
A saúde foi o setor que mais gerou controvérsias nos mais de seis anos do Governo de Antonio Denarium (Progressistas). Uma das principais foi a obra de reforma da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, que, mesmo com a primeira etapa concluída, não resolveu os problemas no atendimento enfrentados pela população.
Seja na estrutura provisória de tendas e lonas no bairro 13 de Setembro ou no prédio reformado no São Francisco, a Maternidade de Roraima foi um centro de denúncias e polêmicas.
Com duração de funcionamento prevista para apenas seis meses, o complexo temporário funcionou por três anos por conta do atraso do Governo do Estado para entregar a primeira etapa da reforma do prédio original.
Durante esse tempo, mais de R$ 90 milhões foram aplicados. Conforme a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinf), R$ 17 milhões de emendas parlamentares destinadas à obra entre 2020 e 2021 foram perdidas.
Vídeos gravados por funcionários e acompanhantes obtidos pela TV Imperial no período mostram lonas derrubadas em temporais, estrutura interna comprometida e ratos dentro da unidade.
Mortes de bebês
Um levantamento feito pelo Roraima em Tempo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) mostrou que, só em 2023, o número de bebês mortos na estrutura temporária chegou a 171.
Esse registro foi o maior em 16 anos e quase 70% maior que o registrado no ano anterior. À época, a Pasta informou que a falta de acompanhamento pré-natal e a crise migratória na fronteira com a Venezuela eram os motivos.
Com os repetidos atrasos e em meio às denúncias, em março de 2023, o Governo de Roraima teve que assinar um acordo com o Ministério Público para concluir a reforma da Maternidade em até um ano. Mesmo assim, o Estado precisou de mais tempo e a entrega só ocorreu em setembro do ano passado.
Esquemas
Depois da conclusão dos trabalhos da primeira etapa da unidade, as controvérsias continuaram. No mês seguinte à entrega da Maternidade, o Roraima em Tempo revelou um suposto esquema em que médicos que atuam pelo Núcleo Interno de Regulação do local seriam pagos pelos plantões sem trabalhar.
Conforme a denúncia recebida pela reportagem, o responsável pelo esquema era a própria coordenadora do Núcleo. Outros médicos também seriam favorecidos com a situação, além de técnicas de enfermagem que receberiam dinheiro para bater o ponto pelos profissionais na unidade.
Procurada, a Secretaria de Saúde negou qualquer favorecimento na escala e informou que um procedimento apuratório seria instaurado para analisar a denúncia.
Denúncias
Ainda em setembro de 2024, a TV Imperial mostrou a história da família de Carmem Elisa Emiliano, gestante que morreu ao dar à luz no até então recém-inaugurado prédio da Maternidade. O bebê também não resistiu.
Na época, o marido dela alegou problemas para acomodar a paciente quando os dois chegaram à unidade. Outra situação apontada pela família foi a suposta falta de oxigênio.
A Sesau contestou as alegações e informou que a mulher deu entrada na Maternidade com quadro de convulsão, em pré-eclâmpsia e chegou a sofrer paradas cardiorrespiratórias. Em seguida, teria sido levada ao centro cirúrgico para um parto cesárea, em que o bebê foi retirado sem vida.
Conforme a cunhada da paciente, existia o temor de que houvesse problemas no atendimento na Maternidade. “Ela chegava para mim e falava: ‘Dri, eu estou com medo de ir para aquela maternidade e não poder sair de lá com a minha filha ou eu mesma não sair de lá viva. Então ela já sabia que alguma coisa ia acontecer com ela, até porque eles estavam tentando vender o carro para fazer o parto na rede particular, mas acabou que não conseguiram”, disse.
Neste mês, a família de Gabrielle Ribeiro Diniz, de 21 anos, falou à TV Imperial sobre o atendimento da paciente na Maternidade. Era a segunda vez que ela ia à unidade, onde teria sido maltratada durante a internação.
“Nos primeiros dias que ela chegou lá que estavam fazendo exames nela, debocharam da cara dela, dizendo que quando ela foi fazer, ela era legal e agora estava sofrendo. Até isso aí ela sofreu muito. Ela só está fazendo exame, exame e ela dilatou até agora só um centímetro. O que um governador desse está fazendo no poder? Já teve não sei quantas cassações e não sai, e aí o pessoal fica sofrendo”, desabafou a tia da paciente.
Fonte: TV Imperial