Especialistas alertam que em 20 anos, cigarro eletrônico pode causar epidemia global de câncer

Com apelo jovem, sabor adocicado e forte presença nas redes sociais, os dispositivos eletrônicos reacendem velhos riscos sob uma nova embalagem

Especialistas alertam que em 20 anos, cigarro eletrônico pode causar epidemia global de câncer
Foto: reprodução / Freepik

Recentemente, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) notificou plataformas como Instagram, YouTube, TikTok, Mercado Livre e Enjoei para que retirem do ar, em até 48 horas. Os conteúdos e anúncios que promovam ou comercializem cigarro eletrônico, tem a venda proibida no Brasil desde 2009

A determinação surgiu após o Conselho Nacional de Combate à Pirataria identificar mais de 1.800 conteúdos ilegais, sendo a imensa maioria no Instagram. Contas de vendedores e influenciadores que promovem os produtos somam quase 1,5 milhão de seguidores, o que revela o tamanho da influência digital por trás da nova epidemia de nicotina.

Apesar de muitas vezes vendidos como alternativas “mais seguras” ao cigarro convencional, os dispositivos vêm se tornando porta de entrada para o vício em nicotina. Especialistas acreditam que esse pode ser o estopim de uma futura epidemia de câncer. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o uso do cigarro eletrônico aumenta em mais de quatro vezes a chance de um não fumante passar a consumir o cigarro convencional 

“Se mantivermos o ritmo atual de consumo entre adolescentes e jovens adultos, em 20 anos estaremos enfrentando uma nova onda global de câncer de pulmão. É uma repetição do que vimos no século passado com o cigarro tradicional. Mas agora sob um novo disfarce”, alerta o oncologista William Nassib William Jr, líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclínicas&Co.
 

Em uma entrevista recente, a pneumologista Margareth Dalcomo fez um alerta que reforça ainda mais o cenário: “Temos atendido adolescentes de 15, 16 anos com danos nos pulmões que estamos acostumados a ver em pessoas que fumam há 40, 50 anos”. Ela explicou ainda que esses dispositivos são consumidos continuamente, com altas doses de nicotina e outras centenas de substâncias químicas, muitas vezes sem qualquer controle de fabricação.
 

Ameaça preocupante

A Geração Z, nascida entre 1997 e 2012, estava prestes a ser a primeira a se afastar definitivamente do cigarro. No entanto, a chegada dos dispositivos eletrônicos mudou esse cenário. Com apelo tecnológico, sabores atrativos e forte presença nas redes sociais, os vapes conquistaram os jovens e já preocupam a comunidade médica. 

“Hoje, temos adolescentes que sequer experimentaram um cigarro tradicional, mas já são dependentes de nicotina. Isso representa um retrocesso grave em termos de saúde pública”, afirma o oncologista. 

Cigarros eletrônicos, vaporizadores e dispositivos aquecidos têm ganhado espaço principalmente entre os jovens, reacendendo um alerta global sobre os riscos do consumo de nicotina e a necessidade urgente de políticas de prevenção mais eficazes. Para o especialista, trata-se de um ciclo vicioso altamente perigoso.

“A falsa sensação de segurança em relação aos dispositivos eletrônicos cria um terreno fértil para o vício. Precisamos agir com urgência para evitar que uma nova geração sofra as consequências que já conhecemos tão bem”, complementa.
 

Riscos desconhecidos
 

Embora os efeitos de longo prazo do cigarro eletrônico ainda estejam sendo estudados, os indícios atuais já são preocupantes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), adolescentes que utilizam vapes têm maior propensão a se tornarem fumantes na vida adulta. Além disso, há registros crescentes de lesões pulmonares associadas ao uso dos dispositivos — algumas, inclusive, fatais.
 

“Estamos apenas começando a entender os efeitos dos cigarros eletrônicos. Sabemos que causam inflamações pulmonares, prejuízos cardiovasculares e danos à saúde bucal. Mas é provável que as consequências mais severas, como o aumento de tumores, só apareçam nas próximas décadas. Isso exige ação preventiva imediata”, ressalta o oncologista.
 

Parte da gravidade do problema está no potencial viciante dos vapes: dispositivos com aparência inofensiva podem conter doses de nicotina equivalentes a até cinco maços de cigarro comum. “A nicotina por si só não causa câncer, mas ela é o que sustenta o vício. E quanto maior o vício, maior a exposição a substâncias que, essas sim, são cancerígenas”, explica.
 

Muitos não reconhecem os sinais do vício nem compreendem o impacto que o uso frequente pode ter na saúde a longo prazo. Essa banalização do consumo torna ainda mais difícil interromper o ciclo antes que ele se consolide, reforçando a necessidade de campanhas educativas que falem a linguagem dessa nova geração.

“É fundamental que as autoridades, escolas, famílias e profissionais de saúde se mobilizem. A batalha contra o cigarro tradicional foi longa e salvou milhões de vidas. Não podemos perder essa guerra agora para os cigarros eletrônicos”, finaliza William Nassib William Jr.
 

Fonte: Da Redação

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