Recuo
O recuo do governador Antonio Denarium em relação ao projeto que criava uma licença compensatória para servidores em cargos de chefia não é apenas resultado da pressão sindical, é reflexo da completa desconexão entre o Palácio e a realidade enfrentada pela maioria dos trabalhadores do serviço público estadual. Em um momento em que faltam reajustes salariais, concursos, estrutura adequada em escolas e unidades de saúde, propor folga extra ou pagamento em dinheiro para uma cúpula já privilegiada beira o deboche. O argumento de sobrecarga de trabalho até pode ser debatido, mas a solução nunca poderia ser o aumento de benesses para poucos, enquanto a base do funcionalismo amarga anos de desvalorização.
Atitude esperada
Retirar o projeto é o mínimo que se espera. O próximo passo deveria ser ouvir de verdade os servidores que estão na ponta do serviço público e criar medidas que valorizem o coletivo, não só os cargos de confiança. Afinal, quem sustenta o Estado não é quem assina o ponto no gabinete, mas quem enfrenta a falta de recursos e presta serviços em locais que por vezes não tem a devida atenção do poder público.
Promessas em vão
Para entrar no Governo, Denarium prometeu acabar com os privilégios de secretários, como por exemplo, carro pago com dinheiro público para uso pessoal. E hoje, o que se vê é secretários sendo filmados indo para academia nos carros oficiais e até esposa de secretário indo ao supermercado no domingo. Além disso, Denarium também prometeu cadeia para secretários que desviassem dinheiro público. Ele disse que ia sair do Palácio no camburão. E o que se vê? O próprio governador mantendo secretários investigados pela PF e afastados pela Justiça em seus cargos. E ainda pede à Assembleia para aumentar privilégios, como o que o Roraima em Tempo publicou com exclusividade na semana passada.
Transporte escolar
O transporte escolar do município de Bonfim está novamente no centro de uma apuração, desta vez por suspeitas de irregularidades na contratação de empresa para o serviço. O Ministério Público de Roraima (MPRR) instaurou um inquérito civil para investigar o processo, vinculado à Secretaria Municipal de Educação. Licitações de transporte escolar frequentemente se tornam alvo de investigações no interior. Isso mostra o quanto alguns gestores tratam com desatenção algo essencial para garantir o direito à educação de crianças e adolescentes, especialmente na zona rural. O que deveria ser planejado com responsabilidade, acaba sendo feito de forma apressada, sem transparência ou critérios técnicos claros.
Duodécimo
O MPRR também vai investigar possíveis irregularidades no repasse do duodécimo da Prefeitura de Normandia à Câmara Municipal. Pode parecer um assunto técnico , mas estamos falando de algo fundamental: o respeito à divisão e à autonomia dos poderes. Quando o repasse do duodécimo não é feito ou sofre atrasos, compromete diretamente o funcionamento do Poder Legislativo, afeta servidores, trava projetos e enfraquece a fiscalização, justamente o papel da Câmara perante o Executivo. Se confirmada a irregularidade, a Prefeitura de Normandia não estará apenas desrespeitando a lei, mas também impedindo que o sistema democrático funcione de forma plena.

