A família de Kamilla Cristiny de Oliveira Gouvêia, que estava grávida do segundo filho, alega que houve negligência médica no atendimento da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, em Boa Vista, o que teria resultado na morte do bebê.
Conforme a irmã da paciente, Karlla Oliveira, a gestação de Kamilla era de alto risco e acompanhada pelo Centro de Referência da Mulher. Após sentir dores, a paciente procurou a maternidade na última sexta-feira, 19, mas foi orientada a voltar para casa.
“Já era o segundo filho dela. A primeira foi a mesma coisa. Na época que ela teve a primeira, ela passou pela mesma situação e a neném já estava sofrendo. Fizeram uma cesariana e tiraram a neném. Tudo isso foi explicado para os médicos plantonistas que estavam na maternidade. A médica mandou a minha irmã voltar para casa e disse que ela não estava no tempo”, contou.
De volta à unidade
A mulher, que estava grávida de 9 meses, resolveu retornar à unidade no sábado, dia 20. Dessa vez, recebeu a orientação para retornar em dois dias, nesta terça-feira, 23. Segundo a irmã da paciente, a médica assegurou que nada aconteceria ao bebê.
“A doutora ouviu o coração do neném e a minha mãe percebeu que não estava batendo com frequência. Ele estava lento. Minha mãe questionou isso à médica. O que a médica falou foi que o aparelho estava com problema e que era assim mesmo. Ela falou assim ´você vai voltar para casa e quando for terça-feira, você já está no jeito de ter o neném’. Aí a minha mãe falou ‘doutora, ela já passou por essa mesma situação na gestação passada e o bebê já estava sofrendo. Foi quando fizeram uma cesariana’, e a doutora falou assim ‘você já pode voltar para casa porque ainda não está no tempo’ e a minha mãe falou ‘você pode me assegurar que não vai acontecer nada com o bebê?’ e ela disse ‘posso lhe assegurar’”, explicou.
No entanto, nesta segunda-feira, 22, ela voltou a dar entrada na maternidade, dessa vez, com sangramento intenso. Kamilla seguiu direto para o centro cirúrgico, mas o filho não resistiu.
“Quando viram, o cordão umbilical do bebê já estava preto. Foi uma correria, e nada do bebê chorar, ela perguntando por ele e ninguém falava nada. Depois o médico veio e falou que eles tentaram de tudo. (…) Todos nós estamos tristes, muito abalados pelo que aconteceu. O bebê estava perfeito. Eu ainda não consigo acreditar no que aconteceu. Poderia ter sido evitado”, disse a irmã emocionada.
‘Justiça’
Diante da situação, Karlla chama a atenção do Ministério Público para que o órgão investigue o caso. “Eu quero justiça. Eu sei que não vai mais trazer ele de volta, mas eu peço justiça”, salientou a mulher.
O que diz o Governo
O Roraima em Tempo entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) para esclarecimento. Em nota, a Pasta esclareceu que o tempo de trabalho de parto varia, em média, de 14 a 24 horas, com dilatação de aproximadamente 1 cm a cada duas horas, o que torna necessário o acompanhamento individualizado de cada caso.
No que se refere à paciente com 40 semanas de gestação atendida no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, a Secretaria informou que ocorreram três atendimentos: nos dias 17, 20 e 22 de setembro de 2025.
Nos dois primeiros atendimentos, a Secretaria ressalta que os protocolos médicos foram rigorosamente seguidos, incluindo exames físicos e monitoramento dos batimentos cardíacos do feto. Como não havia dilatação adequada e o quadro clínico estava dentro da normalidade, a paciente recebeu orientação médica para retornar ao domicílio.
Ainda conforme a Sesau, no dia 22, por volta das 8h30, a paciente retornou à unidade com queixa de sangramento vaginal. Após avaliação, a equipe médica não identificou batimentos cardíacos fetais, sendo constatado descolamento prematuro de placenta, uma condição grave que, conforme a literatura médica, está relacionada a fatores maternos e comorbidades, não à assistência hospitalar. Diante disso, a gestação foi interrompida imediatamente e, em seguida, a paciente encaminhada ao centro cirúrgico.
Foi realizada cesariana de urgência, que então confirmou o óbito intrauterino, com sinais compatíveis com morte fetal superior a seis horas.
A Sesau destacou, por fim, que lamenta profundamente o ocorrido, manifesta solidariedade à família e informa que a Comissão de Óbito da Maternidade vai analisar o caso, como parte do processo de investigação clínica e de aperfeiçoamento da assistência.
Fonte: Da Redação

