outro internauta reclamou que o Governo de Roraima, conforme ele, só dá assistência ao povo em época de eleições.
“Vocês dão assistência em tempo de campanha né? Por quê nunca ouve nota sobre os fatos que vem acontecendo na maternidade, só quem entra lá dentro seja pra acompanhar ou dar a luz sabe como é. Ainda tem gente querendo dar a prefeitura pra esse povo”.
Por fim, a Sesau disse que que todos os protocolos médicos foram adotados de forma correta no atendimento da paciente e que a denúncia de óbito neonatal por falta de oxigênio não procede. Além disso, a pasta disse que durante o atendimento, foi verificado que a paciente realizou quatro consultas de pré-natal e nenhum exame apontou para quadro de hipertensão de diabetes, nem tipagem sanguínea, “aumentando os riscos de complicação de saúde”. A Sesau destacou que após estabilizar a paciente, os médicos realizaram uma cirurgia cesárea de emergência para salvar o bebê, mas o feto estava sem vida.
Fonte: Da Redação
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