Há 75 anos, a Disney lançaria seu filme mais racista

Quem assina a plataforma Disney+ percebeu que algumas animações antigas contém um aviso antes do início

Há 75 anos, a Disney lançaria seu filme mais racista
Foto: Reprodução

Quem assina a plataforma Disney+ percebeu que algumas animações antigas contém um aviso antes do início. Escolhendo “Peter Pan” (1953), por exemplo, o assinante encontra a seguinte mensagem:

“Este programa inclui representações negativas e/ou maus tratos de pessoas ou culturas. Estes estereótipos eram incorretos na época e continuam sendo incorretos hoje em dia. Em vez de remover esses conteúdos, queremos reconhecer o impacto nocivo que eles tiveram, aprender com a situação, e despertar conversas para promover um futuro mais inclusivo juntos”.

Isso porque o longa sobre o menino que queria crescer contém estereótipos sobre os povos indígenas. E não só ele, mas também “Dumbo” (1941), que tem arquétipos dos pretos; “A Dama e o Vagabundo” (1955), dos orientais; e “Fantasia” (1940), com uma cena em que uma centaura preta está lixando o casco do centauro branco. Para ser mais racista, só faltou o black face. Esses tipos de representação eram vistos com tanta naturalidade, na época, que para qualquer coisa ser considerada racista, era preciso que a discriminação fosse muito, mas muito mais evidente.

Canção Sul

Foi o caso de “A Canção do Sul”, cujo enredo se passa logo após a Guerra da Secessão, que fala sobre o tio Remus (James Baskett). Ele era um senhor negro livre que conta histórias para o jovem Johnny (Bobby Driscoll). Como o título sugere, é ambientada no sul dos EUA, que, como bem sabemos, era a porção mais racista do país. E a avó do garoto é proprietária de uma plantação de algodão, onde a comunidade preta vive trabalhando e cantando alegremente, celebrando a falta de espaço para problemas.

Percebeu o absurdo da última frase acima? Quando digo que é sobre “falta de problemas”, as canções falam isso abertamente (“…deixe a chuva cair/ deixe o vento soprar/ o que você quer é em casa ficar/ os problemas sempre passam…). O próprio tio Remus reage com saudade do passado, quando ele conversa com Johnny e diz que as coisas eram “melhores” antigamente. Mais de uma vez. Um olhar carinhoso e saudosista para um mundo onde, na verdade, os pretos só serviam para cumpriam ordens egocêntricas e desumanas. Porem, quem conhecer o período só por essa obra deve pensar que é tudo balela.

Jornais repudiavam

A coisa era tão evidente que, já na época, jornais como The New Yorker publicavam matérias de repúdio, denunciando o racismo da obra da Disney. Como a obra foi um sucesso (para um custo de 2 milhões de dólares), a Disney tentou defender sua obra e iniciou a passada de pano mais longa de sua história: relançou o filme nos cinemas em 1956 (décimo aniversário de “A Canção do Sul”), em 1972 (50° aniversário dos estúdios Walt Disney), em 1973 e, por fim, em 1986.

Desta última vez, tentou matar três coelhos de uma tacada. Alem de comemorar o aniversário de 40 anos da obra, a Disney aproveitou a ocasião para vendê-la como um longa mal compreendido e até a inverter sua fama, dizendo que “A Canção do Sul” era uma lição de… tolerância. Por fim, juntou tudo em um pacote para promover a Splash Mountain, uma atração da Disneyworld baseada no filme (sim, tivemos uma atração inteira baseada na obra mais racista da Disney). Como estavam na era Reagan, a aceitação dos americanos não deveria ser tão difícil.

Saiu do catálogo

Hoje, nem a Disney mais aceita. “A Canção do Sul” não está no catálogo do Disney+ e nada indica que ela estará um dia. Com o pensamento dos novos sucessores desse império cada vez mais distante do passado, o estúdio está mais inclusivo e mais combatente da desigualdade étnica. A ponto de fecharem as portas do Splash Mountain e, com a melhor das previsões pós-pandemia, voltar à ativa com o tema da Princesa e o Sapo, que apresentou a primeira princesa preta da Disney em 2009. Uma louvável tentativa de reparação, ainda que tardia Inclusive, pelo impedimento da entrada no cinema de James Baskett e Hatie McDaniels (de novo!), na estreia em Atlanta.

