Polícia

Violência: cresce em 19% casos de agressões contra a mulher no país; falta de acolhimento dificulta denúncias

Ao menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica a cada 24 horas. É o que apontou os dados de 2023 do boletim da Rede de Observatórios da Segurança divulgados este ano. O levantamento ocorreu em oito estados.

Ao todo, houve o registro de 3.181 mulheres vítimas de violência, o que representou um aumento de 22,04% em relação a 2022, quando Pará e Amazonas ainda não faziam parte deste monitoramento. As agressões englobaram: torturas, ofensas, assédio, feminicídio, entre outros.

Roraima

Conforme dados do Atlas da Violência do ano passado, Roraima ocupa o topo dos estados do Brasil com maiores taxas de homicídios de mulheres por habitante em 2021.

Em 2020, o estado registrou a morte de 35 mulheres e 20 no ano seguinte. Apesar da redução, Roraima ainda tem a maior taxa de assassinatos femininos no país (7,4 mulheres a cada 100 mil habitantes). Do total de mulheres mortas em 2021 no estado, 12 eram negras. Ou seja, mais que o dobro de não-negras.

Em 2019, o estado contabilizou 33 assassinatos de mulheres, conforme o Atlas da Violência 2021. Com isso, a taxa foi então para 12,5 vítimas para cada 100 mil habitantes. 

Assim, o estado teve uma redução nas taxas se comparado ao relatório de 2018, quando os números chegaram a 20,5 mulheres assassinadas por habitante. Conforme o levantamento, a diminuição foi de 38,7%. O quantitativo de mulheres negras vítimas de homicídio em 2019 foi de 60%. Já a porcentagem de mulheres não negras foi de 40%. Ou seja, das 33 vítimas mortas em 2019, 19 eram negras.

Cresce o número de agressões contra a mulher

Entre 2018 e 2022, todos os tipos não letais de violência contra mulheres cresceram 19% no Brasil. Essas formas de agressão incluem a patrimonial, a física, a sexual, a psicológica e a moral e, com exceção da última, foram acompanhadas pelo Instituto Igarapé, que fez levantamento sobre o assunto, em parceria com a Uber.

Questionamento do histórico da vítima

Em junho deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que é inconstitucional questionar a vida sexual ou o modo de vida da vítima na apuração e no julgamento de crimes de violência contra mulheres. O entendimento é de que perguntas desse tipo perpetuam a discriminação e a violência de gênero e vitimiza duplamente a mulher, especialmente as que sofreram agressões sexuais.

Segundo a advogada Catherine Saraiva, a desqualificação de vítimas em casos de violência contra a mulher ainda é muito comum. 

“Em todos os processos envolvendo a mulher como vítima, principalmente nos processos de crimes sexuais, é muito comum que haja por parte do acusado e das pessoas envolvidas nesse processo, a desqualificação dessa mulher, querendo considerar o modo de vida, o comportamento dela, o tipo de roupa que ela usa, como se isso tivesse sido a causa de ela ter sido agredida ou ter sofrido determinada violência“, disse.

Acolhimento da mulher

A decisão do Supremo é um avanço significativo no sistema judiciário. Ela garante que a Justiça ocorra de forma mais equitativa. Mas ainda existe um fator que pode desqualificar as mulheres vítimas de agressões: a falta de acolhimento. Assim, a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, Graça Policarpo, ressaltou a importância do acolhimento. 

“A Casa da Mulher Brasileira é um espaço pensado nos atendimentos às mulheres, respeitando seus direitos […] Elas são encaminhadas para o setor psicossocial e lá é que ela precisa ser mais respeitada ainda. Esse acolhimento, de escutar a fala dela, de respeitar essa fala, de não desqualificar a fala dessa mulher“, disse.

A Psicóloga Flavia Bueno, explicou os motivos da vítima muitas vezes não expor o seu sofrimento.

“A mulher que sofre violência não tem apoio familiar e nem de amigos. Então ela se isola e gera medo de denunciar. Há medo de denunciar pelo fato de que mexeram o seu psicológico. Elas prefere ficar calada e não expõe para a sua rede de apoio. Elas sentem medo e vergonha dos próprios familiares não acreditarem nela”, disse.

‘A culpa não é da vítima’

A fisioterapeuta Carol Queiroz, foi vítima de tentativa feminicídio pelo ex-companheiro. Após o caso ganhar repercussão, ela também sofreu julgamentos mesmo sendo a vítima.

“É muito comum a sociedade arranjar uma desculpa para culpar a mulher, a vítima. As próprias mulheres nos atacam, então, após a revolta do caso, veio uma onda de desqualificação de dizer que existiam motivos que justificassem a agressividade, a maldade e a perversidade. Isso bota a mulher em uma posição de revitimização […] a desqualificação desencoraja as mulheres a se defenderem e a persistirem”, disse.

Além disso, Carol ressaltou às mulheres que elas não devem se calar diante de nenhuma violência.

“As leis existem para que a gente tome providências […] mulher nuca se cale e não permita que que os outros falem ou rotule você te culpabilizem. A mulher não tem culpa de ser agredida, além disso, ela jamais tem culpa de alguém atentar contra a vida dela. Então, não se coloque neste lugar que a sociedade ou ou o seu agressor quer te colocar”, finalizou.

Ajuda para as mulheres

Em caso de ocorrência de violência, a vítima pode ligar para a central da Guarda Civil Municipal de Boa Vista, por meio do número 4009-9355 ou para o 190 e pedir apoio a Polícia militar. Neste caso, é importante enfatizar a gravidade e urgência da situação.

Programa Patrulha Maria da Penha

Atualmente, a Patrulha Maria da Penha está em quatro municípios de Roraima: Boa Vista, Bonfim, Caracaraí e Mucajaí. Instalada em 2015 e representa uma das principais medidas em favor da mulher que possui uma medida protetiva de urgência, para garantir o cumprimento no estado de Roraima. São realizadas visitas domiciliares e acompanhamento das situações.

Fonte: Da Redação e TV Imperial

Polyana Girardi

Recent Posts

Voto não valerá como prova de vida nas Eleições de 2024, alerta TSE

Justiça Eleitoral esclarece que são falsos informes que vêm circulando sobre acordo com o INSS

30 minutos ago

Sine: confira as vagas de emprego desta quarta-feira para Roraima

Há cargos para candidatos com ou sem experiência registrada na carteira, além de vagas exclusivas…

2 horas ago

Enquanto empresa do senador Hiran recebe milhões do Estado, pacientes precisam recorrer à rede privada

Após anos de espera por uma cirurgia de catarata pela Sesau, uma paciente decidiu realizar…

3 horas ago

AGU protocola ação por danos climáticos contra a Amazônia

AGU pede ressarcimento de R$ 635 milhões pela criação ilegal de gado na Floresta Nacional…

15 horas ago

Vidraça do Pronto Atendimento do HGR cai com forte chuva, em Boa Vista; veja vídeo

Secretaria de Saúde informou que uma pessoa que estava no local sofreu escoriações mas sem…

15 horas ago

Candidaturas indígenas aumentam 14,13% nas eleições de outubro

Maior número proporcional de candidaturas de indígenas está no estado de Roraima, onde 7,10% do…

16 horas ago