2022 não foi fácil para os fãs de cinema. Em 2020, que foi o mais fraco em filmes dos últimos anos, estávamos no auge da pandemia do Covid-19 e, obviamente, muita coisa teve que ser adiada. Desta vez, não teve desculpa. Várias produções esperadas de 2022 decepcionaram, como o novo “Massacre da Serra Elétrica”, o terceiro “Halloween” e o último “Jurassic World”. Dos filmes de super-herói, só “The Batman” se salva, pois até o aguardado “Wakanda Para Sempre” deixou a desejar.
Ainda bem que, apesar dos pesares, o ano foi salvo por obras bem bacanas. “Top Gun: Maverick” resgatou o prazer de ir ao cinema (escrevi sobre ele aqui) e “Elvis” mostrou que biografias ainda tem força nas bilheterias. No streaming, tem obras que pediam para ser vistas no cinema, como o divertido “Tico e Teco: Defensores da Lei” e o fortíssimo “Nada de Novo no Front”. E, no fim do ano, claro, tivemos a volta de James Cameron para mostrar que jamais podemos duvidar dele.
A seguir, separei cinco filmes que representam o pior que tivemos e outros cinco que recomendo muito. Se você sentir falta de alguma obra, veja se ela está no meu completo TOP 10 de piores filmes (aqui) e no de melhores filmes (aqui). No mais, boa leitura e tenha um Feliz 2023!
OS PIORES
5. MORBIUS (HBO Max)
Sabe o que eu não entendo? É como um estúdio olha para o roteiro de um filme como Morbius e acha que vai bombar. Ele tem um início que meio que se apresenta como cena-chave e é inexplicavelmente esquecido. É que, além do péssimo texto, a edição é medonha. Além disso, os efeitos visuais são ridículos e a fotografia é pavorosa, com Morbius virando uma poeira obscura sob uma câmera que vive rodopiando, porque alguém achou que isso deixaria o filme muito divertido. É, bombou. Virou o pior filme de super-herói do ano.
4. TITANIC 666 (Tubi)
Um novo Titanic fará o mesmo trajeto do transatlântico original e desperta os espíritos assassinos das vítimas da antiga tragédia. Agora me diz: qual a chance de uma ideia estapafúrdia dessa dar certo? Ainda assim, Titanic 666 consegue ser pior que o imaginado. O filme tenta disfarçar a tosqueira da produção, mostrando à exaustão um monte de imagens externas do navio. Porem, a trama chata, que ainda joga “bruxaria” no caldo, traz mortes patéticas com efeitos especiais de fundo de quintal. Só imagino a cara de James Cameron (vencedor do Oscar por Titanic) vendo essa bomba.
3. OLHOS FAMINTOS: RENASCIMENTO (aluguel digital)
Achou que nenhuma continuação poderia ser pior que Olhos Famintos 3? Pois prepare-se para Olhos Famintos: Renascimento, uma das piores sequências de todos os tempos. Se a decadência da série no terceiro filme foi grande, aqui ela foi monstruosa, com efeitos tão ridículos que o chroma key grita no cenário. Impressionante como ficou ruim até a maquiagem do Creeper, que mais parece um cosplay do monstro original. Além disso, tem uma trama mequetrefe, mortes com criatividade zero e uma batalha final que já entrou na história dos filmes. No mau sentido.
2. 365 DIAS: FINAIS (Netflix)
A saga do sequestro mais romântico do cinema chega ao fim. Graças a Deus. Sabe quando um filme é tão horroroso e tão inútil que ele se torna um ótimo sonífero? 365 Dias: Finais foi o meu. Eu, literalmente, tive vontade de dormir umas três vezes vendo isso, tendo conseguido na segunda vez. Afinal, é uma história sobre absolutamente nada. O péssimo casal Massimo e Laura selam o caixão e enterram um soft porn que nem deveria ter nascido. E essa terceira parte só ficou em segundo lugar porque não me causou tanta vergonha quanto o…
1. 365 DIAS: HOJE (Netflix)
Meu Deus. O que foi isso? Por falta de uma trama minimamente decente, a segunda parte da trilogia preenche esse vazio com sexo. E toda vez que toca musiquinha sensual, já sabemos que o vai rolar. Até daria para engolir essa desculpa se as cenas de sexo não fossem as mais constrangedoras do cinema. Aliás, tudo nesse filme funciona ao contrário: tem desenvolvimento que não desenvolve, surpresas que não surpreendem e sexo que faz brochar. 365 Dias: Hoje não é só um filme ruim. Ele é o pior tipo de filme ruim que existe: aquele que pensa que é bom.
