Cidades

Condições de estradas em Alto Alegre dificultam cotidiano da população

As péssimas condições de acesso às estradas do município de Alto Alegre, ao Norte de Roraima, tem prejudicado o cotidiano de vários moradores. O Roraima em Tempo percorreu trechos das estradas da Vila do Paredão e conversou com a população para saber quais os principais problemas que as comunidades enfrentam.

Em todo o percurso é possível ver que apesar do fim do período de chuvas, há muita lama. Em um dos trechos tem até pedaços de para-choques deixados para trás, possivelmente pelas condições de trafegabilidade do local.

Além disso, na Vicinal 9 o carro da reportagem atolou e só conseguiu sair do trecho com a ajuda de um trator agrícola. Anteriormente, moradores da região se uniram para arrumar a estrada no ponto conhecido como ‘Buraco’.

Carro da equipe do Roraima em Tempo atolou no percurso – Samantha Rufino

Moradores da região reclamam que as condições da estrada os impedem de adquirir um transporte, pois quebra com rapidez e facilidade, deixando apenas prejuízo.

“Pegamos um ‘girico’ [trator agrícola], colocamos diesel, ajeitamos aquele pedacinho e o carro passou até aqui. Nós não queremos nem asfalto, basta uma estrada para a gente tirar a produção. Aqui todo mundo tem o sonho de ter um carro, mas é pagar um carro de R$ 160 mil e com três dias vender por R$ 50 mil”, argumenta Cleiton de Lima, um dos produtores da vila.

Morando há 25 anos em Alto Alegre, na Vicinal 7, Francisco dos Santos, de 67 anos, conta à reportagem que o problema é recorrente e por isso deixou de produzir. Agora o homem vive apenas da criação de gado.

“Todo mundo já tomou prejuízo aqui, ninguém quer vir para cá porque a dificuldade é muito grande. O camarada compra uma moto, um carro e se acabam nessas estradas. Hoje eu estou aguentando e continuo aqui por causa da criação de um gadinho”, explica.

Morador anda com bomba para encher pneu da motocicleta

Para conseguir chegar ao destino final, o agricultor Kennedy Borges, de 50 anos, morador da Vicinal 9, um dos pontos mais críticos da vila, já anda com uma bomba para encher o pneu da motocicleta. Além disso, cita a falta de assistência do governo.

“Aqui não tem moto que aguente. Passa uns dias e já está toda quebrada. Já perdi muita produção. Não é fácil! Depois vamos cobrar na prefeitura e eles jogam para o governo, chega no governo eles jogam para a Prefeitura, ficam fazendo a gente de bola”, reclama.

‘Sufoco’

Além disso, a falta de estrutura não afeta só a produção rural, mas a qualidade de vida dos moradores. Francisco relembra que, devido a problemas de saúde, já passou mal e enfrentou as péssimas condições das estradas para conseguir atendimento médico.

“Sai daqui de quadriciclo com minha esposa me segurando enquanto eu desmaiava no caminho. Eu estava com a glicose muito baixa. É muito arriscado porque a qualquer momento um carro pode virar por aqui e acabar com a vida da gente. Espero que um dia apareça um Governo que olhe para as pessoas de Alto Alegre”, relata.

Marineide de Oliveira, de 53 anos é produtora rural e mora há sete anos no Paredão. Ela veio do Pará em busca de novas oportunidades, contudo, agora precisa conviver com a falta de infraestrutura das vicinais.

Assim como Francisco, ela relembra que já passou por problemas de saúde e precisou de atendimento. Porém, só conseguiu sair da vicinal com apoio do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR).

“Essa estrada ficou tão ruim que só conseguimos sair com ajuda deles. Saímos doentes e até atolamos, mesmo com a caminhonete traçada ela atolou. Os bombeiros ficaram na cor da lama. Chegamos em Boa Vista, mas até lá o sufoco é muito grande”, disse.

