60 anos de David Fincher: do “pior” ao melhor

A coluna de hoje é o Top 10 de um dos melhores diretores da atualidade: David Fincher, que completou 60 anos de idade. Boa leitura!

60 anos de David Fincher: do “pior” ao melhor

David Fincher é um dos maiores diretores da atualidade. Dono de um estilo visual e narrativo ímpar, ele nunca fez um filme ruim. Seu “pior” trabalho é, no mínimo, bonzinho. Entretanto, há outra peculiaridade: sua genialidade é alternada. Filme sim, filme não, ele sempre lança obras-primas do cinema. Sua estreia foi boazinha, mas seu segundo filme virou um clássico. O terceiro também é bom, mas o quarto entrou para a história… e assim sucessivamente.

Com isso, fazer um ranking de sua filmografia foi… meio fácil. Afinal, foram praticamente duas metades, separadas entre “obras-primas” e “obras normais”. O difícil é escolher qual da primeira metade fica em primeiro lugar, pois vai muito do gosto pessoal – independente do que a crítica diz.

Portanto, vamos comemorar os 60 anos de um dos meus cineastas favoritos, completados ontem. Abaixo, meu ranking com seus 11 filmes, do pior ao melhor. Se sua opinião é diferente, basta colocar seu ranking nos comentários. Se não assistiu ainda, divirta-se com as dicas!

11. MILLENIUM: OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES (2011)

Este bom thriller, sobre uma investigação a uma jovem desaparecida, é um remake de uma saga sueca. As duas versões são quase equivalentes em qualidade, com os fãs se dividindo sobre qual a melhor. Contudo, mesmo preferindo a de Fincher, é o trabalho dele com o qual eu menos me conectei. Daniel Craig e Rooney Mara vivem uma dupla improvável que busca solucionar o mistério, cada um a seu modo. Ele com o jornalismo, ela com as habilidades de hacker. Só que, ao contrário do original, nunca teve continuação.

10. ALIEN 3 (1992)

O terceiro “Alien” é injustamente execrado pela crítica. Pode até não ser uma obra-prima como os dois primeiros filmes, mas é claustrofóbico e aterrorizante. Além disso, tem uma identidade muito própria, com prisão espacial, Ripley careca, sacrifício na lava e a icônica cena que ilustra o texto. Aqui, a personagem de Sigourney Weaver precisa enfrentar não apenas a criatura que a persegue. É que ela é a única mulher no meio criminoso da colônia Fury 161. Verdadeiro cult das videolocadoras, foi um dos filmes que marcaram minha infância.

9. O QUARTO DO PÂNICO (2002)

Jodie Foster e uma jovem Kristen Stewart (com 12 anos na época) protagonizam esse suspense. São mãe e filha que tem a casa invadida por três assaltantes, mas elas se escondem no único cômodo onde eles não conseguem entrar. E, estranhamente, o único que eles querem invadir de verdade. De toda a filmografia criminal de Fincher, “O Quarto do Pânico” é o menos ousado e mais, digamos, normal. Mesmo assim, sua narrativa prende a atenção do espectador e reafirma seu talento como contador de histórias.

8. GAROTA EXEMPLAR (2014)

Amy Exemplar é uma das personagens mais peculiares do cinema contemporâneo. Afinal, a atuação meticulosa de Rosamund Pike é uma daquelas felizes ocasiões em que uma atriz teve o papel desenhado para ela. Assim, “Garota Exemplar” é um suspense do jeito que Fincher gosta: tem um mistério que parece insolúvel, mesmo com várias pistas, feito com um perfeito artesanato criminal. Tudo para contar o desaparecimento da Amy, em que o marido (Ben Affleck) se torna o principal suspeito. E Neil Patrick Harris surpreende em um papel dramático

7. O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (2008)

Primeiro filme do cineasta a ganhar Oscar e, também, o mais bonito. Em todos os sentidos, do primor técnico à sensibilidade. Brad Pitt interpreta um homem com uma condição surreal: ele envelhece ao contrário, tendo nascido velho e rejuvenescendo aos poucos. Condição essa que se torna um empecilho para sua relação amorosa com Daisy (Cate Blanchett), já que ambos vivem em sentido opostos. Além do trabalho de maquiagem e efeitos visuais extraordinário, a obra aborda a brevidade da vida com muita delicadeza.

