Em entrevista realizada nesta terça-feira (24), os procuradores da República, Alisson Marugal e Matheus de Andrade Bueno, responsáveis por investigar irregularidades cometidas por garimpeiros e desvios na política de saúde na TI Yanomami em Roraima, detalharam a atuação do Ministério Público Federal (MPF) ante a crise.
Na ocasião, Alisson afirmou que havia políticos que nomeavam agentes de saúde para direcionar licitações no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) que, conforme ele, é um órgão “bastante assediado” em razão do volume orçamentário.
“Essa operação que foi deflagrada em novembro do ano passado foi uma primeira fase, no sentido de que nós identificamos uma parte desse esquema. Há suspeita de que existam outras pessoas que se locupletavam com esse esquema criminoso que foi implementado no Dsei Yanomami. Nós sabemos que isso está no Brasil como um todo. Esses órgãos de saúde, esses distritos sanitários especiais indígenas, por terem um orçamento bastante grande, e o Dsei Yanomami, em três anos, foram mais de R$ 200 milhões de reais […] A nomeação é feita por um político. Eu não quero aqui citar nomes, porque isso faz parte da investigação […] mas, de fato, havia políticos que nomeavam esses coordenadores de saúde e que loteavam esses órgãos de saúde em cargos-chave, justamente para conseguir licitações. E também a execução desses contratos milionários.”, explicou.
Operação
Alisson se refere à Operação Yoasi, deflagrada no dia 30 de novembro com o objetivo de investigar um esquema de desvio de recursos públicos federais do Dsei-Y. Para ele, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) tinha conhecimento da falta de medicamentos, mas que “pouco fez” para regularizar a situação.
“A investigação foi muito rápido. Em dois ou três meses nós conseguimos deflagrar uma primeira fase, justamente porque o caso era muito grave. Nós precisávamos tirar os agentes envolvidos com base em uma ordem judicial, já que pouca coisa foi feita por parte da Secretaria de Saúde Indígena, que tinha conhecimento sim, pelo menos da falta de estoque de medicamentos. E pouco fez para conseguir regularizar isso”, detalhou.
Ainda conforme o procurador, a investigação será ainda mais aprofundada a fim de identificar todo o esquema criminoso.
“Mas é importante que a gente entenda que isso tem origem em Brasília. Nós temos uma lista de apoio político no Governo Federal em relação ao Congresso Nacional. E a moeda de troca que se utiliza, isso ficou claro para mim na investigação, é justamente essa nomeação desses órgãos de saúde por indicação de políticos […] Roraima tem três senadores, deputados federais, então acaba que há essa troca política por parte do Governo Federal com o congresso nacional”, ressaltou.
Indicações de políticos
O senador Mecias de Jesus e o filho, Jhonatan de Jesus, ambos do Republicanos, indicaram os três últimos gestores do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami.
O mais polêmico deles foi Rômulo Pinheiro de Freitas, cuja indicação partiu de Jhonatan de Jesus. Ele teve a gestão marcada por cobranças e manifestações dos indígenas.
O período de sua administração do Dsei-Y sobre a proteção de Jhonatan, também coincide com o agravamento da crise dos Yanomami. Aumentou o número de crianças e adultos desnutridos, assim como o de mortes. E, sendo assim, todos esses fatos divulgados massificamente pela imprensa roraimense.
Mas antes de Rômulo, Mecias havia indicado Francisco Dias Nascimento Filho. E depois de Rômulo, quem assumiu o DSEI-Y foi o ex-vereador de Mucajaí, Ramsés Almeida. Também indicação de Mecias de Jesus.
Fonte: Da Redação