Roraima teve a taxa de 8,3 homicídios de mulheres para cada 100 mil habitantes em 2021, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Esta é a maior taxa do Brasil. Além disso, o documento aponta que Roraima teve a segunda maior taxa de violência doméstica e quase dobrou o número de estupros de vulneráveis em comparação a 2020.
Outros dados de Roraima sobre violência:
- Roraima é o pior Estado em registros estatísticos de violência do país
- Número de mortes violentas em Roraima cresce em 2021, aponta anuário
Em números reais, houve 26 casos de homicídios de mulheres em 2021 em Roraima. Esta violência aumentou 57% em comparação a 2020, quando houve 16 registros. Este foi o segundo maior aumento do país, ficando atrás apenas do Amazonas, que teve variação de 59%.
As tentativas de homicídio de mulheres apresentaram aumento de 43%. Foram 87 registros em 2021 e 59 em 2020.
Para a socióloga especialista em Segurança Pública Carla Domingues, Roraima carece de políticas públicas de proteção e combate à violência contra a mulher. Para ela, medidas simples poderiam diminuir os índices.
“A falta de políticas públicas é evidente em Roraima. As ações são pontuais, não são efetivas e essa ausência nos torna vítimas duplamente. Desse jeito vamos observar uma crescente de violência. Esses números são alarmantes e o governo deveria ficar de olho e procurar entender esse contexto e trabalhar políticas em defesa da mulher”, explicou a especialista.
Já os casos de feminicídio, quando a mulher é assassinada em razão de ser mulher, o estado apresenta leve redução. Foram nove registros em 2020 e cinco em 2021. As tentativas de feminicídio também reduziram de oito para cinco.
Ainda no recorte por gênero, Roraima apresentou elevação de 18% nas ameaças contra mulheres. De 2020 para 2021, o número cresceu de 2.226 para 2.713.
Violência doméstica e 190
Roraima também está no pódio do país quando se trata da taxa de violência doméstica, conforme o Anuário. Com 456 casos para cada 100 mil habitantes, o estado é segundo colocado. Em primeiro, está o Mato Grosso com 534. Enquanto em terceiro, aparece Rondônia com 445.
Em números reais, o estado dobrou o número de casos de violência doméstica tendo registrado 1.435 em 2021 e 709 em 2020.
“O cenário retratado no presente Anuário Brasileiro de Segurança Pública evidencia a queda de crimes letais contra a mulher, mas não a diminuição da violência: houve um sensível aumento das denúncias de lesão corporal dolosa e das chamadas de emergência para o número das polícias militares, o 190, ambas no contexto de violência doméstica”, diz trecho do anuário.
A violência doméstica é a agressão praticada dentro de casa. Ela pode ser contra crianças, idosos e, comumente, mulheres. Dos 51.335 chamados para o 190 em 2021, quase 10% foram para casos de violência doméstica.
Embora o número possa ser considerado alto, o número de chamados ao 190 por violência doméstica apresentou leve redução quando comparado a 2020. À época, houve 51.088 chamadas e 5.460 foram por violência doméstica.
Conforme Carla Domingues, só manter a polícia nas ruas não é o suficiente para combater a violência e diminuir os índices. Ela reforça que é necessário reduzir a carência de políticas públicas que Roraima tem.
Casos de estupros crescem 24%
Os estupros de vulneráveis quase dobraram, aumentando de 290 para 423 casos registrados. Por outro lado, os casos de estupro tiveram uma redução de 11%, caindo de 132 para 121.
Dessa forma, quando somados, os dois tipos representam aumento de 24%. Sendo um total de 544 casos de estupro em 2021 e 422 em 2020.
“No Brasil, 9 em cada 10 vítimas de estupro tinham no máximo 29 anos quando sofreram a violência sexual, mas com forte concentração na infância. Se considerarmos as crianças e adolescentes entre 0 e 13 anos, que automaticamente são enquadradas como vulneráveis, temos 61,3% de todas as vítimas, com forte concentração na faixa de 5 a 9 anos, que representa 19,1% das vítimas, e de 10 a 13 anos, que reúne 31,7% dos registros.”, explica trecho do anuário.
Ainda conforme o levantamento, Roraima tem 83 casos de estupros para cada 100 mil habitantes, sendo a segunda maior taxa do país. Em primeiro, aparece Mato Grosso do Sul com 86. E em terceiro, está o Acre com 64.
Uma informação não fornecida por Roraima para o anuário é sexo das vítimas de estupro. Dessa forma, não há como saber quantos homens e meninos, que costumam ser minoria das vítimas, sofreram este tipo de violência no estado em 2021.
De acordo com o Anuário, também não há informações sobre violência contra a comunidade LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais) em Roraima. O estado tem o pior registro de dados do país e peca na transparência, ainda conforme o estudo.
Além disso, o Roraima em Tempo checou os levantamentos do Grupo Gay da Bahia (GGB) e Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e, em ambos, também não há registros em Roraima no ano de 2021.
Violência psicológica e perseguição
Casos de violência psicológica, stalking (perseguição) e divulgação de cena de estupro não tiveram dados apresentados em 2020, conforme o anuário. No entanto, em, 2021 houve registros de 3.013, 49 e 5, respectivamente.
“Pela primeira vez, este Anuário coletou dados referentes ao crime de divulgação de cena de estupro/estupro de vulnerável, sexo e pornografia”, explica o anuário.
Os casos de violência psicológica e stalking também são inéditos no estudo que é publicado desde 2017. Isto porque os dois crimes foram inseridos no Código Penal em 2021.
Fonte: Da Redação