Saúde

Funai impede Fiocruz de levar atendimento médico aos Yanomami

A Fundação Nacional do Índio (Funai) proibiu que uma equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entrasse na Terra Indígena Yanomami. Os indígenas enfrentam crise na saúde com epidemia de malária e grande número de crianças desnutridas.

Segundo Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), a equipe composta por 18 profissionais iria a três comunidades atender cerca de 900 pessoas. Além disso, eles iriam realizar exames nos rios e peixes da região, onde de acordo com Kopenawa, a água está “suja e muito poluída”.

Dario ressaltou que as lideranças das comunidades convidaram a equipe da Fiocruz há cerca de 3 meses. Dessa forma, eles já haviam realizado uma grande logística para receber os profissionais.

“Então isso estava tudo organizado. E quando a Funai proibiu a entrada dos médicos a gente ficou muito brabo, muito revoltante. É um absurdo a informação. Essas equipes são médicos pra apoiar a assistência na saúde da comunidade. Combate de malária, combate de desnutrição, combate de outras doenças que estão nos infectando”, relatou.

Invasores

A proibição da Funai causou revolta nas lideranças, que não entendem porquê o órgão proíbe a entrada de médicos nas comunidades, mas não faz nada quanto aos “invasores” que estão lá.

“A Funai deveria proibir a entrada dos invasores, fazendeiros, madeireiros, roceiros, grileiros. Isso é obrigação da Funai! Mas ela não pode proibir uma equipe de saúde de cuidar das nossas crianças e idosos”, disse Dario.

O representante dos Yanomami disse que a Funai barrou a entrada dos profissionais por meio da Portaria que proíbe entrada na TI Yanomami, de forma a evitar a transmissão de Covid-19 nos povos originários. No entanto, Kopenawa ressaltou que a equipe já havia realizado todos os exames e enviado para a Fiocruz, seguindo os protocolos de saúde.

As lideranças exigem uma resposta da Funai. Para eles, essa proibição é um desrespeito com todos os indígenas da etnia.

“A Funai está desrespeitando a cultura Yanomami, os Yanomami e o direito dos Yanomami”, enfatizou Kopenawa.

Malária e Desnutrição

A malária é uma das doenças que costuma vitimar muitas crianças Yanomami. Dessa forma, só na última semana duas crianças morreram por falta de atendimento médico, ambas com sintomas de malária e pneumonia.

Em menos de dois anos, foram registrados cerca de 44 mil casos da doença nas comunidades Yanomami. Um índice maior do que a própria população, que é de 28 mil pessoas. Além disso, somente em 2020, a TI concentrou 47% de todos os casos de malária em TI´s do Brasil.

Ações

Devido à crise na saúde dos Yanomami, o Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira (17), deu cinco dias para que o Governo Federal detalhe a situação do povo Yanomami. Também solicitou que assegure as condições mínimas às comunidades.

Além disso, no dia 15 deste mês, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI Yanomami) um plano de reestruturação da saúde dos povos indígenas, que deve ser entregue em até 90 dias.

De acordo com o MPF, os órgãos receberam cerca de R$190 milhões para prestação de serviços de saúde nos últimos dois anos. Contudo, a saúde indígena tem apresentado pioras “impressionantes” nos indicadores.

Citado

A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou em nota que as autorizações para ingresso em Terras Indígenas estão suspensas desde março de 2020, como medida preventiva à pandemia de Covid-19.

Devido a isso, de acordo com o órgão, todas as autorizações para pesquisas que impliquem ingresso em Terra Indígena também estão suspensas.

A redação entrou em contato com a Fiocruz e aguarda resposta.

Fonte: Da Redação

Fabiola Valentina

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