A era dos super-heróis chegou ao fim? Ainda não, mas o perigo é sentido, já que as bilheterias no subgênero estão cada vez mais decepcionantes. Capitão América: Admirável Mundo Novo começou mal o ano da Marvel. Thunderbolts* foi pior ainda, mas Quarteto Fantástico: Primeiros Passos acabou se recuperando. A exceção foi Superman, que começou bem e ultrapassou os 600 milhões em bilheteria. Ou seja, foi o filme não-Marvel que se deu melhor.
O que nos leva a uma segunda pergunta: a era da Marvel chegou ao fim? Apesar da saturação de superpoder no cinema, não. Mesmo assim, a gente percebe que a coisa toda desandou depois da Saga do Infinito. É como se o estúdio não soubesse mais o que fazer depois de uma catarse tão grandiosa como a batalha contra Thanos.
Pensando nisso, fiz um ranking com todos os filmes pós-Saga do Infinito, desde Viúva Negra até o recente Quarteto Fantástico (Homem Aranha: Longe de Casa ainda faz parte da Fase 3, mesmo lançado depois de Ultimato). E vou dizer: gostei da metade da lista, como você verá nas linhas abaixo. É uma maratona e tanto.
14. ETERNOS (2021)

Já vi alguns sites tentando colocar Eternos como obra-prima incompreendida ou gigante injustiçado, capaz de peitar grandes filmes de super-heróis. Você decide se compra esse exagero ou não. A única briga que vejo nesse filme de Chloe Zhao é a disputa com Thor: O Mundo Sombrio pelo posto de pior filme da Marvel. É uma obra sem molho e dirigida no piloto automático, com heróis e vilões que nunca exalam a grandeza que deveriam ter. Tomara que desistam da continuação.
13. HOMEM FORMIGA E A VESPA: QUANTUMANIA (2023)

Alem de ser o “clímax” da pior trilogia da Marvel, Quantumania ainda ajudou a desabar todo o futuro previsto para o MCU. Afinal, o poderoso Kang seria o vilão do próximo Vingadores, mas o ator Jhonatan Majors foi afastado pelo estúdio. Porem, antes mesmo de se tornar inútil para o multiverso, a obra já era ruim por si só, com diálogos risíveis e efeitos visuais que fariam bonito na saga Pequenos Espiões. Pior é que acaba sendo um filme divertido, mas pelos motivos errados.
12. THOR: AMOR E TROVÃO (2022)

Esse é um dos mais decepcionantes de todos os tempos. Isso porque, além de Thor: Ragnarok ter sido um dos melhores da Marvel, o cineasta Taika Waititi tinha um Oscar na mão pelo roteiro de Jojo Rabbit. E ele estragou a melhor fase de sua carreira com uma continuação capenga e irritantemente amarrada à fórmula do estúdio, carregando o mesmo complexo de inferioridade de Eternos. Pelo menos, Christian Bale tentou, mas não salvou o vilão Gor do desperdício total.
11. CAPITÃO AMÉRICA: ADMIRÁVEL MUNDO NOVO (2025)

Mais um auge negativo dessa fase da Marvel, já que o quarto filme do herói com escudo de vibranium é seu pior momento também. Não, não é culpa de Anthony Mackie, que veste o manto que já foi de Chris Evans. É que os roteiristas não souberam o que fazer com ele. Aliás, com nenhum personagem, visto que o vilão Líder e o Hulk Vermelho são bem desperdiçados aqui (perceberam que o desperdício é uma constante nessa fase da Marvel?). Fique com a série do Disney+ e fim.
10. AS MARVELS (2023)

Embora não seja um filme bom de verdade, acho injusto o título de pior bilheteria da história da Marvel, ainda mais considerando os títulos acima – e alguns das fases anteriores. De toda forma, As Marvels é outra vítima dos roteiros desleixados e mais preocupados com o universo compartilhado que com as obras em si. Mesmo assim, vá lá, as três heroínas juntas – Capitã Marvel, Ms. Marvel e Monica Rambeau – tem uma química fofa. Infelizmente, não passa muito disso.
9. PANTERA NEGRA: WAKANDA PARA SEMPRE (2022)

A partir daqui, começam a aparecer as obras com bons vilões. No caso dessa sequência do sucesso de 2018, é o personagem Namor, muito bem interpretado por Tenoch Huerta. Contudo, a melhor atuação é mesmo de Angela Basset, como a Rainha Ramonda; e a melhor coisa do filme é a homenagem para lá de emocionante ao eterno Pantera Negra Chadwick Boseman. Apesar de tudo isso, ainda é uma continuação inferior. Fiz a crítica dele no meu vídeo do canal Tomada Um.
8. DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA (2022)

