Não podemos esquecer
O assunto sobre a crise dos Yanomami ainda é latente em todo o país. Mas também não é para menos. A situação tanto é grave do ponto de vista sanitário como político. Foram muitas mortes de adultos e crianças por causas que poderiam ter siso evitadas. Se o Governo Federal tivesse feito a sua parte em fiscalizar a presença de garimpos ilegais na Terra Indígenas, essa tragédia não teria alcançado tamanha proporção. E vale lembrar que, além do ex-presidente Jair Bolsonaro, políticos de Roraima podem pagar um preço alto pela indiferença com que trataram os Yanomami. Quando se fala em genocídio, algumas pessoas acham que pode ser um exagero. Mas imagina aí você ver pessoas da tua comunidade morrendo a cada dia… e os responsáveis por resolver o problema são justamente quem estão estimulando.
Mecias de Jesus
Quem deve estar preocupado é o senador Mecias de Jesus. Os indígenas o apontam como um dos responsáveis pela falta de remédios nas comunidades Yanomami. É que ele foi quem indicou os coordenadores do Dsei Yanomai nos últimos quatro anos. E, justamente nesse período faltaram muitos medicamentos para as comunidades. Conforme relatório do próprio Ministério da Saúde, houve um desvio de 90% dos medicamentos somente em um dos processos que o órgão analisou. E a empresa envolvida é a Balme Empreendimentos que também é investigada por desvio de recursos da Covid na Sesau. Mas voltando para Mecias, ele até gravou vídeo pedindo que a ministra Nísia Trindade olhasse a situação dos Yanomami com responsabilidade.
Requerimento
Mecais usa artifícios para de desvincular da crise dos Yanomami. Assim, em vez de trabalhar para apoiar os indígenas, ele quer saber de dinheiro. Tanto que fez um requerimento para pedir explicações sobre os recursos do Fundo Amazônia. Por que ele não faz um requerimento para investigar onde foi parar o dinheiro dos medicamentos dos Yanomami?
Repressão?
Denarium ganhou a eleição de 2022 e a população, como resultado, perdeu muito. Estão perdendo, inclusive, o direito de se manifestar. O Governo de Roraima usou a força militar na manhã de terça-feira (7) e apreendeu o equipamento de som de protestantes que estavam em frente ao Palácio Senador Hélio Campos. Classificados no concurso da PMRR estavam em frente ao local desde segunda-feira (6). Durante a manhã de terça, eles se surpreenderam com a presença da Polícia Ambiental. Os manifestantes ainda tentaram um acordo, mas mesmo com a proposta de reduzir o volume do som, os policiais levaram o aparelho.
A causa
A causa do incômodo: os manifestantes cobram uma promessa do governador Antonio Denarium (PP) de que eles seriam incluídos no cadastro de reserva. Mas segundo eles, passaram a ter dificuldades em dialogar com representantes do Governo após o período eleitoral. O concurso já vence hoje (9) e isso estava preocupando os manifestantes. Por isso, foram lá cobrar.
Flagrante
Aparentemente, Denarium só se importou com a população quando lhe foi conveniente: em época de campanha, para assim garantir a reeleição. A maioria dos eleitores o escolheram. Agora, todos os moradores de Roraima estão tendo que lidar com as consequências. Principalmente, aqueles que vivem no interior do estado. Um exemplo disso, é que os alunos da Vila Nova, no município de Amajarí, estão sofrendo com a superlotação de um transporte escolar, que se trata de uma picape de cinco lugares. Um vídeo feito por um pai mostra o veículo com oito estudantes. E é assim que eles percorrem o caminho para a escola. Diante dessa situação desagradável, eles cobram que o Governo do Estado forneça mais veículos para transportar os alunos em segurança. Ou seja, estão tendo que implorar pelo básico.
Comida ruim e com objetos dentro
A saúde de Roraima também parece abandonada. Não só pela infraestrutura precária ou falta de insumos. Muitos também reclamam da alimentação de baixa qualidade. Enquanto isso, a Sesau insiste em manter contrato com a empresa MeioDia Refeições, mesmo sendo alvo constante de reclamações.
Larva, grampo de cabelo e unha postiça
Esta redação acessou relatórios feitos por um nutricionista do HGR que revelou a falta de qualificação da empresa para fornecimento de alimentação aos pacientes e funcionários da Saúde de Roraima. Conforme um dos documentos, no dia 14 de dezembro de 2022, foi servido um pão contaminado com uma larva, durante o lanche da manhã, a um paciente internado no Bloco E. Já no outro relatório, datado no dia 24 de janeiro deste ano, o nutricionista informou que um servidor encontrou dois objetos estranhos semelhantes a um grampo e uma unha postiça nas marmitas. Devido a isso, o profissional sugeriu a suspensão do contrato com a MeioDia Refeições.
Vistoria
Além disso, uma vistoria no prédio da empresa, onde ocorre a produção da alimentação que é distribuída para 28 unidades de saúde do Estado, apresentou irregularidades sanitárias. As informações foram assinadas por uma agente sanitária e uma médica veterinária, fiscais do Departamento de Vigilância Sanitária Municipal de Boa Vista. Conforme o documento de vistoria, a iluminação da empresa está deficiente, o piso se encontra desgastado, abertura de comunicação da área interna com a externa, permitindo o acesso de vetores e pragas urbanas. O relatório apontou ainda que o ambiente não tem local de conforto nem depósito de material de limpeza. As fiscais identificaram necessidade de melhorias nas instalações sanitárias e a necessidade de intensificar o controle de pragas, entre outras medidas.
Abaixo-assinado
Já na quarta-feira (8), a reportagem recebeu um abaixo-assinado com cerca de 130 nomes de funcionários do HGR insatisfeitos com a alimentação servida pela MeioDia Refeições. O documento foi protocolado em dezembro de 2022 junto à Direção da unidade. Além disso, conforme os funcionários, o abaixo-assinado foi enviado à Sesau, que não providenciou uma solução para o problema.
Silêncio do MPRR
Para a situação ficar ainda mais indignante, os órgãos de fiscalização nada fazem para defender o povo e seus direitos. As reclamações de pacientes e servidores não são de hoje. Já tem cerca de 3 anos. Tempo suficiente para que o Ministério Público do Estado tomasse medidas enérgicas para que o Governo resolva o problema. Mas, infelizmente, o órgão parece estar todo esse tempo de olhos fechados, boca amarrada e ouvidos entupidos. O MPRR se limitou a dizer que instaurou procedimento de ofício em novembro de 2022. Ou seja, depois de muito tempo de denúncias na imprensa e na própria Sesau.