A paciente Carmem Elisa Emiliano Silva morreu neste sábado (21) no Hospital Geral de Roraima (HGR) após uma parada cardíaca. Ela foi transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade após complicações durante o parto na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, recém reinaugurada pelo Governo do Estado.
Carmem estava sob os cuidados da equipe médica da UTI do HGR há uma semana. Ela teve eclâmpsia na maternidade e seu bebê morreu durante um parto.
De acordo com o pai da criança, não havia oxigênio no Centro Cirúrgico,o que pode ter sido definitivo para a sobrevivência da criança.
Rodrigo Silva, pai do bebê que morreu na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth no último sábado (14), detalhou sobre o óbito da criança na unidade nesta segunda-feira (16). Ele afirmou que não havia oxigênio para o recém-nascido no local.
O homem relatou demora para o atendimento e também para encontrar oxigênio para a esposa. Segundo ele, o problema começou ainda na entrada da mulher na maternidade, com a dificuldade para conseguir um leito.
“Demoraram muito para atender ela. Médicos e enfermeiros não estavam apreensivos […] Ela estava entubada e respirando normal, a minha esposa. Depois que tiraram o tubo e trouxeram ela para respirar normal, o quadro dela começou a piorar e começou a ficar roxa. Eu chamei os médicos, os enfermeiros, mas teve uma hora que não tinha oxigênio na Ala das Orquídeas, não tinha oxigênio lá. Foram atrás em outra ala e não tinha oxigênio também lá. Caçaram muito esse oxigênio, demoraram muito para encontrar e poder levar ela para a sala da cesárea. Mas ela não estava mais respirando, estava ficando roxa. Demoraram muito para atender ela, para conseguir um leito. Ela estava com pressão alta e gritava muito, mas demorou muito para ela ser atendida”, disse o marido da paciente.
Ainda de acordo com o Rodrigo, a esposa teve uma parada cardiorrespiratória. Na sequência, a mulher precisou passar por uma cesariana. O pai da criança afirma que, posteriormente, foi informado de que não havia oxigênio para o bebê.
“Mandaram eu sair, mas eu ainda consegui ver. Tentaram fazer a remoção da neném, aplicaram remédio nela para ela voltar. E foi a médica que falou para mim que não tinha oxigênio para a bebê, que só tinha oxigênio para a mãe e que não poderiam fazer nada. Isso é um descaso e falta de respeito. Lá na sala da cesárea, a médica me informou, ela falou para mim próprio que não tinha oxigênio lá na sala de parto cesariana”, relatou o pai da criança.
Após complicações no parto, a esposa então precisou ser encaminhada para o Hospital Geral de Roraima. Conforme o marido dela, por falta de UTI na maternidade.
“Ela chega boa e agora está desse jeito, respirando por aparelho. Isso é um descaso. A Sesau disse que desmentiu, mas se eu estava lá, vi tudo, estou com a perda de uma filha e não estou aqui para mentir. Não quero nada, só quero Justiça”, exclamou Rodrigo.
O Roraima em Tempo procurou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) para esclarecimentos e aguarda retorno.
A Sesau publicou uma nota para tentar desmentir a família da paciente e acusar a imprensa de fake news. No entanto, várias pessoas demonstraram revolta na publicação.
“Fake News nada governador, respeita o povo roraimense , a família não iria conceder entrevista se fosse mentira. Mais empatia pelas mulheres”, disse uma internauta na página oficial do Governo de Roraima.
“Achei que a nova maternidade contava com leitos de UTI conforme pronunciado na propaganda do governo”, questionou outra pessoa.
Um outro internauta reclamou que o Governo de Roraima, conforme ele, só dar assistência ao povo em época de eleições.
“Vocês dão assistência em tempo de campanha né? Por quê nunca ouve nota sobre os fatos que vem acontecendo na maternidade, só quem entra lá dentro seja pra acompanhar ou dar a luz sabe como é. Ainda tem gente querendo dar a prefeitura pra esse povo”.
Procurada, a Secretaria de Saúde afirmou que todos os protocolos médicos foram adotados de forma correta no atendimento da paciente e que a denúncia de óbito neonatal por falta de oxigênio não procede.
Além disso, a pasta disse que durante o atendimento, foi verificado que a paciente realizou quatro consultas de pré-natal e nenhum exame apontou para quadro de hipertensão de diabetes, nem tipagem sanguínea, “aumentando os riscos de complicação de saúde”.
A Sesau destacou que após estabilizar a paciente, os médicos realizaram uma cirurgia cesárea de emergência para salvar o bebê, mas o feto estava sem vida.
“Portanto, é totalmente inverídica a suposição de que teria havido falta de oxigênio, insumos ou qualquer outro procedimento necessário no atendimento à mãe e ao bebê. Ao contrário, a equipe de plantão realizou todos os procedimentos possíveis para salvar a mãe e o bebê do quadro de eclampsia”.
A Secretaria reforçou ainda que a maternidade possui rede de gases medicinais segura, além de suporte de cilindros de oxigênio para utilização em qualquer eventualidade.
Além disso, a pasta esclareceu que os prontuários de pacientes podem ser acessados na sala do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (Same) da unidade, no horário das 08h às 12h e das 14h às 18h.
Por fim, a Sesau informou que a paciente se encontrava na UTI do Hospital Geral de Roraima recebendo tratamento médico intensivista, mas não respondeu o motivo da transferência de Carmem para a unidade como questionado pela reportagem.
Já na noite deste sábado (21), após a mote de Carmem, a Sesau afirmou que a paciente deu entrada na Maternidade na madrugada do dia 14 de setembro, em estado gravíssimo, com sinais e sintomas clínicos e laboratoriais de pré-eclampsia e síndrome HELLP, uma complicação grave da gravidez que pode causar lesões em órgãos e levar à morte da mãe e do bebê.
Diante da situação crítica, recebeu a medicação padrão-ouro preconizada pelo Ministério da Saúde e após estabilização do quadro inicial, foi realizada uma cirurgia cesárea de emergência, na tentativa de salvar o bebê, que não apresentou sinais vitais ao nascer e não reagiu às tentativas de reanimação, sendo considerado natimorto.
A Pasta voltou a afirmar que a paciente não havia feito o pré-natal de forma correta. “É necessário informar que a paciente não havia feito pré-natal adequado, não realizou exames preconizados pelo Ministério da Saúde e não seguiu o protocolo para mulheres com histórico de pré-eclampsia anterior”.
Além disso, disse que solicitou instauração de inquérito e encaminhou o caso para o Conselho Regional de Medicina (CRM).
“A Sesau reafirma o compromisso com a transparência e a qualidade no atendimento prestado pelos servidores do quadro da rede estadual de saúde, razão pela qual solicitou da Polícia Civil instauração de inquérito para apurar o caso, uma vez que todos os procedimentos técnicos foram realizados e utilizados todos os componentes essenciais para preservar a vida humana e também encaminhou o caso o Conselho de Ética do CRM, responsável pela apuração da conduta dos profissionais envolvidos no atendimento em questão”.
E lamentou pela morte de Carmem.
“Por fim, a Sesau lamenta profundamente a perda de uma vida humana, pois a nossa missão é salvar vidas, com a realização de uma média de 750 partos todos os meses”.
Fonte: Da Redação
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