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Enfermeiro é detido com ouro na Terra Yanomami, diz Conselho

Um enfermeiro da Saúde Indígena foi detido com ouro na região de Sururucu, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, no dia 16 de julho.

A denúncia foi feita hoje ao Roraima em Tempo pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yekuana (Condsi-YY), Júnior Hekurari.

A suspeita é que o profissional esteja envolvido em um suposto esquema de aplicação de vacinas contra a Covid-19 em garimpeiros ilegais. A prática ocorre em troca de ouro.

“Durante uma revista, os agentes do Exército detiveram um enfermeiro com ouro. Como não tinha como prender, ele foi liberado e encaminhado para Boa Vista, mas apreenderam o ouro dele. Os próprios indígenas denunciam que o homem vacinou garimpeiros”, disse Júnior.

De acordo com o líder, o Distrito de Saúde Indígena Yanomami e Yekuana (Dsei-YY) está ciente do caso. Apesar disso, não tomou as medidas frente às denúncias.

“Há relatos de que os próprios servidores que trabalham com ele já denunciaram formalmente aos chefes de setores do Dsei-Y. Porém, não tomaram ação. Agora, a gente espera que a Polícia Federal tome uma atitude”, cobra.

Vacinas para garimpeiros

O Conselho denunciou no dia 15 de julho, um dia antes da detenção do enfermeiro, que vacinas destinadas para as regiões de Komamassipi, Parima e Homoxi, estariam sendo desviadas por equipes de saúde.

Conforme o órgão, os servidores vacinaram 106 garimpeiros ilegais. De acordo com o documento, a aplicação foi feita em troca de ouro.

“Foi pago para equipe de profissionais em torno de 15 g por vacina. A equipe não permite os indígenas falarem no rádio. Quando os mesmos retrucam sobre a vacinação em garimpeiros, é falado que a Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] autorizou”, cita.

Desde o início da campanha, em janeiro deste ano, a população indígena faz parte do Plano Nacional de Imunização (PNI). Porém, apenas 7.892 da população de 28.141 completaram o esquema vacinal.

“Muitos Yanomami não tomaram nem a primeira dose da vacina. Dessa forma, não sabemos como vai ficar a situação deles. Até agora o Dsei-Y não respondeu como serão feitas as investigações”, lamenta Hekurari.

Ainda de acordo com Júnior, a dificuldade de comunicação e o controle do território impede que os Yanomami denunciem os casos ao Conselho.

“Os garimpeiros controlam tudo, estão em toda a Terra Yanomami. A radiofonia é controlada pelos funcionários para não denunciarem eles. Assim, os Yanomami não conseguem se comunicar”, revela.

Nesse sentido, o Conselho enviou o documento ao Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal, Sesai e ao Dsei-YY. O órgão pede o afastamento dos profissionais.

Conflitos

A questão da vacina é algo novo em meio à pandemia. Junto a isso estão os conflitos armados na região. Há quase três meses, a Terra Yanomami é palco de ataques de garimpeiros contra indígenas.

A princípio, os órgão foram notificados da expansão da exploração mineral. Sem respostas, no dia 10 de maio houve o ápice da invasão, com garimpeiros atirando contra a comunidade Palimiú.

Depois disso, os garimpeiros dispararam contra Korekorema e Maikohipi, no entorno de Palimiú, e lançaram bombas de gás lacrimogêneo.

A escalada de violência fez o Supremo Tribunal Federal (STF) mandar retirar os invasores com urgência.

Desde o mês de junho, a Polícia Federal e outros órgãos fazem ações para cumprir a decisão. Mesmo assim, neste mês, os Yanomami denunciaram novos ataques.

Reflexos

Cerca de 20 mil garimpeiros estão ilegalmente na região. Em fevereiro, o governador Antonio Denarium (sem partido) aprovou uma lei que permitia a atividade em Roraima. Por isso, a exploração cresceu.

Em seguida, no mês de maio, a Hutukara Associação Yanomami mostrou imagens inéditas dos impactos ambientais causados pelo garimpo no Rio Uraricoera.

As análises de imagens de satélite indicaram um total de 2.430 hectares destruídos pelo garimpo, o que equivale a 24,3 milhões de metros quadrados.

Assim, no primeiro trimestre deste ano, a área destruída cresceu quase 200 hectares. Por outro lado, no ano passado, 500 hectares de floresta foram devastados. Com isso, 2021 deve ter um novo recorde de destruição.

Citados

A reportagem procurou o Exército Brasileiro, que negou as informações da detenção. Já Rômulo Pinheiro, Coordenador Dsei-Y, não respondeu a reportagem.

O Roraima em Tempo também contatou a Sesai e a Polícia Federal e aguarda retorno.

Questionado sobre o caso, o MPF disse que recebeu nos últimos meses denúncias de troca de vacinas por ouro em terras indígenas.

“A investigação está em curso e o órgão só se manifestará sobre o caso quando da conclusão da apuração ou eventual apresentação de denúncia”, finaliza.

Fonte: Da Redação

Samantha Rufino

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