O Roraima em Tempo recebeu a cópia de uma carta protocolada no Ministério Público de Roraima (MP) no dia 21 de março desse ano e que relata supostas arbitrariedades ocorridas dentro da Polícia Militar (PM) que atendem aos interesses do governador Antônio Denarium (PP) e do presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), o deputado soldado Sampaio (Republicanos).
As denúncias discorrem sobre agressões durante o curso de formação de soldados, bem como falta de alimentação por horas durante os treinamentos e até obrigatoriedade de participar de eventos do Governo do Estado e ALE-RR. Além disso, os soldados estariam sendo coagidos a fazerem postagens das ações de governo em seus perfis pessoais nas redes sociais.
Os policiais em questão não quiseram se identificar com medo de perseguições, mas o jornalismo do Roraima em Tempo procurou o MP e se certificou que as denúncias já foram recebidas e distribuídas à Promotoria de Justiça de Execução Penal, de Controle Externo da Atividade Policial e de Crimes Militares para investigação.
Interesses de políticos
Na carta, a denúncia evidencia que os alunos recém-formados no curso de soldado da Polícia Militar estão sendo escalados para atenderem os interesses de políticos, o que vai de encontro com a finalidade da formação. Além disso, eles apontam, ainda, que o comandante-geral, coronel Francisco Xavier está ciente das humilhações.
“Fui humilhado e tenho dificuldades para dormir. Foi criado um pelotão por parte dos superiores e com aval do comandante-geral, coronel Francisco, para punir os alunos com baixo desempenho ou aqueles que cometeram alguma infração. Passamos fome por várias vezes. Quem aparecia como salvadora da pátria era a presidente da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares, diretamente ligada ao presidente da ALE-RR Soldado Sampaio. Ela levava sopa e frutas e entregava para as pessoas”, revelou.
Outro policial recém-formado ouvido pela reportagem, e que do mesmo modo não quis se identificar por medo de represálias, reafirma que há excessos. Conforme ele, todos sabem que o treinamento para ingressar na Polícia Militar é importante para o crescimento profissional.
“O comandante e instrutores precisam entender que somos novatos. Não estamos fazendo um treinamento para a Força Tática ou para o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Lógico que com o tempo teremos experiência para passarmos por treinamentos pesados. Afinal, escolhemos a Polícia Militar e queremos permanecer”, disse.
Agressões e humilhações
A carta cita ainda a lavagem cerebral e a doutrinação excessiva ocorrida diariamente durante meses de curso. Além disso, cita um episódio em que um policial militar agrediu um aluno.
“Um sargento com um pau na mão surrou um colega que estava próximo de mim. O aluno dizia que não sabia o que estava fazendo ali e que não havia feito absolutamente nada. Uma aluna que participava do treinamento se tremia toda de medo”, afirma o denunciante em um trecho da carta.
Outro episódio relatado na denúncia ocorreu no dia da votação da cassação de Jalser Renier. Nessa ocasião, os alunos do curso de formação tiveram que sair da sala de aula para se juntarem aos cargos comissionados do Soldado Sampaio na manifestação contra o ex-deputado. De acordo com o texto, um grupo ficou dentro da ALE-RR e outro do lado de fora.
Ordens superiores para participação de inaugurações
A denúncia relata ainda que alguns alunos tiveram que procurar ajuda psicológica para continuar o curso de formação.
“Nossa situação está complicada. Cada superior aliado ao presidente da Assembleia tem assediado soldados recém-formados a fazer coisas que não estão dentro de suas atribuições. Temos que ir a inaugurações, como do anexo do HGR e ainda entregar cestas básicas para o Governo de Roraima. Ainda somos obrigados a fazer postagens do governo e do presidente da ALE-RR. Uma pessoa fiscaliza nossas redes sociais”, confirma o denunciante.
Medo das ordens e de perseguições
Por fim, o documento mostra a preocupação dos soldados em ter que continuar cumprindo ordens descabidas e que possam resultar em crimes. Dessa forma, eles relatam o medo de se negarem a cumprirem as ordens sob pena de punição ou perseguição interna.
“Não podemos nos negar a atender as ordens superiores por mais absurdas que sejam. Estamos com com medo de sermos obrigados a fazer alguma coisa que irá causar prejuízos a nossa carreira e vida pessoal.”, questiona o denunciante.
Outro lado
O Comando Geral da Polícia Militar de Roraima esclarece que desconhece e repudia qualquer tipo de agressão física cometida a algum aluno em formação e a qualquer pessoa que seja.
Esclarece ainda que não existe privação de alimentação durante os cursos, uma vez que as refeições são realizadas nos intervalos das instruções.
Os alunos soldados são devidamente escalados para cumprimento de serviço em diversos eventos, que fazem parte do estágio operacional do curso, sob a supervisão da Diretoria de Ensino e Pesquisa da Polícia Militar e Academia de Polícia Integrada.
A PMRR informa que ainda não foi formalmente notificada pelo Ministério Público e se coloca à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos.
ALE-RR e ASSOBPM
A redação também pediu posicionamento da Assembleia Legislativa, mas não obteve resposta. O Roraima em Tempo também tentou contato com Kézia Mendonça, presidente da ASSOBPM citada na denúncia, mas não conseguiu.
Fonte: Da Redação