Dá para ser estranho e romântico ao mesmo tempo? Se depender dos roteiristas de Hollywood, sim. Já vimos muitos clássicos do cinema que estão entre os filmes mais românticos do século passado, como E o Vento Levou, Casablanca, A Um Passo da Eternidade, Titanic… Enfim, casais normais em histórias de amor impossíveis (teoricamente, pelo menos).
Por outro lado, histórias fora do comum podem, sim, ser muito românticas também. E, pode acreditar, existem muitas. Porem, na lista abaixo, selecionei cinco filmes com casais estranhos que estão entre os mais românticos do século XXI. Se eu fosse você, não subestimaria o potencial dessas histórias, porque elas dão um banho de romantismo em várias obras mais convencionais – que, aliás, já abarrotam as listas de romances no cinema em geral.
São para ver e se apaixonar com esses casais. Ou, quem sabe, até se identificar com algum personagem. Afinal, todo mundo tem, pelo menos, um pé fora da caixa, não é?
BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (2004)

Casal estranho: um homem e uma mulher que decidem retirar as memórias que cada um tem sobre o outro
Trama: Joel (Jim Carrey) decide contratar uma empresa especializada em apagar memórias específicas para esquecer sua namorada Clementine (Kate Winslet), após descobrir que ela já tinha feito o mesmo. Porem, ele se arrepende depois que processo já iniciou e trava uma batalha mental contra o procedimento, a fim de não perder o amor de sua vida de vez.
Por que é romântico? Nenhum outro filme mostrou o quão profundo é o poder da conexão sentimental, de forma tão maluca. O cineasta Michel Gondry criou uma fábula de duas pessoas perdidas que se esbarram, apaixonam-se, ficam magoados e, no fim, escolhem o esquecimento. O que eles não sabem é que não há o que ser “corrigido”, pois o amor entre eles já foi construído e não pode ser derrubado nem por eles mesmos, nem por qualquer um que tente substituir essas memórias. E não é assim quando encontramos a pessoa certa?
Disponível: em aluguel digital (infelizmente, saiu da Netflix).
A GAROTA IDEAL (2007)

Casal estranho: um rapaz tímido e uma boneca de plástico
Trama: Lars (Ryan Gosling) é um rapaz tímido e socialmente isolado que compra uma boneca sexual na internet e a apresenta à família como sua namorada. Para não magoá-lo, todos ao redor entram na onda e decidem tratar a boneca como uma pessoa real.
Por que é romântico? O filme mostra muita empatia e sensibilidade ao explorar uma pessoa disposta a dar amor, mas que parece não ter jeito de fazer isso com outro ser humano. Só que, por mais bizarra que seja a ideia de Lars, nunca o julgamos. Ao contrário: achamos fofo. E, ao longo da obra, descobrimos o quanto ele precisava disso para se descobrir. Uma obra feita não só para ver com a pessoa amada, mas que tambem rende um bom trabalho acadêmico de Psicologia.
Disponível: Amazon Prime Video.
WALL-E (2008)

Casal estranho: um robô sujo que coleta lixo e uma robô de alta tecnologia.
Trama: Em um mundo tomado pelo lixo, Wall-E é um robozinho feito para compactar e organizar esse lixo. Sua rotina muda quando a robô EVA chega na Terra com uma missão secreta e ele acaba se apaixonando.
Por que é romântico? Mais um da instituição “fofura”, Wall-E não é só um dos filmes mais românticos deste século, como é tambem uma lição sobre o valor das coisas simples e – por incrível que pareça – sobre nossa humanidade. O casal é uma versão robótica daquele tipo em que um é calmo e a outra, temperamental. Embora as tentativas atrapalhadas de impressionar EVA pareçam em vão, ela passa a valorizá-lo gradualmente e se fecham como um casal de opostos que se combinam. E duvido você não se derreter com a cena do “beijinho” no espaço – simbolizado por um pequeno choque.
Disponível: Disney+.
ELA (2013)

Casal estranho: um escritor solitário e um sistema operacional com voz feminina
Trama: O escritor Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) compra um novo sistema operacional auxiliar – tipo Alexa ou Siri – com personalidade própria, chamada Samantha (voz de Scarlett Johansson). Inesperadamente, ambos se apaixonam: homem e “máquina”.
Por que é romântico? É irônico dizer isso, mas o filme exalta o amor justamente ao mostrar a falência das relações humanas e nossa aproximação cada vez maior da tecnologia. Ao ponto até de se apaixonar por um sistema operacional, que se torna a companhia perfeita para Theodore e, ao mesmo tempo, um amor impossível. Afinal, Samantha despertou nele algo que nenhuma pessoa real conseguiu, mas que não pode ser consumado. Uma obra tão romântica quanto visionária, que levanta questões comportamentais que ficam ainda mais atuais com o tempo.
Disponível: em aluguel digital (inclusive, dentro do Amazon Prime Video).
A FORMA DA ÁGUA (2017)

Casal estranho: uma faxineira muda e um monstro aquático.
Trama: Na década de 1960, a zeladora de um laboratório secreto do Governo encontra uma criatura aquática aprisionada e tenta libertá-lo. Durante o salvamento, ela se apaixona pelo monstro.
Por que é romântico? Aqui é a hora em que os humilhados são exaltados e, de quebra, unidos pelo amor. Guilhermo del Toro usa esse casal bizarro para celebrar os diferentes, as minorias, os excluídos, os esquecidos. O jeito com que um percebe – e entende – o outro é tão assustador quanto encantador. E a cena final é um dos takes mais bonitos dos últimos anos, com somente ambos iluminados, pois só eles importam. Viu como dá para ser estranho e romântico ao mesmo tempo?
Disponível: Disney+.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.

