Venezuelanos improvisam acampamento na fronteira para entrar no Brasil

Na quinta-feira (15), mais de mil venezuelanos aguardavam há mais de uma semana por atendimento no pela Operação Acolhida

Venezuelanos improvisam acampamento na fronteira para entrar no Brasil
Situação de abrigamento de imigrantes preocupa agências que atuam em Roraima – Yara Walker/Roraima em Tempo

Sem dinheiro para hospedagem, venezuelanos dormem em acampamentos improvisados embaixo de coberturas de estabelecimentos comerciais em Pacaraima, Norte do estado. Eles ficam em frente ao Posto de Interiorização e Triagem da Operação Acolhida à espera de atendimento para entrar no país.

Após o Governo Federal autorizar a reabertura da fronteira com a Venezuela, no dia 24 de junho deste ano, o fluxo migratório de venezuelanos se intensificouO Roraima em Tempo registrou, na quinta-feira (15), um grande número de imigrantes que procura abrigo há mais de uma semana.

De acordo com informações obtidas com o Exército, do quantitativo que aguardava atendimento, cerca 200 pessoas já haviam sido atendidas e seguiram viagem. Outras 1,1 mil ainda esperavam a regularização.

Espera

É o caso do Rafael Iro, 37 anos, e dos filhos dele Adrian, Ariane e Oneide de 16, 15 e 10 anos. Eles aguardavam há vários dias o atendimento no acampamento improvisado junto a outras dezenas de famílias venezuelanas.

Rafael Iro e os filhos Adrian, Ariane e Oneide/Yara Walker/Roraima em Tempo 

“Estamos comendo e dormindo aqui. Não temos lugar para tomar banho e temos pouco dinheiro para a alimentação. Vendi todos os meus bens, televisão, geladeira e vim com meus três filhos. Vou procurar emprego para sustentar meus filhos, mas enquanto isso esperamos atendimento para poder conseguir abrigo”, relatou.

A estudante Leisana Isabel veio junto com os amigos Wimer Rodrigues e Danny Andrés. Todos deixaram familiares na Venezuela e enfrentaram um longo percurso para chegar até a fronteira. Ela explicou que alguns imigrantes conseguiram tomar banho nos abrigos, entretanto, ela e dezenas de pessoas que estavam acampadas não tomavam banho há vários dias.

Leisana Isabel, Wimer Rodrigues e Danny Andrés/Yara Walker/ Roraima em Tempo

“Foram sete dias para chegar aqui em Pacaraima e já estamos há quase uma semana sem comer bem, sem banhar. Às vezes conseguimos usar os banheiros dos comércios. Estamos enfrentando tudo isso para entrar no Brasil para ter um futuro melhor para mim e meu filho. Cuido do meu filho sozinha. Tive que deixá-lo, pois não queria que passasse necessidade, mas vou voltar para buscá-lo. Estou há oito meses sem trabalhar na Venezuela e aqui vou procurar trabalho para ter uma vida melhor”, destacou.

Bloqueio e reabertura

No dia 18 de março de 2020, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu bloquear a entrada de venezuelanos devido à pandemia da Covid-19. Contudo, o fluxo nunca foi totalmente interrompido, já que os estrangeiros usavam rotas clandestinas – as trincheiras – para chegar até o Brasil

Após mais de um ano, o trânsito entre Pacaraima e Santa Elena de Uairén foi autorizada no dia 24 de junho. Desde então, vídeos e imagens mostram milhares de pessoas à espera de legalização para ser atendido pela Operação Acolhida.

A Casa Civil do Governo Federal explicou que a decisão de reabertura é para ajudar na legalização de estrangeiros e intensificar o processo de interiorização. A Operação Acolhida informou, no mesmo dia, que inicialmente o número de imigrantes a passar pelo Posto de Triagem na fronteira seria de no máximo 100 por dia.

Posto de Triagem em Pacaraima

Desde 2018, mais de 1,3 milhões imigrantes já foram atendidos no Posto de Interiorização e Triagem em Pacaraima. O controle, de acordo com a Acolhida, agora é feito a partir de uma triagem para evitar mais casos de Covid-19.

Por Yara Walker

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