Já escrevi na coluna sobre o pior filme do ano aqui.
OS MELHORES
5. ARGENTINA, 1985 (Amazon Prime)
O representante da Argentina para tentar o Oscar 2023 é brilhante em vários aspectos. Ao retratar o julgamento dos militares do alto escalão e criminosos da ditadura militar daquele país, o cineasta Santiago Mitre faz uma reconstituição de época primorosa, com um roteiro tão forte que a gente sente as dores das famílias que perderam seus entes queridos, mesmo sem visualizar os horrores de um regime totalitário e perseguidor. E, claro, Ricardo Darín mostra porque é o maior ator do cinema argentino da atualidade. Uma obra importantíssima, com um recado que é tão claro quanto o nome do documento usado nessa história infelizmente real: “Nunca Más”.
4. AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA (cinemas)
A maior experiência cinematográfica do ano passado é, também, o melhor 3D que eu já vi. Seria um detalhe trivial se essa tecnologia não fosse usada a serviço do cinema, da imersão, da sensação. Avatar: O Caminho da Água é uma continuação com menos volume substancial que o primeiro filme. Contudo, nossa entrada em Pandora está mais emocionante, mais deslumbrante, com um visual inigualável. Tudo mostrado com uma grandiosidade que só podia ser fruto de um diretor muito ambicioso. É ele mesmo, James Cameron, o criador desse universo, ultrapassando limites mais uma vez. Não ultrapassou Top Gun: Maverick ainda em 2022, mas vai fechar com uma bilheteria maior.
3. PINÓQUIO POR GUILLERMO DEL TORO (Netflix)
Por favor, não confunda com o remake sofrível da Disney com Tom Hanks. São filmes bem diferentes. Isso porque, ao invés de imitar o clássico de 1940, Guillermo del Toro busca direto da fonte: o conto original de Carlo Collodi, colocando no contexto do fascismo italiano. E contado em uma animação stop-motion, com uma beleza sombria e criativa. O resultado é inacreditável, pois é incrível ver como a história do boneco de madeira se encaixou tão perfeitamente em tudo. Nas temáticas sobre controle e obediência, no estilo del Toro e no stop-motion, fazendo a gente se perguntar como não vimos isso antes. Por isso, digo sem medo: este Pinóquio é uma obra-prima da animação.
2. NADA DE NOVO NO FRONT (Netflix)
Com vocês, o melhor filme da Netflix em 2022. O alemão Nada de Novo no Front mostra a Primeira Guerra Mundial com tanto realismo e tanta brutalidade que nem parece uma obra antibelicista. Isso porque “paz” é algo que não sentimos aqui. Ao contrário, sentimos dor, revolta e repugnância a toda a hipocrisia de um grupo que está confortável em suas salas, mas que não tem remorso de mandar milhares de jovens enganosamente empolgados para a morte. Tudo em nome da pátria. É visceral, poderoso e tecnicamente primoroso. Por isso, é um dos melhores remakes do cinema. Espero que este também leve o Oscar para casa.
1. TUDO EM TODO LUGAR AO MESMO TEMPO (aluguel digital)
Neste ano, aconteceu uma das maiores ironias do cinema atual. O filme Doutor Estranho no Multiverso da Loucura prometeu uma loucura de universos e entregou pouquíssima coisa. Quem acabou cumprindo esse papel – e muito mais – foi um filme que não veio de nenhuma marca famosa e não prometeu nada, mas entregou tudo. Ou melhor, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, uma comédia que abraça o absurdo sem pudor, que também é uma ficção científica de primeira, é um filme de artes marciais eletrizante, é um drama existencial que nos faz refletir como poucos. E é muito criativo, original, bem feito e com um elenco maravilhoso. Tudo ao mesmo tempo.
E, sim, é o melhor filme de 2022.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.