O povo Yanomami está morrendo em Roraima. Não há atendimento médico, bem como remédios. Sem logística, profissionais de saúde demoram a chegar à Terra Indígena. As crianças são as mais atingidas. Na semana passada, duas morreram com malária e pneumonia, subnutridas. O descaso ganhou, sobretudo, repercussão nacional.
A primeira morreu na madrugada do dia 20, na comunidade Xaruna, na reserva Yanomami, Leste de Roraima. Da mesma forma, três dias depois morreu mais uma criança na mesma comunidade.
O Ministério da Saúde informou que já enviou este ano mais de R$ 180 milhões para o Dsei-Yanomami, em Roraima, mas os indígenas continuam morrendo, subnutridos, com malária e pneumonia, sem atendimento na área de saúde.
Quem controla o dinheiro federal do Dsei-Y em Roraima é o coordenador Rômulo Pinheiro, indicado pelo senador Mecias de Jesus. Lideranças Yanomami já pediram a saída dele, mas em vão. Os índios alegam que o atendimento médico não chega às comunidades, por isso as mortes.
Então, em abril passado, só para lembrar, Mecias de Jesus foi denunciado por interferir no contrato de prestação de serviço de transporte aéreo ao Dsei-Y em Roraima. Assim, o senador assinou e mandou um ofício à Secretaria Executiva de Saúde, em Brasília.
Dias depois, o contrato de quase R$ 12 milhões, com dispensa de licitação, foi firmado entre a Dsei-Y de Roraima e a empresa paraense Piquiatuba Táxi Aéreo. Em contrapartida, a Voare Táxi Aéreo, que prestava o serviço, teve que entrar na Justiça para receber.
“A remoção dos índios doentes não acontece mais como antes. Demora até mês. Isso dificulta o trabalho dos profissionais de saúde na terra indígena. Falta também medicamento. Os Yanomami estão morrendo, sem assistência”, relatou uma enfermeira que trabalha com os índios.
Crise dos Yanomami
Os Yanomami que vivem na divisa do Amazonas com Roraima atravessam um surto de malária e sofrem com a desnutrição. É mais um capítulo da crise que vive a etnia.
Levantamento recente feito pelo MPF mostra que 52% das crianças Yanomami de até 12 anos estão desnutridas. Ainda mais, nas comunidades mais isoladas, como a de Xaruna, a desnutrição atinge mais de 80% delas.
A taxa de mortalidade dos Yanomami é a pior das comunidades indígenas do Brasil. Nos últimos dois anos foram registrados 44 mil casos de malária. Quase metade de todos os casos registrados entre os povos indígenas do Brasil.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem cerca de 28 mil indígenas que vivem em mais de 370 aldeias. “O maior problema é que as esquipes de saúde não conseguem chegar na TI por falta de logística, de transporte aéreo. Os remédios também não estão chegando, por isso o número de mortes vem aumentando”, explicou a enfermeira, que preferiu não se identificar.
Enquanto os Yanomami morrem à mingua, sem receber a devida assistência na área da saúde, Mecias de Jesus, representante do povo roraimense, de indígenas e não-indígenas, ainda não explicou por que interferiu no contrato da prestação de serviço de transporte aéreo do Dsei-Y em Roraima. Apesar da empresa Piquiatuba ter recebido R$ 12 milhões, o serviço só piorou.
“Cadê os órgãos de fiscalização? Até quando o descaso com a saúde do povo Yanomami? Crianças estão morrendo e ninguém faz nada. Absurdo”, cobrou a profissional de saúde.
Álvares dos Anjos – cronista