Não acreditei, confesso, quando vi o vídeo agora há pouco. De braços dados com índios na dança do Parixara, o governador Antônio Denarium, todo sem jeito, acompanhado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, teve a cara de pau de participar de um evento que reuniu hoje, dia 19, Dia do Índio, lideranças indígenas de Roraima que reivindicaram melhorias na Saúde e aproveitaram para mandar um recado curto e grosso ao presidente Jair Bolsonaro: “não aceitamos garimpeiros destruindo nossa casa (terra indígena) e levando a morte para o nosso povo”.
O evento ocorreu na comunidade do Lago Caracaranã, em Normandia, Norte de Roraima. O ministro recebeu uma carta de reivindicações dos índios e escutou muita reclamação, em especial na área da Saúde e a respeito da invasão de garimpeiros nas terras indígenas situadas no Estado. Denarium calado chegou e mudo saiu, sorrindo, meio sem jeito.
Como pode um ser humano ser tão dissimulado assim? Vossa excelência, em novembro do ano passado, lembremos, sancionou uma lei inconstitucional e autorizou a garimpagem em todo o Estado de Roraima, inclusive permitindo o uso de mercúrio, metal altamente tóxico ao meio ambiente. O projeto foi aprovado na Assembleia Legislativa. A lei regulamentou a garimpagem feita por pessoas e empresas sem licença ambiental, de maneira informal, o que causa um grande impacto ambiental.
A lei autorizou ainda a extração de minérios com uso de embarcações, equipamentos de garimpo, como escavadeiras e aparelhos específicos, sem a devida necessidade de estudos ambientais. A lei ainda recebeu emendas, entre elas a que prevê o aumento no limite para exploração de 50 para 200 hectares.
A descabida decisão do governador, de aprovar a absurda lei, teve uma única finalidade: cooptar votos de milhares de garimpeiros em Roraima. Mas a partir do momento que a lei foi sancionada por vossa excelência, dezenas de milhares deles logo deram início a uma grande invasão às terras indígenas em Roraima. E não demorou muita para a guerra começar.
Decisão irresponsável e criminosa
Hoje, a carnificina que vemos nas terras dos “parentes”, em especial a Yanomami, a maior reserva indígena do País, é fruto da decisão irresponsável e até criminosa do seu Antônio que, para fazer “oba-oba” em véspera de eleição, sancionou a lei do garimpo, o que provocou uma invasão e a guerra entre índios e garimpeiros sem precedentes no Estado.
Terra sem lei
Meses depois, acionado por entidades de defesa dos povos indígenas, o STF derrubou a tendenciosa e politiqueira lei do seu Antônio. Mas aí já era tarde demais, pois milhares de garimpeiros já haviam se instalado nas terras indígenas. Até facções criminosas aproveitaram a “deixa” e pra lá também foram lucrar, extraindo ouro e vendendo armas e drogas nos garimpos instalados nas reservas indígenas, que logo viraram uma verdadeira terra sem lei.
E não demorou para surgirem episódios de terror nas terras indígenas. Garimpeiros e membros de facção hoje viciam, estupram e até matam crianças, trocando um punhado de arroz por sexo das índias, a maioria menor de idade. Tudo culpa de seu Antônio, que aprovou a maldita lei que liberou o garimpo em todo Estado.
Sabe nem dançar
Agora, depois da invasão e guerra que provocou nas terras indígenas, seu Antônio me aparece dançando o Parixara, justamente, com o povo que ele tanto prejudicou após sancionar a criminosa lei. Pior. Quando os “parentes” davam um passinho para frente, seu Antônio dava um para trás, todo fora de compasso. Coitado de vossa excelência. Sabe nem dançar, todo duro, égua!
Álvares dos Anjos – cronista