O Ministério Público Federal (MPF) pediu a condenação do ex-secretário da Saúde Francisco Monteiro e do ex-coordenador de Urgência e Emergência Francisvaldo Paixão por improbidade administrativa.
Eles estão sendo acusados de comprar irregularmente 30 respiradores da empresa CMOS Drake. O processo corre na Justiça Federal.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) comprou os aparelhos e pagou R$ 6,4 milhões de forma antecipada. O caso repercutiu após a imprensa noticiar a denúncia.
O Roraima em Tempo ligou para os advogados dos envolvidos, mas eles não atenderam as ligações.
Fatos narrados pelo MPF
No documento obtido com exclusividade pelo Roraima em Tempo hoje (30), o MPF cita que os dois agiram com dolo, não seguiram os trâmites administrativos, e montaram o processo de compra.
Francisvaldo está sendo acusado de facilitar a compra superfaturada, e não publicar os atos oficiais da dispensa de licitação.
Do mesmo modo, Francisco está sendo denunciado por operação financeira ilegal, ordenar pagamento de forma antecipada, e não publicar os atos da dispensa de licitação.
O procurador Rodrigo Mark Freitas diz que, mesmo em meio à pandemia, a Lei 13.979/20 determina quais documentos precisam estar disponíveis em sites oficiais do governo.
Por causa dessa falta de transparência, o MPF afirma que as práticas dos dois estão na “contramão dos preceitos republicanos”.
Sem parecer
Rodrigo fala ainda que, durante a defesa no processo, Francisvaldo negou ser o responsável por providenciar a publicação da dispensa.
Contudo, um documento assinado por ele pediu ao Diário Oficial do Estado a publicidade do ato. Conforme o MPF, isso derruba a justificativa apresentada.
De acordo com o procurador, a Controladoria e a Procuradoria Geral do Estado também não receberam o processo da compra para uma auditoria interna.
Somente após o pagamento milionário, a Controladoria emitiu um parecer e culpou Francisvaldo pela irregularidade.
MPF cita montagem
O procurador também cita uma nota da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre os “fortes indícios de montagem do processo”.
É que Francisvaldo pediu a pesquisa de preços um dia depois do pagamento à CMOS Drake, no dia 31 de março. As páginas não seguem uma ordem cronológica, o que sustenta a hipótese de fraude.
Para o procurador, Francisvaldo e Francisco levaram o governo a comprar “equipamentos superfaturados, ainda que os valores desses itens estivessem em geral afetados pela crise sanitária internacional”.
Rodrigo sustenta o superfaturamento ao anexar o depoimento de um servidor da Cotação, da Secretaria de Saúde.
Nele, o funcionário fala que levou propostas de respiradores por R$ 20 mil, em média, mas rejeitaram a opção mais barata.
Além disso, o procurador cita uma proposta de outra empresa: seriam 80 respiradores por R$ 64,9 mil cada. Por outro lado, os que foram comprados custaram R$ 226 mil cada. Os equipamentos tinham a mesma descrição técnica.
A CMOS Drake, no entanto, nega o superfaturamento, e diz que a pandemia causou elevação dos preços devido à falta de matéria-prima.
Acordo
Em março de 2020, a Rádio 93FM revelou a compra superfaturada dos respiradores durante a primeira onda da Covid-19 no estado. O Roraima em Tempo confirmou as informações.
O caso levou à queda Francisco Monteiro do cargo de secretário. Além disso, o governador Antonio Denarium (sem partido) disse que não sabia da compra e decretou intervenção jurídica na pasta, e exonerou diversos servidores.
A compra foi feita com recursos federais. Por isso, a ação foi enviada à Justiça Federal. O caso dos respiradores é investigado pela Polícia Federal. Um deputado estadual é suspeito de participar do esquema.
Em outubro do ano passado, depois de negociações, a empresa decidiu devolver o dinheiro com juros e correção monetária, e fechou um acordo com a União.
O dinheiro foi depositado em uma conta judicial para ser transferido ao Fundo Estadual de Saúde. Assim, por causa do acordo, a justiça entendeu que não houve improbidade por parte da empresa.
Por Josué Ferreira, Samantha Rufino