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População é convocada a participar de manifestação em frente a Maternidade de RR após morte de bebê e mãe - Roraima em Tempo

População é convocada a participar de manifestação em frente a Maternidade de RR após morte de bebê e mãe

Protesto está marcado para as 16h desta segunda-feira, 23. Movimento ocorre em homenagem à Carmen Elisa Emiliano Silva e à sua filha que morreu na unidade, segundo a família, por falta de oxigênio no local

População é convocada a participar de manifestação em frente a Maternidade de RR após morte de bebê e mãe
Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth – Foto: Lara Muniz/Roraima em Tempo

A população de Boa Vista foi convocada para uma manifestação em frente à Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, no bairro São Francisco. O protesto vai acontecer nesta segunda-feira, 23, às 16h.

Conforme comunicado divulgado à imprensa, o movimento será em homenagem à Carmen Elisa Emiliano Silva e à sua filha que morreu na unidade, segundo a família, por falta de oxigênio no local. A mulher também morreu no último sábado, 21, na UTI do Hospital Geral de Roraima após sofrer complicações no parto.

“Mais uma tragédia envolvendo uma mãe em gravidez de risco e um bebê que teve segundos de vida, segundo testemunhas. É necessário que nós, moradores de Boa Vista, tenhamos a sensibilidade e empatia com todos os envolvidos nessa terrível e triste história em que não há nenhuma transparência por parte das instâncias oficiais sobre o caso. Venha prestar sua homenagem, sua revolta, seu grito contra a morte de mulheres, mães e crianças, algo que já é ‘recorrente’ em nossa realidade”, ressaltou o texto.

O pai do bebê e marido da paciente, Rodrigo Silva, vai participar da mobilização. Acima de tudo, ele pede esclarecimentos sobre a morte da sua filha e da esposa, Carmen Elisa.

“O que está acontecendo na maternidade é uma situação muito grave. Tem muitas mães que já perderam os seus bebês, já aconteceu algo grave. E a gente não pode deixar isso impune. Por isso que a gente está mobilizando isso, para a gente tentar evitar isso ao máximo possível. Eu perdi uma filha, perdi uma esposa e vamos atrás disso para esclarecer isso tudo direito, porque o Governo, a Sesau estão dizendo nas notas deles que isso tudo aconteceu botando a culpa na minha esposa. Além de ela perder a vida, ainda estão querendo culpar ela. E isso é muito revoltante”, disse o pai do bebê que morreu na maternidade.

Entenda

Um recém-nascido morreu na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth no dia 14 de setembro. Para a família, tratou-se de um caso de negligência.

O pai do bebê e marido da paciente detalhou sobre o óbito da criança e afirmou que não havia oxigênio para a filha no local.

O homem relatou demora para o atendimento e também para encontrar oxigênio para a esposa. Segundo ele, o problema começou ainda na entrada da mulher na maternidade, com a dificuldade para conseguir um leito.

“Demoraram muito para atender ela. Médicos e enfermeiros não estavam apreensivos […] Ela estava entubada e respirando normal, a minha esposa. Depois que tiraram o tubo e trouxeram ela para respirar normal, o quadro dela começou a piorar e começou a ficar roxa. Eu chamei os médicos, os enfermeiros, mas teve uma hora que não tinha oxigênio na Ala das Orquídeas, não tinha oxigênio lá. Foram atrás em outra ala e não tinha oxigênio também lá. Caçaram muito esse oxigênio, demoraram muito para encontrar e poder levar ela para a sala da cesárea. Mas ela não estava mais respirando, estava ficando roxa. Demoraram muito para atender ela, para conseguir um leito. Ela estava com pressão alta e gritava muito, mas demorou muito para ela ser atendida”, disse o marido da paciente.

Oxigênio

Ainda de acordo com Rodrigo, a esposa teve uma parada cardiorrespiratória. Na sequência, a mulher precisou passar por uma cesariana. O pai da criança afirma que, posteriormente, foi informado de que não havia oxigênio para o bebê.

“Mandaram eu sair, mas eu ainda consegui ver. Tentaram fazer a remoção da neném, aplicaram remédio nela para ela voltar. E foi a médica que falou para mim que não tinha oxigênio para a bebê, que só tinha oxigênio para a mãe e que não poderiam fazer nada. Isso é um descaso e falta de respeito. Lá na sala da cesárea, a médica me informou, ela falou para mim próprio que não tinha oxigênio lá na sala de parto cesariana”, relatou o pai da criança.

