Todo mundo já sabe que a fase 4 da Marvel foi a pior de todas e 2022, o pior ano de todos (falei nessa matéria aqui). Tanto que a própria cultura de super-heróis no cinema começou a ser questionada, baseado em uma suposta saturação do subgênero. Eu sou do time que acredita que esse desgaste não é de filmes de super-heróis, mas de filmes RUINS de super-heróis. O Universo Cinematográfico Marvel (MCU) foi algo muito produtivo e inovador na indústria do entretenimento, mas seu sucesso qualitativo (no cinema, pelo menos) durou até a Saga do Infinito. Depois disso, algo se perdeu.
Claro que o produtor Kevin Feige acertou em cheio em sua idealização e execução, mas se lembraram demais das conexões entre os filmes e se esqueceram dos filmes em si. Mesmo que os longas das fases anteriores também servissem ao propósito maior, muitos deles ainda tinham personalidade. Só que, a partir da fase 4, só Sam Raimi conseguiu manter sua assinatura, salvando Doutor Estranho no Multiverso da Loucura da desgraça total, fazendo parecer que era impossível outro diretor voltar a deixar sua marca.
Guardiões da Galáxia: Vol 3 mudou isso. O que é bom e ruim para a Marvel.
Novas camadas
É bom porque a nova aventura espacial dessa turma desmantelada tem o coração e a irreverência do diretor e roteirista James Gunn. É possível assisti-lo e não se lembrar do restante do Universo Compartilhado, focando apenas nos Guardiões da Galáxia, sobretudo no guaxinim Rocket (voz de Bradley Cooper). A trama foca na tentativa do grupo em salvar o animal falante, após o atentado de Adam Warlock (Will Poulter), um ser aparentemente invencível que invade o Lugar Nenhum, QG da galera. Paralelo a isso, somos apresentados ao passado de Rocket através de flashbacks.
Quanto mais a obra avança, mais nos importamos com os personagens, que já eram queridos desde o primeiro filme. A diferença está nos contornos mais dramáticos, que exploram novas camadas, lançando um olhar mais profundo sobre os guardiões. Isso inclui a revelação do Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji), o melhor vilão da trilogia. Por outro lado, apesar do imenso poder, a inclusão de Adam Warlock destoa dos demais elementos, parecendo uma peça de Lego mal encaixada. Felizmente, é um incômodo que não compromete a experiência, graças ao talento de Gunn na narrativa e nas cenas de ação, amparadas pela parte técnica primorosa.
Despedida de James Gunn
Claro que não entregarei o final do filme. Porém, devo salientar que a despedida da trilogia é um ponto múltiplo de disrupção. Primeiro porque esse é o canto de cisne da Marvel pós-Vingadores: Ultimato, em um raro caso de filme autoral em meio ao aperto das rédeas do MCU. É um recado direto ao estúdio, para mostrar que investir nos filmes em si continua sendo um bom negócio. Afinal, além do sucesso crítico, Guardiões da Galáxia: Vol. 3 se tornou a segunda maior bilheteria do ano.
Entretanto, o fato de ser a despedida de James Gunn da Marvel é o que mais pega. Além de ter dirigido a trilogia, ele ajudou muito na coordenação do segmento espacial do MCU – importantíssimo em Vingadores: Guerra Infinita, por exemplo. Além disso, a cena inicial do terceiro filme pode ser uma amostra do que ele pode fazer com Superman: Legacy, seu próximo projeto e estreia no novo universo DC. Por isso, Guardiões da Galáxia: Vol. 3 é a redenção da Marvel e, também, deveria ser a preocupação do estúdio com o próprio futuro.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.