Polícia Civil anuncia inquérito para investigar mortes de mãe e bebê na maternidade recém-inaugurada do Governo

Sesau acusou família de mentir e afirmou que gestante tinha feito apenas 4 consultas de pré-natal, o que foi desmentido pelo viúvo e comprovado pela UBS onde Carmem Elisa fez o acompanhamento da gestação

Polícia Civil anuncia inquérito para investigar mortes de mãe e bebê na maternidade recém-inaugurada do Governo
Delegado adjunto do 3 Distrito Policial de Boa Vista – Foto: Polícia Civil

A Polícia Civil de Roraima (PCRR) anunciou nesta quarta-feira (25) que instaurou inquérito para apurar as circunstâncias que envolveram as mortes da jovem Carmem Elisa, de 26 anos, que ocorreu no sábado, dia 21, no HGR (Hospital Geral de Roraima) e de sua bebê, na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth.

De acordo com o delegado adjunto do 3º DP, Matheus Fraga Lopes, o registro do Boletim de Ocorrência foi realizado a partir da comunicação da Sesau (Secretaria de Saúde).

Conforme o delegado, as investigações já estão em andamento. “Recebemos a notícia do falecimento da mãe e do bebê e, a partir disso, nos inteiramos dos fatos. Já tivemos acesso ao prontuário e iniciamos as diligências necessárias para entender a dinâmica de como tudo aconteceu”, disse o delegado.

Matheus ressaltou a importância de uma investigação cuidadosa, considerando a delicadeza do caso.

“Estamos apurando os fatos para determinar a possível responsabilidade de envolvidos e verificar se houve ou não algum tipo de conduta criminosa. Neste momento, não é aconselhável antecipar informações sobre as investigações em andamento, pois isso pode comprometer o andamento do processo. Mas é importante que a sociedade saiba que estamos apurando com toda a isenção necessária.”

Em sua fala, o delegado reafirmou o compromisso da PCCRR em esclarecer os fatos.

“Estamos atentos e comprometidos em esclarecer a situação, priorizando sempre a veracidade e a integridade das informações. Novos detalhes serão divulgados conforme a investigação avançar”, reforçou.

O caso

Um recém-nascido morreu na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth no dia 14 de setembro. Para a família, tratou-se de um caso de negligência. O pai do bebê e marido da paciente detalhou sobre o óbito da criança e afirmou que não havia oxigênio para a filha no local.

O homem relatou demora para o atendimento e também para encontrar oxigênio para a esposa. Segundo ele, o problema começou ainda na entrada da mulher na maternidade, com a dificuldade para conseguir um leito.

“Demoraram muito para atender ela. Médicos e enfermeiros não estavam apreensivos […] Ela estava entubada e respirando normal, a minha esposa. Depois que tiraram o tubo e trouxeram ela para respirar normal, o quadro dela começou a piorar e começou a ficar roxa. Eu chamei os médicos, os enfermeiros, mas teve uma hora que não tinha oxigênio na Ala das Orquídeas, não tinha oxigênio lá. Foram atrás em outra ala e não tinha oxigênio também lá. Caçaram muito esse oxigênio, demoraram muito para encontrar e poder levar ela para a sala da cesárea. Mas ela não estava mais respirando, estava ficando roxa. Demoraram muito para atender ela, para conseguir um leito. Ela estava com pressão alta e gritava muito, mas demorou muito para ela ser atendida”, disse o marido da paciente.

Oxigênio

Ainda de acordo com Rodrigo, a esposa teve uma parada cardiorrespiratória. Na sequência, a mulher precisou passar por uma cesariana. Ele afirma que, posteriormente, foi informado de que não havia oxigênio para o bebê.

“Mandaram eu sair, mas eu ainda consegui ver. Tentaram fazer a remoção da neném, aplicaram remédio nela para ela voltar. E foi a médica que falou para mim que não tinha oxigênio para a bebê, que só tinha oxigênio para a mãe e que não poderiam fazer nada. Isso é um descaso e falta de respeito. Lá na sala da cesárea, a médica me informou, ela falou para mim próprio que não tinha oxigênio lá na sala de parto cesariana”, relatou o pai da criança.

UTI

Após complicações no parto, Carmen Elisa precisou ser encaminhada para o Hospital Geral de Roraima. Conforme o marido dela, por falta de UTI na maternidade.

“Ela chega boa e agora está desse jeito, respirando por aparelho. Isso é um descaso. A Sesau disse que desmentiu, mas se eu estava lá, vi tudo, estou com a perda de uma filha e não estou aqui para mentir. Não quero nada, só quero Justiça”, exclamou Rodrigo.

O Roraima em Tempo chegou a questionar a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) sobre o porquê da transferência da mulher para o HGR, visto que o governador Antonio Denarium (Progressistas) afirmou, durante a inauguração da reforma do prédio da maternidade no dia 6 de setembro, que agora o local conta com cinco leitos de UTI materna. No entanto, a pasta não respondeu ao questionamento.

Ouça aqui o anuncio do governador sobre as UTI’s maternas:

Revolta

A Sesau publicou uma nota em que acusou a família de Carmem de mentir na denuncia e para intimidar a imprensa por divulgar a morte da criança. Contudo, o posicionamento causou revolta na publicação.

“Fake News nada governador, respeita o povo roraimense , a família não iria conceder entrevista se fosse mentira. Mais empatia pelas mulheres”, disse uma internauta na página oficial do Governo de Roraima.

“Achei que a nova maternidade contava com leitos de UTI conforme pronunciado na propaganda do governo”, questionou outra pessoa.

Um outro internauta reclamou que o Governo de Roraima, conforme ele, só dá assistência ao povo em época de eleições.

“Vocês dão assistência em tempo de campanha né? Por quê nunca ouve nota sobre os fatos que vem acontecendo na maternidade, só quem entra lá dentro seja pra acompanhar ou dar a luz sabe como é. Ainda tem gente querendo dar a prefeitura pra esse povo”.

Por fim, a Sesau disse que que todos os protocolos médicos foram adotados de forma correta no atendimento da paciente e que a denúncia de óbito neonatal por falta de oxigênio não procede. Além disso, a pasta disse que durante o atendimento, foi verificado que a paciente realizou quatro consultas de pré-natal e nenhum exame apontou para quadro de hipertensão de diabetes, nem tipagem sanguínea, “aumentando os riscos de complicação de saúde”. A Sesau destacou que após estabilizar a paciente, os médicos realizaram uma cirurgia cesárea de emergência para salvar o bebê, mas o feto estava sem vida.

Pré-natal

Além disso, a Sesau afirmou que identificou que a gestante teria realizado apenas 4 consultas de pré-natal. Fato esse desmentido pela Unidade Básica de Saúde que acompanhou a gravidez de Carmem.

Conforme a Prefeitura de Boa Vista, a mulher havia realizado 9 consulta de pré-natal. Ou seja, e a mais que o necessário.

Revoltado com a informação falsa da Sesau, o viúvo procurou a imprensa para divulgar um vídeo onde ele mostra todos os exames, a carteira da gestante e até mesmo a anotação na porta da geladeira que Carmem deixou com as datas da próxima consulta e exame.

Fonte: Da Redação

0
Would love your thoughts, please comment.x