Em “365 Dias: Hoje”, quando mais sexo tem, mais brochante fica

A coluna de hoje é a crítica de “365 Dias: Hoje”, lançamento da semana da Netflix. Boa leitura e boa sorte na sessão!

Em “365 Dias: Hoje”, quando mais sexo tem, mais brochante fica

“Cinquenta Tons de Cinza” (2015) fez escola. Está certo que o soft-porn (sexo não-explícito) já existia há décadas no cinema, ganhando contornos melhores nas mãos de cineastas provocativos, como Adrian Lyne (“9½ Semanas de Amor”) e Paul Verhoven (“Instinto Selvagem”). Só que, nestas obras, havia uma trama, um propósito, boas atuações, relações táteis e, de quebra, cenas bem quentes.

Já na obra de Sam Taylor-Johnson, trama é uma força de expressão colossal, já que tudo é mera desculpa para um sexo pretensamente ousado, mas bem mequetrefe. Propósito? Acabei de dizer sem querer. Atuações? Steven Seagal morreria de vergonha. Relações? Moça virginal, um ricaço, um contrato de submissão e é sobre isso. E as cenas quentes parecem aqueles videoclipes com edição rápida e música pop no fundo. E quanto mais a trilogia avançava, mais raiva eu sentia da minha perda de tempo.

Então, assisti a “365 Dias: Hoje”, continuação pior do sucesso de 2020. Acredite: depois de ver esse filme, você vai amar e pedir desculpas a “Cinquenta Tons de Cinza”.

Tentativas pífias

Laura e… quem é esse?

Vamos lá: a coisa toda começa com o casamento de Massimo (Michele Morrone) e Laura (Anna-Maria Sieklucka). Após um mal-entendido, Laura desaparece da vida dele, envolve-se com um misterioso jardineiro e Massimo faz de tudo para reencontrá-la. Tem um mistério que só avança nos minutos finais. Até lá, uma hora inteira de enchimento de linguiça disfarçado de filme erótico. A diferença é que as cenas de sexo são mais constrangedoras que excitantes. A do chantilly e a do golfe, por exemplo, dão muita vergonha, mas pelos motivos errados.

E cada vez que eles se movimentam sensualmente e começa uma música de fundo, já sabemos no que vai dar. Isso várias vezes ao longo de 111 minutos. Aliás, a fórmula de videoclipe passou de nível, no pior sentido, e passou a ser usado para quase tudo. Na cena em que Laura e sua melhor amiga vão a um restaurante italiano, tem musiquinha pop, câmera lenta e edição descolada até no simples caminhar à mesa para pedir uma refeição. Tentativas pífias de compensar a falta de ideias, só que com mau gosto e uma pobreza narrativa que cansam, mas cansam muito.

Mundo invertido

Laura e Olga: melhores amigas

Quem vai gostar da obra são as fãs do Massimo, que, vá lá, é bonitão mesmo. Já Laura nem deve ter fã, de tão sem sal. Os pais dela e a melhor amiga Olga estão a passeio na história (uma pena, já que atriz Magdalena Lamparska parece ser a única do elenco que sabe o que fazer). E Simone Susinna, o jardineiro, veste o velho estereótipo do misterioso sedutor, papel que já foi de Massimo no primeiro longa. Deixo por sua conta apreciar um desenvolvimento de enredo que não desenvolve, reviravoltas que não surpreendem e, pior, cenas de sexo que fazem brochar. Blanka Lipinska escreveu isso no mundo invertido e enviou o script por fax para cá, só pode.

Existe muita coisa tosca no cinema. Entretanto, filmes como “O Vingador Tóxico” (1984) e “Freddy vs. Jason” (2003) são propositadamente ruins e acabam ficando legais, justamente por abraçarem a própria esculhambação. “365 Dias: Hoje” é o pior tipo de filme ruim que existe: aquele que pensa que é bom. Quando acessar o catálogo da Netflix, cuidado para não apertar no cartaz dele sem querer (querendo!). Enquanto isso, “50 Tons” continua horrível. Depois dessa, porém, ficou até melhor.

 

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.

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