A falta de oportunidade limita a integração socioeconômica das mulheres refugiadas e migrantes em Roraima.
Conforme divulgado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) uma pesquisa em conjunto com a ONU Mulher, e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) aponta que 10,2% das venezuelanas em Roraima possuem ensino superior e homens apenas 2,4%. No entanto, não há emprego para elas.
Dessa forma, mesmo com maior escolaridade, elas têm menos da metade das chances que os homens possuem de irem para outros estados do Brasil com a garantia de um emprego.
Das mais de 66 mil pessoas venezuelanas interiorizadas desde 2018 pela Operação Acolhida, as mulheres com VES correspondem a apenas 3% dos casos, contra 7% entre os homens, de acordo com dados oficiais divulgados em janeiro de 2022.
‘Informalidade’
Como resultado, sem rede de apoio, as mulheres, em especial as que possuem filhos, permanecem mais tempo nos abrigos, desempenhando papeis de cuidado.
Ainda segundo a pesquisa divulgada pelas agências da ONU, as mulheres representam 54% da população que permanece nos abrigos no estado. As taxas de desemprego chegam a quase 34% contra 28% entre os homens.
‘Cuidadora do lar’
Conforme explicado pela gerente ONU Mulheres, Mariana Salvadori, é visto que o papel da mulher como cuidadora do lar é ressaltado mesmo que ela possua uma escolaridade maior.
“Percebemos que ainda é muito forte o papel da mulher como a cuidadora da família e da casa. Mesmo com maior escolaridade, a maioria das mulheres que conseguem participar da interiorização o faz pela modalidade de reunificação familiar, e não com vaga de emprego sinalizada. Isso reflete na dificuldade de integração socioeconômica dessas mulheres, com níveis mais altos de desemprego e de informalidade, tanto entre as abrigadas quanto entre as que conseguem ir para outros estados.”
Dados do desemprego
Ainda, acordo com os dados divulgados, enquanto o desemprego alcança 9% dos homens venezuelanos interiorizados, entre as mulheres este índice é de quase 30%.
Já a informalidade laboral alcança o dobro de mulheres interiorizadas – 22% contra 11% dos homens ouvidos pela pesquisa.
Esses dados, refletem assim, em uma realidade diária: homens que são interiorizados com emprego e que deixam as esposas com as crianças nos abrigos. É o caso de Johandry, de 28 anos.
Há dois meses, o esposo conseguiu um emprego e foi para Curitiba. Ela segue aguardando pela interiorização, cuidando dos três filhos, sem perspectiva da data de partida.
Ela conta com doações e com empregos informais nas raras vezes que consegue alguém que cuide da filha menor, de quatro anos, enquanto os dois filhos estão na escola.
“Na Venezuela, trabalhei por quatro anos, mas aqui, as pessoas dizem que, mesmo que se busque trabalhar com o mesmo que se trabalhava lá, não dá, é muita pouca vaga de emprego. O emprego que nós conseguimos é de faxina, que pagam por diária. […] Era um dia sim, um dia não, intercalado. Mas R$ 30 era muito pouco porque tinha que pagar para que cuidassem da minha filha, não era suficiente, e também não era com carteira assinada”, lembra Johandry.
Mudança de cenário
A ONU Mulheres e o UNFPA, financiados pelo Governo de Luxemburgo, iniciou em setembro do ano passado, o programa conjunto Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes.
Logo, o objetivo é garantir que políticas e estratégias de empresas públicas, privadas e instituições fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre essas mulheres.
Fonte: Agência da ONU para Refugiados