Sam Raimi fez um milagre: transformou uma base que tinha tudo para esfarelar em suas mãos no filme mais autoral da Marvel. Isso porque Multiverso da Loucura é Raimi de ponta-a-ponta, dos zooms súbitos ao puro terror. E quem está na linha de frente dessa empreitada assustadora – e inédita – é a Feiticeira Escarlate, que se tornou um dos maiores vilões do MCU. O problema é que você precisa ter visto muita coisa para acompanhar a trama (escrevi sobre isso, aqui).
7. VIÚVA NEGRA (2021)

Eu achava que essa aventura-solo da personagem de Scarlett Johansson servia mais para preencher tabela, considerando o sacrifício da heroína em Vingadores: Ultimato. Pois não é que fui positivamente surpreendido com um ótimo filme de ação? O filme explica as origens da Viúva Negra, que ainda passa o bastão para Florence Pugh, na boa apresentação da personagem Yelena e um belo gancho duplo para a série Gavião Arqueiro e o filme Thunderbolts*. Vai sem medo.
6. QUARTETO FANTÁSTICO: PRIMEIROS PASSOS (2025)

Enfim, o primeiro grupo de heróis da Marvel ganhou um filme decente. Tudo bem que os filmes dos anos 2000 eram divertidos, mas esse é mais consistente, especialmente pelo elenco e – finalmente – o destaque para a Mulher Invisível, mostrando o acerto da escolha da atriz Vanessa Kirby. Faltou explorar um pouco mais os poderes do Coisa e do Sr. Fantástico (difícil engolir a cena do esticamento), mas o restante compensa – principalmente a poderosa Surfista Prateada.
5. DEADPOOL & WOLVERINE (2024)

Pergunta retórica: por que não tiveram antes a ideia de juntar os dois heróis mais anárquicos, violentos e desbocados da Marvel? Ok, sabíamos dos entraves autorais (Wolverine era direito da finada Fox), mas a tentação dessa indagação foi inevitável, visto a combinação perfeita entre os dois personagens. O melhor: tira sarro do filme Logan e da própria trajetória do antigo estúdio dos X-Men, mas homenageando seu legado. Também tem vídeo de crítica no canal Tomada Um.
4. SHANG-CHI E A LENDA DOS DEZ ANÉIS (2021)

Como meu conhecimento de histórias em quadrinhos é precário, só ouvi falar em Shang-Chi com o anúncio desse filme. Vi no cinema por ser da Marvel e me deparei com uma boa surpresa. Além da ação e dos efeitos bacanas, a beleza poética da parte visual e da coreografia das lutas remete ao melhor do cinema oriental, ainda mais com os astros veteranos Tony Leung e Michelle Yeoh. Esse, sim, pede uma continuação para ontem, mas a Marvel tem outras preocupações. Paciência.
3. THUNDERBOLTS* (2025)

Ninguém dava nada por esse longa que mais parecia um Esquadrão Suicida da Marvel. Eis que Thunderbolts* surge como o filme de super-heróis mais surpreendente do ano. É cheio de ação, focado na própria trama (ao invés de servir de ponte para o próximo produto Marvel) e integra uma abordagem inesperada – e emocionante – sobre saúde mental. Uma pena que o boca-a-boca não tenha sido suficiente para dar um gás na baixa bilheteria. Ainda assim, a missão foi cumprida.
2. HOMEM ARANHA: SEM VOLTA PARA CASA (2021)

Foi o único filme após Vingadores: Ultimato que teve reações no cinema viralizadas nas redes sociais. Afinal, foi difícil para a plateia segurar a empolgação com a presença simultânea das três versões do Amigo da Vizinhança. A interação entre eles é uma beleza de se ver. Além disso, Homem Aranha: Sem Volta Para Casa reposiciona o Duende Verde como o grande vilão do Teioso, com Willen Dafoe arrebentando mais uma vez. É o melhor filme da Fase 4, disparado. Juntando com a Fase 5, só perde para…
1. GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3 (2023)

James Gunn encerra tanto sua trilogia quanto seu ciclo na Marvel com chave de ouro. Depois de ter ajudado a pavimentar o segmento cósmico do MCU, o diretor e roteirista deixa sua marca em uma obra bem superior a seu antecessor, cheio da personalidade e a irreverência que são a biometria da saga – alem de demonstrar seu amor pelos animais. Enfim, é um filme bem feito, divertido, comovente e com pulso próprio, que recupera a preocupação qualitativa que parecia ter evaporado após o estalar de dedos de Thanos. Pois é: Nem tudo foi perdido.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.

