Na década passada, fiquei animadíssimo quando a Universal anunciou uma continuação da série “Jurassic” mais de uma década após “Jurassic Park 3” (2001). E minhas expectativas foram cumpridas, pois “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros” (2015) foi um grande recomeço e firmou Chris Pratt de vez como astro (processo iniciado no ano anterior com “Guardiões da Galáxia”). Além de um protagonista bacana, trazia novos dinos e conceitos (como um parque mais tecnológico e a domesticação de raptores), tudo com uma trama bem movimentada. Mesmo sem arranhar o clássico de 1993, foi uma aventura bem satisfatória.
Já sua continuação, “Jurassic World: Reino Ameaçado” (2018), é tão insossa que eu nem me lembrava de alguma coisa. E, sinceramente, não sei o que é pior para um filme: causar ranço ou não causar nada – que foi o que aconteceu. Pelo menos, o final é memorável. Não só porque o filme acaba, mas também pela reverência aos gigantes do passado e a possibilidade de discussão sobre a convivência deles no mundo atual. E tudo isso para quê? Para “Jurassic World: Domínio” (2022) jogar a oportunidade pela janela e não fazer absolutamente nada com esse gancho. Quer ação, efeitos e correria: pronto, você está em casa. Agora, quer um bom Jurassic? Tenho duas notícias: a boa e a má.
Novo panorama
A boa notícia é que a nova obra tem uma boa cena de ação, que está no trailer. Trata-se de uma perseguição nas ruas de Malta, com velociraptores correndo atrás de Owen (Chris Pratt), que pilota uma moto. É um momento bem coreografado pelo diretor Colin Trevorrow e que destaca a maior qualidade de “Domínio”: os efeitos visuais. Sobre as várias outras cenas (como a do avião), há certos momentos que nos fazem esquecer que estamos diante de computação gráfica e, com isso, a gente se envolve com os bichos. Posso estar enganado, mas a cena do bebê-dino me pareceu efeito prático, sem computação. Deu até um pouco de saudade da década de 1990, já que o elenco daquele tempo está de volta.
Agora segure-se, porque o resto do texto é a má notícia. Começando pela sinopse: os dinossauros estão vivendo com os humanos e os outros animais, com os governos ainda tentando controlar esse novo panorama de coexistência entre seres do presente e do passado. Contudo, o novo perigo para a humanidade é o surgimento de uma nuvem de gafanhotos geneticamente modificados (é sério!). Os insetos estão devastando as plantações, colocando a alimentação primária em risco, iniciando uma investigação do que está rolando com a empresa BioSyn, responsável pelo cativeiro de dinossauros.
Serviço pela metade
A única coisa boa que essa ideia de gafanhotos traz é a presença do trio principal do primeiro “Jurassic Park” (1993). Laura Dern, Sam Neil e Jeff Goldblum retomam seus papéis consagrados e saciam nossa nostalgia. No mais, o roteiro assinado por Trevorrow e Emily Carmichael começa, mas não completa nenhuma outra proposta, fora a ação. Os gafanhotos (que são o pontapé desse enredo) aparecem só até certo ponto. Os protagonistas começam a mostrar alguma coisa, mas depois são esquecidos no rolê, principalmente Claire (Bryce Dallas Howard). Entretanto, quem aparece mesmo é o próprio Owen, claro, e Maisie (Isabella Sermon), a garota que é fruto de experiência genética do longa anterior.
O pior de tudo é que nem os próprios dinossauros escapam desse serviço pela metade. As consequências da convivência com outros animais despertam uma curiosidade enorme (as cenas do coelho e da onça são lindas) e depois… pluft! Desaparecem para dar lugar a uma trama sobre pragas e – ainda – corporativismo, que tenta recarregar várias baterias ao mesmo tempo, com pouco sucesso. A própria Blue (uma raptor treinada por Owen) só faz uma participação especial. Do T-Rex ninguém quer mais saber. E a luta final é, definitivamente, a mais sem graça de toda a franquia. Tanto que, quando ela terminou, achei que emendaria com a “verdadeira luta”, que nunca aconteceu. Só acabou a história, créditos finais e a inevitável frustração.
Nada mais a dizer
É bem capaz que você diga “Ah, mas tem muita ação e era isso que eu queria ver mesmo!”. Tudo bem. Se você é fã de ação e dinossauros bem feitos, eu até recomendo que vá ao cinema, porque funciona como passatempo. Como eu não queria só um passatempo, não funcionou para mim. Eu desejava que a série mantivesse a característica que fez dela um encanto, que é o deslumbramento com os répteis gigantescos e a sensação de novidade. Não era a ação frenética que fazia a diferença. A trilogia original fazia a gente se segurar na poltrona com momentos de terror. No primeiro filme, com um copo de água tremendo; no segundo, com Julianne Moore em um vidro; e no terceiro, com o Espinossauro abrindo a boca.
A nova trilogia só acertou mesmo no primeiro. O segundo brecou e estagnou e o terceiro parece que está no segundo – até no final com a mesmíssima mensagem. E a cena de ação que elogiei lá em cima também tem um momento risível: a fuga de Claire de uma casa para outra é uma cópia de “O Ultimato Bourne”, mas com um dinossauro no lugar de Matt Damon – até na câmera atrás dele acompanhando o pulo. Isso só mostra que a série já deu. Acabou. Não tem mais o que dizer. Espero que “Jurassic World: Domínio” seja o último prego no caixão. Se for para ver mesmice, prefiro assistir aos filmes anteriores de novo. Não é que eu tenha achado ruim: eu só não achei nada. Não sei o que é pior.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Todo fim de semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.