6. VIDAS EM JOGO (1997)

A obra menos conhecida de Fincher foi lançada no intervalo entre “Seven” e “Clube da Luta”. Desta vez, ela é mais famosa por causa do ator, não do diretor. No caso, Michael Douglas em um de seus melhores papéis. Ele faz Nicholas, um banqueiro traumatizado e solitário que aceita participar de um jogo. A partir de então, ele passa a ser perseguido e a sofrer atentados reais, o que põe em cheque à natureza desse jogo. Filmaço que tem uma atmosfera sufocante e cheia de tensão.

5. MANK (2020)

A história do roteirista Hermann Mankievicz (Gary Oldman) não conta apenas sobre a gênese do clássico “Cidadão Kane”. Afinal, é um passeio pelo sistema da antiga Hollywood e mostra como os verdadeiros criadores eram descartáveis, no meio do glamour. O melhor: mostrado em uma reconstituição de época sensacional, bem como um preto-e-branco belíssimo, que intensifica essa viagem no tempo. Por isso, essa pequena aula sobre o cinema americano foi meu vice-campeão em duas listas minhas: a do Top 10 de 2020 (veja aqui) e a dos indicados ao Oscar 2021 (aqui).

4. ZODÍACO (2007)

David Fincher fez um dos melhores filmes de serial killer do cinema fazendo algo inédito: não transformando o assassino em um astro. Claro que as duas tramas paralelas (a da polícia e a da imprensa) levam ao dito cujo, que matava casais e enviava enigmas para a delegacia. Entretanto, o foco está nos personagens de Jake Gyllenhal, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo, todos em atuações excepcionais que foram ignoradas pela Academia. Assim, é um filme sobre a impotência perante a impunidade, não sobre um assassino. Esse nem merece nota de rodapé.

3. A REDE SOCIAL (2010)

Um dos melhores filmes da década passada é lembrado, até hoje, como um dos maiores injustiçados pelo Oscar. Isso porque “A Rede Social” é um estudo antropológico sobre as relações sociais contemporâneas. Um olhar ácido sobre uma sociedade que se sente mais à vontade olhando um computador (ou um celular, nos dias atuais) que nos olhos de uma pessoa real. Roteiro esplêndido, direção segura, edição esperta, trilha sonora pontual e um elenco coletivamente dedicado. Portanto, uma obra-prima que fica cada vez mais atual.

2. SEVEN: OS SETE CRIMES CAPITAIS (1995)

Faça a seguinte pergunta a quem já assistiu a vários filmes de psicopatas homicidas: qual a conclusão mais chocante que você já viu? A chance de responderem “Seven” é gigantesca. Na verdade, não é só o final em si, mas toda a construção desse conto macabro, sobre uma pessoa que mata de acordo com o pecado da vítima. Morgan Freeman e Brad Pitt formam uma das maiores duplas policiais do cinema em um filme surpreendente, desolador e com um grau de morbidez só visto em filmes de terror. Isso que é inovação.

1. CLUBE DA LUTA (1999)

Quando digo que “Clube da Luta” é um filme único, não é força de expressão. De fato, não existe nada na Sétima Arte que se pareça com ele. Enfim, não dá para descrevê-lo em poucas linhas e nem sei se existe gênero para ele. É a história de um homem apático e viciado em clínicas de reabilitação, sempre fingindo ser alguém que precisa do grupo. Sua vida muda quando: 1) apaixona-se por outra impostora que encontra em uma das clínicas, Maria (Helena Bonham Carter); e 2) conhece o vendedor de sabonetes Tyler Durten (Brad Pitt), que o apresenta ao clube do título.

Misture isso à criatividade visual, metalinguagem brutal, insanidade narrativa e mensagens subliminares. Bem como quebra da quarta parede (quando o personagem fala com o espectador), uma crítica social ferrenha e um final tão bizarro quanto poético. Tudo orquestrado por uma equipe que se alinhou com o sangue nos olhos do diretor. Por fim, não existe outro filme como “Clube da Luta”. E, provavelmente, nunca existirá.

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema. 

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