Política

Garimpeiros lançam bombas contra indígenas na Terra Yanomami em Roraima

A comunidade Palimiú sofreu novo ataque de garimpeiros na noite desse domingo (16). A informação foi confirmada ao Roraima em Tempo pelo presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-Y), Júnior Hekurari. Ninguém ficou ferido.

Conforme ele, lançaram duas bombas caseiras contra os indígenas, e uma explodiu perto de uma unidade de saúde. Este é o sétimo dia de confrontos na comunidade. No dia 10 de maio, garimpeiros atiraram contra os indígenas, que revidaram o ataque. Quatro garimpeiros e um yanomami ficaram feridos.

“Até agora o governo federal não mandou forças policiais para fazer segurança na comunidade. Está muito omisso. As comunidades estão correndo risco muito grande. Precisamos forçar o governo federal para que faça uma intervenção imediata”, relatou Hekurari à reportagem. 

Na última semana, o Ministério Público Federal (MPF) conseguiu uma decisão que obriga a União a enviar tropas policiais para proteger os Yanomami. Além disso, O Supremo Tribunal Federal (STF) também foi acionado para determinar a imediata retirada de garimpeiros. O ministro Luís Roberto Barroso ainda não analisou o pedido.

Dessa forma, estima-se que cerca de 20 mil invasores explorem ilegalmente a região. Em 2017, o Roraima em Tempo mostrou que 22 crianças de Palimiú passaram por contaminação por mercúrio – substância usada no garimpo ilegal – e morreram.

A Polícia Federal (PF) enviou no dia 11 de maio efetivo para coletar informações do primeiro confronto. No entanto, ao embarcarem para retornar a Boa Vista, os agentes foram alvo de disparos de arma de fogo por parte dos garimpeiros. Eles revidaram e houve intensa troca de tiros.

Além disso, o presidente do Condisi-Y detalhou que os moradores relataram que nesse domingo os garimpeiros estavam em 15 embarcações. De acordo com ele, a comunidade está com medo e crianças e adultos sentem ardência nos olhos, provocada pelo efeito das bombas.

“Falaram que explodiu e fez muita fumaça. Uma coisa tensa. O governo está sendo muito omisso nessa parte de segurança. Não é de agora que relatamos. É revoltante! Cadê a segurança na Terra Indígena Yanomami?”, questionou.

Pandemia

Do mesmo modo, outra preocupação das entidades indígenas é a pandemia da Covid-19. Sem as barreiras etnoambientais, que foram desativadas pelo governo federal, as comunidades estão desprotegidas. O MPF conseguiu na Justiça Federal decisões que obrigam as implementações dos locais, mas a reativação é lenta.

“Vimos pontos de garimpos a poucos quilômetros da base de proteção desativada. Isso ocorre porque a fiscalização exercida pela Funai [Fundação Nacional do Índio] em demarcações indígenas obrigou os garimpeiros a se deslocarem para regiões distantes. Existe garimpo intenso naquela região [Terra Yanomami]”, declarou à reportagem em fevereiro deste ano o procurador Alisson Marugal.

Ou seja, até 2 de maio de 2021, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) registrou 6.025 casos confirmados de coronavírus, com 126 mortes, entre oito povos indígenas de Roraima. As etnias afetadas são: Macuxi, Yanomami, Taurepang, Wai Wai, Wapichana, Ye’kwana, Pemón e Warao.

Citados

Procurada, a PF informou que não foi oficialmente informada sobre os últimos acontecimentos, mas ponderou que uma tropa do grupo de pronta intervenção de Manaus estava próxima aos garimpos adjacentes a Palimiú. “O foco agora é desintrusão de garimpeiros”, reforçou.

Nesse sentido, o MPF informou que está ciente dos novos fatos e que pediu aplicação de multa pelo não envio das tropas militares no prazo de 24 horas, como havia determinado a Justiça Federal.

Por fim, a reportagem entrou em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e aguarda retorno.

Josué Ferreira

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