Com o avanço tecnológico, a exposição de crianças e adolescentes a jogos online é crescente. Por conta da pandemia e do distanciamento social, a busca por distração é inevitável. Mas quando a diversão se torna uma obsessão, é preciso ficar em alerta para evitar o distúrbio gaming disorder.
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu na 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) o “Gaming Disorder” ou “Transtorno dos Games”.
A psicanalista Andréa Ladislau aponta os principais sintomas relacionados ao Gaming Disorder, distúrbio relacionado ao vício em games, e alerta a população.
Como ela explica, a doença é um tipo de distúrbio de descontrole dos impulsos com um forte componente de ansiedade generalizada.
Ou seja, um padrão de comportamento no qual a necessidade de jogar prevalece frente a outros interesses vitais na vida da pessoa afetada pelo transtorno.
Ainda segundo a psicanalista, a doença foi catalogada levando em consideração alguns critérios para que seja configurada como um distúrbio mental.
Dentre eles, a ansiedade, bem como a frequência e duração do tempo de utilização dos games são fatores determinantes para fechar um diagnóstico. O indivíduo se sente incapaz de controlar ou de colocar um limite no tempo em que realiza a atividade.
Tragédia relacionada ao distúrbio
Andréa Ladislau destaca o recente caso do jovem de 13 anos que matou a mãe, o irmão de 7 anos e deixou o pai gravemente ferido após uma discussão por notas baixas e a fixação do adolescente pelos jogos online.
O crime ocorreu no último dia 19 em Patos, interior da Paraíba. Os pais do jovem o proibiram de usar o celular para jogar. Por isso, ele pegou a arma do pai e disparou contra toda a família. O adolescente revelou ainda que era pressionado constantemente por causa de notas.
Pouco tempo antes do crime, o pai do jovem confiscou o celular dele. Ele aproveitou que o homem saiu para ir a farmácia e se dirigiu a um armário de ferro onde o pai guardava a arma. Logo depois, entrou no quarto em que a mãe dormia e atirou na cabeça da mulher.
Ao ouvir o disparo, o irmão de 7 anos tentou tirar a arma da mão do menino, mas ele conseguiu se desvencilhar. O pai chegou e tentou desarmá-lo, mas acabou baleado na coluna. Ao se deparar com a cena, o filho mais novo abraçou o pai e também foi atingido pelo irmão.
Causas do distúrbio
As causas do gaming disorder podem ser diversas, afirmou Andréa. Elas podem estar ligada à fuga de realidade, carência afetiva, procrastinação, baixa autoestima, bem como dificuldades de autocontrole, impulsividade, deficiência comunicativa, timidez em excesso, depressão, ansiedade, entre outras possibilidades.
Tratamento e cura
Com otimismo, a psicanalista certifica que há uma cura para o distúrbio e que a eficácia do tratamento será evidenciada de forma gradual.
“É preciso buscar ajuda de um profissional de saúde mental. Além de promover o autocuidado e com cautela, monitorar o contato com os jogos”, disse.
Ela ressalta que a organização da vida cotidiana com rotinas determinadas por graus de responsabilidade também tende a provocar benefícios em favor do emocional do ser humano.
“É importante se cuidar como um todo. Se alimentar adequadamente com qualidade, ter momentos de descanso e sono regulado, além de realizar atividades sociais que possibilitem a interação com outras pessoas, bem como praticar algum tipo de atividade física”, disse.
Andréa Ladislau aconselha que o mais importante é que a exposição aos games não ultrapasse o total de 3 horas por dia. A limitação tem o intuito de controlar o nível do comprometimento psíquico do indivíduo para que não ocorram recaídas.
“Tomando todos estes cuidados para preservar sua saúde mental, corpo e mente encontrarão o equilíbrio desejado”, pontuou.
Quando e como intervir
Em entrevista ao Roraima em Tempo, a profissional relata que crianças a partir de 4 anos são mais propensas a desenvolver o distúrbio, mas que até mesmo adultos são acometidos pela doença. Apesar disso, ela dá dicas de quando e como os pais devem intervir diante da situação.
De acordo com Andréa, os pais devem, primeiramente, ter conhecimento do que acontece com o filho. Se aquele momento da criança com o jogo é somente uma distração ou se já se transformou em um vício.
“Como a gente pode caracterizar algo como um vício? Quando começa a trazer prejuízos para a sua vida emocional ou para a sua vida social. Quando deixa de querer brincar com os amigos, come rápido porque quer voltar para o jogo ou não come. Também quando vai dormir cada vez mais tarde porque está ligado no jogo. Isso vai trazendo consequências e sintomas que é uma baixa autoestima, que é uma dificuldade de se autocontrolar, se torna uma pessoa impulsiva, dificuldade de se comunicar e pode desenvolver aspectos até perversos”, alertou.
Então, em um primeiro momento, os pais devem identificar se o hábito está trazendo prejuízos para a vida da criança. Logo depois, devem buscar a ajuda de um profissional de saúde mental.
“O profissional vai ajudar esse jovem a identificar que ele está indo em um caminho inadequado, mostrar para ele outras possibilidades de lazer e de ocupar o tempo para que ele comece a se desvencilhar”, aconselhou.
Fonte: Andréa Ladislau