Oscar

Ah, o filme: “A Canção do Sul” é ruim. Tem uma história fraca e uma trama secundária (e animada) que quase não agrega ao enredo de Johnny. Contudo, faz um bom uso da tecnologia ao ter uma das primeiras interações entre animação e live-action, tem uma música grudenta – “Zip-a-Dee-Doo-Dah”, vencedora do Oscar – e boas atuações de James Baskett e Bobby Driscoll e uma ponta de Hattie McDaniels (“…E o Vento Levou”, outro filme racista). Tem o revolucionário diretor de fotografia Greg Tolland (“Cidadão Kane”). E pronto. Não precisa se lembrar da mensagem. As novas gerações devem agradecer.

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema. 

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Rodrigo Oliveira

Sinceramente, “A Canção do Sul” é um dos filmes que mais amo da Disney. Nunca fui e nem serei racista. Já o vi inúmeras vezes, não percebi ofensa a nengum personagem. Quanto às canções, são deliciosas! Tenho o DVD e pena que as pessoas não possam vê-lo e tirarem suas próprias conclusões. Nunca deveriam esquecer que o filme foi feito em 1946. Que bom que tudo mudou de lá para cá, mas esconder o filme é esconder o tal racismo que veem nele. É só minha humilde opinião.

Rodrigo Oliveira

Corrigindo: *nenhum

Pedro Henrique Neto Santos Maranhão da Silva

Boa Noite!

1° Assisti o filme em duas partes de tempo (ou seja Uma Parte em um dia e outra Parte em Outra)…O filme em sua essência ele inspirida no conto do escritor Joel Chandler, em um personagem fictício Afro-Americano (Uncler Remus, como seu protagonista).

2° Li algumas materias como essa antes de investigar no longa metragem, o que pelos: FATORES, PROVAS E EVIDÊNCIAS QUE CONHEÇO BEM, (TAIS MATERIAS E FOLHAS SÃO TÃO MENTIROSOS QUANTO UM DIABO QUE MEMTE A UM ANJO)… O que verdadeiramente Observei foi: Acolhimento, Afeto, Reflexões, Amizades, Simpatia, Amor, Superação e Alegria de três crianças.

3° Vamos as provas que eu posso dar: A QUEM VERDADEIRAMENTE ASSISTIU; (Em uma das primeiras cenas o pequeno Johnny ao tentar fugir, ele se depara com Tio Remus contando a famosa história do coelho do pé entre as pernas, tio Remus ao perceber que ele vai fugir, usa de psicológia reversa para então Distrai-ló e Ganhar tempo para ele mudar de ideia: ‘AONDE ISSO É RACISMO?’

4° Quando Johnny recebe seu cachorrinho por meio de sua recém amiga, e o leva para casa, e é mandado que ele leve de volta, tio Remus gentilmente acolhe o cachorrinho e o protege para que Johnny continue tendo-o e no meio tempo quando o cachorro é tirado dele no final a onde o cachorro está? Com ele denovo: ‘AONDE ISSO É RACISMO?’

5° Após Johnny tentar consolar sua amigo por ter tido seu vestido manchado pela lama, por obra de seus próprios irmãos, Tio Remus então salva Johnny de uma apunhalada nas costa E, anima-a a ele e sua amiga, a CONTINUAREM A ter O CANTINHO DA ALEGRIA: ‘AONDE ISSO É RACISMO’?

6° Após Tio Remus ter ido embora e Johnny correr para alcança-ló e o gado e o atingi; tio Remos volta no exato momento que o pai de Johnny também volta para ve-ló nesse exato momento, um spoiler, quando Johnny está na cama ferido pelo ataque que sofreu por quem ele chama apenas❓❓❓ Resposta= Tio Remus. Tio Remus ao entrar no quarto, e contar-lhe mais uma de suas histórias do Coelho, Johnny recobra sua consciência e seu Pai Reata o Casamento com sua Mãe, PORQUE UM HOMEM (NEGRO) FOI UM PORTO NA VIDA DE UMA CRIANÇA (BRANCO) EM DIAS DE DESOLAÇÃO E TRISTEZA❓ (UM BRANCO NÃO PODE SER CONSOLADO OU ACALENTADO POR UM NEGRO)❓❓

TERMINO PERGUNTANDO ONDE HÁ RACISMO NISSO?

Pedro Henrique Neto Santos Maranhão da Silva

Bom Dia!

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