A dona de casa Raimunda Carvalho, de 57 anos, também mora na vicinal há cinco anos e diz que saiu da sede de Alto Alegre para o Paredão após a chegada da energia. A mulher mora com o marido e netos em um lote e produzem apenas para subsistência. Ela conta que durante o inverno a situação fica pior.

“Eu tenho pressão alta e morar num lugar assim sem estrada é complicado. Os meus filhos não queriam nem que eu ficasse aqui por causa disso, mas eu pensei: vou continuar aqui, quem sabe as coisas melhoram. E estou aqui”, afirma.

Pontes intrafegáveis

Ponte da vicinal 7 – Samantha Rufino

Outro problema é a ponte que está localizada na vicinal 7. A estrutura cedeu em agosto e desde então os próprios moradores improvisaram com tábuas de madeira para continuarem tendo acesso à sede do município, bem como às outras vicinais.

“Um rapaz estava passando por aqui e quando ele terminou de subir de caminhonete a ponte desabou. Os outros vizinhos vieram aqui e colocaram essas tábuas e só assim voltou a passar carros e motos, só que todo mundo passa com medo de cair. Eu pelo menos não passo, quando chega aqui eu desço da moto, vou andando e meu marido vai na moto. É muito perigoso”, fala Marineide.

Por fim, ela diz que gosta de morar em Alto Alegre e que quer continuar no local, mas para isso faz um apelo às autoridades.

“Esperamos que os governantes façam alguma coisa, porque todo ano é a mesma coisa. Na época de eleição, todos vêm aqui, prometem, tiram foto e vão embora. Depois esquecem que nós existimos. Por isso, estamos pedindo socorro, venham fazer o trabalho de vocês. Eles estão nos negligenciando!”, pede.

Sem reparos

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, Ilzenir Vale, conhecida como Mana do Paredão, mora na região há 14 anos. Ela diz que já relatou os problemas da localidade para o governador Antonio Denarium (PP).

Contudo, até o momento as estradas continuam na mesma situação e sem previsão de início das obras. Por conta disso, Mana disse à reportagem que já pensou em deixar o lugar.

“Eu saí daqui em um trator de lâmina para chegar em Boa Vista. Nos pontos mais críticos, eles baixam a lâmina para ir raspando a estrada e treme tudo. Nesse dia, eu quase chorei de dor na coluna e pensei: meu Deus, o que estou fazendo aqui? Quando cheguei fiquei uma semana de cama. A gente cansa”, recorda.

Ela reclama ainda que as recuperações feitas pelo Governo de Roraima não são suficientes, pois com o período de chuvas, todo o trabalho é desfeito.

“Eu expliquei ao governador que esse barro vermelho que eles jogam na estrada não tem serventia para nós. Toda recuperação que é feita é a mesma coisa. É fácil para o empresário chegar e pegar o barro vermelho da beira da estrada, mas quando chove meu amigo, só quem mora no Paredão que sabe. Agora vai chegar o verão e eles vão fazer a mesma coisa”, diz.

Kennedy também fala que em algumas ocasiões os maquinários nem chegaram a iniciar os trabalhos, o que causa mais revolta na população.

“Sempre vem maquinários para arrumar, eles dizem que o maquinário vai arrumar tudo, todas as vicinais. A máquina vem, fica 90 dias lá em Alto Alegre, às vezes ele vêm até com o pneu furado. Quando vence o contrato vão embora e não fazem o que tem que fazer, mas com certeza aquelas máquinas ganharam dinheiro. Falta um representante para fazer barulho”, afirma.

Citado

Ao Roraima em Tempo, a Secretaria de Infraestrutura (Seinf) informou que contratou duas empresas para executar as manutenções de pontes e vicinais na região.

“Esclarece ainda que o contrato com as duas empresas tem vigência de um ano, período de execução das obras nas vicinais e pontes do município de Alto Alegre”, afirma.

Por Samantha Rufino

Rosi Martins

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