Moradores e pais de alunos da Escola Estadual Indígena Nossa Senhora da Consolata, na comunidade Manoá, em Bonfim, fizeram uma carta de repúdio à secretária de Educação Leila Perussolo, após ela demitir o gestor da unidade.
“Entendemos que tal atitude se configura como assédio moral e intimidação ao servidor. Também possui caráter político, uma vez que nossa escola passa realmente pela situação exposta na mídia”, diz a carta.
Conforme uma denúncia anônima enviada à redação, a secretária de Educação, Leila Perussolo, pediu a retratação sobre as denúncias. Contudo, a solicitação causou revolta na comunidade.
De acordo com o ex-diretor, a secretária o ameaçou de demissão caso não se retratasse e dissesse quem era o professor responsável pela filmagem do vídeo que mostra alunos estudando em um barracão por falta de estrutura na escola.
“A Secretaria de Educação queria que eu dissesse ao contrário. Eu preferi ser exonerado, assim, sai de cabeça erguida e lutando pelo que nós todos almejamos: uma educação de qualidade”, disse.
Além disso, somente 11 dias após a demissão do diretor, o tuxaua da comunidade se manifestou sobre o assunto. Ele convocou uma reunião.
O tuxaua afirmou que não havia se manifestado antes porque estava tomando melhor conhecimento do que ocorreu, pois se reuniu com a secretária Leila.
Dessa forma, ele marcou uma reunião extraordinária para esta terça-feira (22) com a presença da titular da Secretaria Estadual de Educação (Seed).
Pedido causou revolta
Revoltados, os moradores afirmaram que querem o melhor para os filhos na escola. E que o vídeo mostrou a real situação dos alunos.
Sendo assim, eles cogitam a substituição do tuxaua e também a realização de uma manifestação para pedir a saída da secretária.
Outro morador disse que não concorda que o diretor faça um novo vídeo se retratando e afirmou que já deviam ter denunciado a situação há mais tempo.
Desrespeito às escolhas indígenas
De acordo com o documento, a demissão do gestor desrespeita as leis que garantem os processos de organização social das comunidades indígenas.
“Gostaríamos, dessa forma, de lembrar que nossas decisões e direitos como comunidade foram feridos com a retirada sem o consentimento desta”.
Na carta, os pais de alunos e moradores de Manoá pedem à secretária que as decisões na comunidade sejam feitas com diálogo.
“Em nome da educação escolar indígena, do direito e respeito com os profissionais da educação escolar indígenas, alunos indígenas e pais, viemos de forma aberta e democrática, sem represálias solicitar a revogação de referido decreto e recondução do professor Alan Douglas ao cargo de gestor e abertura imediata de diálogo com a comunidade para esclarecimento do ocorrido”.
O documento ressalta ainda que, de acordo com as leis, um novo gestor para a escola teria que ter a aprovação da comunidade em assembleia.
Ao final, os moradores dizem que não se deixarão intimidar.
“Conclamamos a todos para que não nos deixemos abalar por essa ou qualquer outra atitude violenta cujo objetivo e os intimidar”.
Entenda o caso da mudança na escola
No dia 09 de março pais de alunos denunciaram a falta de estrutura na escola. Por conta disso, os professores ministram as aulas em um barracão. Ocorre que o local também é inadequado e é tomado pela chuva durante as aulas.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação (Seed), os alunos são do EJA, que deveriam estudar a noite e não durante o dia como mostra o vídeo.
No entanto, os pais dos alunos alegam que a escola não tem iluminação, o que inviabiliza as aulas no período noturno. Conforme um dos denunciantes, apenas uma lâmpada funciona na área externa da unidade. Os próprios moradores improvisaram o bico de luz.
A Seed disse ainda que não autorizou a gestão da escola a dar aula no barracão e que iria adotar as providências. No dia seguinte o governador exonerou o diretor.
Outro lado
A reportagem entrou em contato como Governo do Estado e aguarda resposta.
Fonte: Da Redação