Esta coluna teve acesso a uma conversa vazada entre a deputada Aurelina Medeiros com um ex-servidor da Assembleia Legislativa de Roraima e invasor de terras.
Eles falam sobre a ação contra o governador Antonio Denarium (PP) por doação de cestas básicas em ano eleitoral. Os dois afirmam que o gestor será cassado. Se não for no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RR), será no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
Leia abaixo a transcrição dos áudios:
Aurelina: “e essa confusão dessa política em Roraima, hein?”
Ex-servidor: “eu acho que o TRE vai cassar. Agora não é por falta de aviso. Eu falei para o Disney… [ex-secretário chefe da Casa Civil, amigo pessoal de Denarium].
Aurelina: “E o clima em Brasília não é bom. Não é o tempo do Bolsonaro, é o clima da perseguição”.
Ex-servidor: “E eu falei para o Disney assim. E o Disney disse: não, já está tudo resolvido. A questão é o seguinte…”.
Aurelina: “… Porque mesmo que resolva aqui, que ganhe, eles estão na expectativa de que vão recorrer”.
Ex-servidor: “Mas acho que aqui eles vão pegar bola nas costas. Por que ele disse assim: no dia 26 está morta. O dr. Francisco [juiz Francisco Guimarães] vai pedir uma questão de ordem. E na questão de ordem o processo vai ser morto…”
Vale lembrar que, na sessão de julgamento do dia 26 de junho, data citada no diálogo, o juiz Ataliba de Albuquerque pediu vistas do processo. Anteriormente, na sessão do dia 30 de maio, o juiz Francisco Guimarães também havia pedido vistas.
O ex-servidor e invasor de terras continua a conversa e diz que também falou pessoalmente com a desembargadora Tânia Vasconcelos.
Ex-servidor: “…Eu conversei com a dra. Tânia [Tânia Vasconcelos, juíza do TRE] na frente do Canarinho. Ela foi lá comer um churrasquinho e eu estava lá. E eu me dou muito bem com ela. Ela gosta muito de mim. Aí eu dei uma de… E disse: ‘doutora, ainda bem que agora as ações’… mas eu sabia que era questão de prazo, mas dei uma de quem não sabia. Eu disse: ‘doutora, é bom que as ações contra o governador, que é a ação do Avante, vocês consideraram irregular, porque estava irregular, né? Então está tudo arquivado, né?’… e ela disse: ‘não’”
Aurelina: “Me parece que essa do Avante estava regular. Porque senão era uma mão na roda”.
Ex-servidor: “… outras sim, essa não”.
Aurelina: “mas porque o Francisco [juiz Francisco Guimarães], o Francisco é fraco”
Ex-servidor: “Como é que eles põem um cara fraco?”
Aurelina: “Mas é a OAB [indicação da OAB]”.
Ex-servidor: “Mas ela disse [desembargadora Tânia Vasconcelos] que essa ação, quando foi proposta, o Avante estava ok. Sete dias depois, ele ficou irregular, e aí ele entrou com outras ações… Aí eu digo: ‘beleza, mas vão suscitar questão de ordem, com relação a questão da falta de comunicar, de dar o direito da livre defesa e do contraditório ao vice [vice-governador Edilson Damião] e ao Republicanos que não teve direito’. Ela [Tânia] disse: ‘Nós estamos cheios de jurisprudências. Isso no início do julgamento já foi julgado’”.
Aurelina: “Agora ela [Tânia] foi tão ingênua no segundo [julgamento]. Ela fez uma questão de ordem… ela fez uma pergunta: ‘não, eu não estava aqui, não estou conseguindo localizar’… deu a entender que ela não olhou nem para o processo… mas a arguição deles… eu acho assim, muito… a saída da gente era o Edilson ficar escondido né? Mas eles suscitaram isso justamente buscando a anulação aí. Mas isso é faca de dois gumes. Embora a gente não tenha muita jurisprudência e dizer assim, quando cassa, cassa a chapa. Mas o fato em si é que o Edilson não era candidato… mas que pessoal burro. Aí o Sadmadson um dia me liga procurando a lei da cesta básica. Ai toca a procurar tudo que é lei da cesta básica. Aí eu vou descobrir a última lei, essa que gerou esse problema. Eu estava internada em São Paulo e não lembrava dessa lei. Eu não vi essa lei… não acredito que ninguém fez…”
A partir desse ponto, a gravação é cortada. Em seguida, Aurelina e o ex-servidor da ALE-RR continuam a conversa de outro ponto, quando falam das atividades na Assembleia. O diálogo mostra a insatisfação da parlamentar sobre projetos apresentados na Casa e critica o presidente Soldado Sampaio (Republicanos).
Aurelina: “Esses deputados novos, esse pessoal ‘estão tudo doido’. E o Sampaio [presidente da ALE-RR, Soldado Sampaio] não controla. Tem uns projetos doidos. Está cheio de projeto que não tem eira e nem beira”.
Ex-servidor: “… Os caras não tem noção do papel do Estado…”.
Aurelina: “… Do próprio papel do legislativo, do legislador. Do que ele pode, do que ele não pode. Eu estou é cansada, é só o que tem hoje na Assembleia. Tirando imposto, botando imposto, dividindo imposto, doando coisas do Governo. Meu Deus do céu… Não dá para mim mais não, com a minha idade”.
Esta coluna entrou em contato com a Assembleia Legislativa de Roraima e com a deputada Aurelina Medeiros para posicionamento sobre o assunto e aguarda retorno.