Proporcionalmente, Roraima é o estado com a maior população indígena do país. Conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, dos 450 mil habitantes, quase 50 mil eram indígenas.
Entre as mais de 10 etnias estão os jovens. Com celulares, câmeras e outras ferramentas, a juventude indígena atua na luta ancestral pelos direitos e a preservação das terras.
É o caso do comunicador do Conselho Indígena de Roraima (CIR) Caique Pinho Souza. Fotojornalista e acadêmico de comunicação social, ele tem 26 anos e é da etnia Wapichana.
À reportagem, o jovem fala que o interesse pelo movimento sempre esteve com ele.
“As lideranças passam essa vontade de nos aproximarmos da luta indígena. Então, foi um chamado do próprio movimento. A gente entende que tem que ir e vai”, diz.
Jornalista e mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Márcia Fernandes é também Wapichana.
A vontade em ser ativista da causa indígena surgiu após entrar na graduação. Ela ingressou na UFRR pelo Processo Seletivo Específico Indígena (Psei).
Outra jovem da militância indígena é Carla Jarraira, de 21 anos, da Comunidade Bismarck, na Raposa Serra do Sol.
Estudante de direito, na UFRR, Carla fala que por morar em uma comunidade que foi o centro de várias assembleias e mobilizações, ela começou a participar das reuniões e encontros.
“Eu sempre quis que outras pessoas conhecessem a trajetória do meu povo e comecei a militar. Aos 14 anos fui coordenadora de bloco. Em seguida, aos 17 anos, fui coordenadora regional da Juventude Indígena da Raposa. Eu não escolhi o movimento indígena, ele me escolheu. Nasci para ser liderança!”, declara.
Para Caíque, a presença de jovens na organização política dos povos indígenas cresceu nos últimos anos. Com incentivo das próprias lideranças, a juventude passou a frequentar assembleias, reuniões, bem como os protestos.
“Eles [lideranças] sempre estão pedindo para participarmos, mostrando essa representatividade. Os jovens estão ali para mudar o mundo e estão representando as lideranças”, fala.
Caíque diz que, no CIR, viveu uma das experiências mais marcantes enquanto jovem comunicador indígena. É que garimpeiros ameaçaram indígenas em uma área onde ele estava.
De acordo com os dados de um relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Brasil teve um aumento de 150% nos casos de violência contra os povos indígenas em 2019. Entre eles estão homicídios, racismo, discriminação e invasão de terras.
Márcia Fernandes lembra que saiu da Comunidade Tabalascada nova e sentiu o preconceito, principalmente na escola. No entanto, apesar da discriminação, ela sempre dizia que era indígena.
A jornalista conta ainda que evitava se identificar como jornalista nas comunidades que visita. Entretanto, com o tempo, viu a importância de se mostrar assim.
“Com o tempo eu entendi que era necessário me identificar como jornalista e indígena, pois eu me formei e fui resistente. Somos capazes de ocupar qualquer espaço. Inspiramos outras pessoas. Isso é, portanto, um incentivo aos jovens que estão vindo para fortalecer a nossa luta”, avalia.
Este ano, uma das principais pautas do movimento indígena do Brasil é o julgamento do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). O texto diz que os povos só teriam direito às terras já demarcadas com a Constituição de 1988.
Contudo, os indígenas são contra à tese, pois entende que muitas comunidades foram expulsas desses locais antes da Constituição.
Durante o mês de agosto, indígenas de todo o país, inclusive de Roraima, se reuniram em Brasília para acompanhar a votação no STF.
Com outras lideranças, jovens e crianças também se uniram para protestar contra o marco, bem como o Projeto de Lei 490, que entrega a demarcação feita pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Congresso.
Carla esteve com a comitiva de Roraima nos atos em Brasília e diz que, atualmente, este é um dos maiores desafios dos indígenas.
O ministro e relator da ação, Edson Fachin, já rejeitou a tese. Contudo, o julgamento retorna na próxima quarta-feira (15) com o voto do ministro Nunes Marques.
Por Samantha Rufino
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