A Guiana apontou a presença de um navio militar venezuelano no território em disputa Essequibo, denúncia que os Estados Unidos classificaram como “inaceitável”.
As tensões entre os dois países, que disputam o território de Essequibo, uma região de 160 mil km² rica em recursos naturais, se intensificaram desde 2015, quando a ExxonMobil descobriu jazidas que conferem à Guiana algumas das maiores reservas de petróleo do mundo. Em comunicado, a Venezuela rejeitou as acusações e acusou o vizinho de divulgar declarações falsas.
Em discurso, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, afirmou que no último sábado, um navio patrulha da Marinha venezuelana entrou nas águas do país. Na declaração nas redes sociais, ele disse ainda que, durante a incursão, o navio venezuelano se aproximou de vários ativos nas águas do território guianense. E que a iniciativa gerava extrema preocupação.
Ali também disse que a Guiana colocou seus parceiros internacionais em estado de alerta. Isso depois que o navio venezuelano informou às embarcações que estavam operando em águas internacionais em disputa. Contudo, ele garantiu, que os FPSO estão operando legalmente dentro da zona econômica exclusiva da Guiana.
Licença
Em abril de 2024, a Guiana concedeu uma nova licença à gigante americana ExxonMobil. O que aumentou as tensões com a Venezuela, que classificou a autorização para explorar o bloco Stabroek como ilegal.
Como resultado, Caracas argumenta que se trata de áreas marítimas ainda não delimitadas. Agora, em comunicado oficial, a Venezuela afirmou que a Guiana mente ao dizer que as unidades da Venezuela violaram o território marítimo da Guiana. Isso porque “se trata de uma zona marítima pendente de delimitação conforme o direito internacional.”
A nota
Na nota, Caracas disse que as declarações de Ali estão repletas de “falsidades e imprecisões”, com o objetivo de gerar conflito e desestabilizar a região venezuelana. Isso referindo-se a ele como o “Zelensky caribenho”.
Do mesmo modo, o documento diz que a nova provocação busca escalar e perturbar a região, atendendo aos interesses belicistas da ExxonMobil, com o respaldo público de figuras patéticas como Luis Almagro[, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA)] e Iván Duque[, ex-presidente da Colômbia].
“O governo da Guiana está cometendo uma grave violação do direito internacional ao dispor de um território em disputa e conceder permissões ilegais para a exploração de recursos energéticos em uma zona marítima ainda não delimitada. A Venezuela exige que a Guiana cumpra suas obrigações internacionais segundo o Acordo de Genebra de 1966, que rege a controvérsia territorial entre ambas as nações.”
Aliado estratégico
Os Estados Unidos, um aliado estratégico de Georgetown, consideraram a incursão como inaceitável, classificando-a como “uma clara violação do território marítimo da Guiana, reconhecido internacionalmente”.
Em mensagem publicada na conta da Secretaria de Assuntos do Hemisfério Ocidental dos EUA no X, Washington advertiu que “qualquer provocação adicional resultará em consequências para o regime de Maduro”.
Contudo, o presidente guianense, por sua vez, reiterou que a Guiana “continua comprometida com a paz e o Estado de Direito”. Isso indica que o país buscará soluções diplomáticas.
Antecedentes
O caso de sábado ocorre após outro registrado em 17 de fevereiro, quando a Força de Defesa da Guiana denunciou que seis de seus soldados ficaram feridos em uma emboscada contra um transporte de suprimentos. O ataque seria supostamente de membros de uma gangue criminosa venezuelana. Na ocasião, o governo de Caracas classificou o episódio apenas como uma “vil encenação”.
O episódio, porém, coincidiu com o 59º aniversário da assinatura do Acordo de Genebra, firmado entre a Venezuela e o Reino Unido em 1966, antes da independência da Guiana, estabelecendo as bases para uma solução negociada para a disputa territorial.
No entanto, a Guiana rejeita esse acordo e, em 2018, pediu à Corte Internacional de Justiça que ratificasse o laudo arbitral de 1899. Ela definiu as fronteiras da região disputada, mas que o Acordo de Genebra anulou.
Em dezembro de 2024, o Reino Unido enviou o navio militar HMS Trent para a Guiana, um gesto que o governo de Nicolás Maduro considerou uma provocação e ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania.
A ação gerou temores de um conflito regional. No dia, a Venezuela mobilizou 5,6 mil militares em uma operação que incluiu caças F-16 e Sukhoi russos, navios de guerra, patrulhas oceânicas, lanchas armadas com mísseis, bem como veículos anfíbios.
Por fim, antes da chegada do navio britânico HMS Trent, os presidentes Ali e Maduro se reuniram em 14 de dezembro daquele ano em São Vicente e Granadinas. Ambos concordaram que seus governos não usariam a força em nenhuma circunstância.