UTI

Após complicações no parto, Carmen Elisa precisou ser encaminhada para o Hospital Geral de Roraima. Conforme o marido dela, por falta de UTI na maternidade.

“Ela chega boa e agora está desse jeito, respirando por aparelho. Isso é um descaso. A Sesau disse que desmentiu, mas se eu estava lá, vi tudo, estou com a perda de uma filha e não estou aqui para mentir. Não quero nada, só quero Justiça”, exclamou Rodrigo.

O Roraima em Tempo chegou a questionar a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) sobre o porquê da transferência da mulher para o HGR, visto que o governador Antonio Denarium (Progressistas) afirmou, durante a inauguração da reforma do prédio da maternidade no dia 6 de setembro, que agora o local conta com cinco leitos de UTI materna. No entanto, a pasta não respondeu ao questionamento.

Revolta

A Sesau publicou uma nota para tentar desmentir a família da paciente e acusar a imprensa de fake news. Contudo, várias pessoas demonstraram revolta na publicação.

“Fake News nada governador, respeita o povo roraimense , a família não iria conceder entrevista se fosse mentira. Mais empatia pelas mulheres”, disse uma internauta na página oficial do Governo de Roraima.

“Achei que a nova maternidade contava com leitos de UTI conforme pronunciado na propaganda do governo”, questionou outra pessoa.

Um outro internauta reclamou que o Governo de Roraima, conforme ele, só dá assistência ao povo em época de eleições.

“Vocês dão assistência em tempo de campanha né? Por quê nunca ouve nota sobre os fatos que vem acontecendo na maternidade, só quem entra lá dentro seja pra acompanhar ou dar a luz sabe como é. Ainda tem gente querendo dar a prefeitura pra esse povo”.

O que diz a Sesau

Procurada, a Secretaria de Saúde afirmou que todos os protocolos médicos foram adotados de forma correta no atendimento da paciente e que a denúncia de óbito neonatal por falta de oxigênio não procede.

Além disso, a pasta disse que durante o atendimento, foi verificado que a paciente realizou quatro consultas de pré-natal e nenhum exame apontou para quadro de hipertensão de diabetes, nem tipagem sanguínea, “aumentando os riscos de complicação de saúde”.

A Sesau destacou que após estabilizar a paciente, os médicos realizaram uma cirurgia cesárea de emergência para salvar o bebê, mas o feto estava sem vida.

“Portanto, é totalmente inverídica a suposição de que teria havido falta de oxigênio, insumos ou qualquer outro procedimento necessário no atendimento à mãe e ao bebê. Ao contrário, a equipe de plantão realizou todos os procedimentos possíveis para salvar a mãe e o bebê do quadro de eclampsia”.

A Secretaria reforçou ainda que a maternidade possui uma rede de gases medicinais segura, além de suporte de cilindros de oxigênio para utilização em qualquer eventualidade.

Já na noite deste sábado (21), após a morte de Carmem, a Sesau afirmou que a paciente deu entrada na Maternidade na madrugada do dia 14 de setembro, em estado gravíssimo, com sinais e sintomas clínicos e laboratoriais de pré-eclampsia e síndrome HELLP, uma complicação grave da gravidez que pode causar lesões em órgãos e levar à morte da mãe e do bebê.

Diante da situação crítica, recebeu a medicação padrão-ouro preconizada pelo Ministério da Saúde e após estabilização do quadro inicial, foi realizada uma cirurgia cesárea de emergência, na tentativa de salvar o bebê, que não apresentou sinais vitais ao nascer e não reagiu às tentativas de reanimação, sendo considerado natimorto.

A Pasta voltou a afirmar que a paciente não havia feito o pré-natal de forma correta. “É necessário informar que a paciente não havia feito pré-natal adequado, não realizou exames preconizados pelo Ministério da Saúde e não seguiu o protocolo para mulheres com histórico de pré-eclampsia anterior”.

Além disso, a Sesau informou que solicitou instauração de inquérito, encaminhou o caso para o Conselho Regional de Medicina (CRM) e lamentou a morte de Carmen.

“A Sesau reafirma o compromisso com a transparência e a qualidade no atendimento prestado pelos servidores do quadro da rede estadual de saúde, razão pela qual solicitou da Polícia Civil instauração de inquérito para apurar o caso, uma vez que todos os procedimentos técnicos foram realizados e utilizados todos os componentes essenciais para preservar a vida humana e também encaminhou o caso o Conselho de Ética do CRM, responsável pela apuração da conduta dos profissionais envolvidos no atendimento em questão”.

Fonte: Da Redação

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