Sem apoio do Governo de Roraima, indígenas resolvem por conta própria construir escola no Uiramutã

Segundo denúncia, alunos recebem aulas em condições precárias e estudam na nova instalação da escola ainda em construção

Sem apoio do Governo de Roraima, indígenas resolvem por conta própria construir escola no Uiramutã
Construção da Escola Indígena Santa Rosa – Foto: Divulgação/ Roraima em Tempo

Moradores da comunidade indígena de Sauparú no município de Uirimutã, extremo norte de Roraima, resolveram construir a nova sede da Escola Estadual Indígena Santa Rosa, com esforço conjunto e recursos do próprio bolso. Segundo denúncia ao Roraima em Tempo nesta quinta-feira, 8, há o total abandono por parte dos órgãos públicos e moradores cansaram de esperar.

De acordo com Fernando de Souza Bristol, liderança da comunidade, a região não tem escola estadual nas proximidades. Dessa forma, a necessidade da construção de uma unidade para atender as crianças da comunidade é de extrema urgência.

“Em todas as comunidades, aqui na região de Ingaricó, não tem nenhum tipo de escola construída pelo Governo do Estado. Como nós estamos fazendo uma construção de uma escola aqui na comunidade com dinheiro do próprio bolso, estamos precisando de um apoio. Apoio do Governo, secretaria do Índio, secretário de Educação, deputados, senadores, deputados federais, estaduais. Estamos precisando”, explicou o líder.

Condições precárias

Ainda segundo a liderança, a nova escola está sendo construída devido à precariedade da antiga sede da Escola Santa Rosa, cuja infraestrutura oferece riscos aos estudantes.

“Aqui na comunidade tinha escola, só que já tá caindo, por isso não tem condições de atender os alunos no tempo do inverno. Tá pingando muito na escola, fica pingando na parede, fica tudo molhado. Então essa escola foi construída com dinheiro do próprio bolso, não é? Com ajuda das famílias também e é por isso que nós estamos construindo uma nova escola aqui na comunidade”.

construção escola
Antiga sede da Escola Estadual Indígena Santa Rosa – Foto: Arquivo pessoal

Devido a urgência em atender a necessidade de aprendizado dos alunos e a antiga escola não oferecer estrutura adequada, a nova escola, mesmo que em fase de construção, já recebe os alunos e professores na nova rotina letiva.

“Nessa escola nova, os alunos estão sendo atendidos mesmo assim, ainda construindo mesmo. E os alunos estão tendo aula aqui na comunidade nessa nova escola. A professora tá dando aula normal”, ressaltou.

Além disso, o líder da comunidade ressalta sobre a dificuldade na construção da escola. Mais que a arrecadação de fundos, a logística e transporte de materiais de construção são principais fatores que influenciam para a finalização das obras.

“Aqui é um processo difícil, só chega de avião e esse material que nós estamos trazendo é de outras comunidades. É de Boa Vista pra cá, do Uiramutã pra cá e a gente paga frete, não é? Só do Uiramutã pra cá é R$2.000 o frete. A gente paga o frete para trazer os materiais de construção até aqui na comunidade”.

Sensação de abandono

Quando perguntado sobre apoio por parte do Governo de Roraima, Fernando explica que em nenhum momento a comunidade recebeu suporte de órgãos públicos.

“O Governo do Estado nunca chegou aqui na comunidade pra ver a dificuldade da comunidade, a necessidade da comunidade. O Governo nunca chegou aqui pra falar com a gente sobre esse assunto, sobre a construção de uma escola, nunca falou assim com a gente, nunca chegou aqui na comunidade. Por isso estamos construindo a nossa escola“, desabafou o líder.

Citada

Por meio de nota, a Secretaria de Educação e Desporto (Seed) afirmou que acompanha com atenção a situação da Escola Estadual Indígena de Santa Rosa.

“De acordo com o Censo Escolar mais recente, a unidade conta atualmente com três alunos matriculados. Por esse motivo, a construção de uma nova estrutura escolar está condicionada ao aumento da demanda estudantil, uma vez que obras desse porte exigem planejamento técnico, logístico e orçamentário compatível com a quantidade de estudantes atendidos”, explicou.

Disse ainda que é Importante ressaltar que, mesmo diante da ausência de estrutura física própria na comunidade, os alunos não estão desassistidos. A Secretaria informou que garante o acesso à educação por meio da oferta regular de transporte escolar, assegurando que todos tenham condições de frequentar a escola de forma adequada.

Outro caso

Em menos de duas semanas, essa é a segunda vez em que o Roraima em Tempo recebe denúncia envolvendo construção de escolas estaduais apontando o descaso com a educação na área indígena.

No dia 29 de abril, alunos e moradores da comunidade São Mateus denunciaram que as obras de ampliação da Escola Indígena de mesmo nome estavam paralisadas há mais dois meses, e nem sequer tinha saído do alicerce, afetando diretamente no aprendizado dos estudantes.

O que nós estamos cobrando aqui é o direito de um aluno indígena estudar em quatro paredes na qual ele é merecedor de estudar, como aluno digno de uma sociedade brasileira, e os professores também trabalharem numa sala de aula“, reivindica o líder da comunidade, Kennedy Lima.

Por meio de nota, a Secretaria de Infraestrutura (Seinf) negou a denúncia e disse que, atualmente, o pagamento para a empresa responsável pelos serviços encontra-se em dia. Entretanto, explicou que, devido à complexidade logística do envio da grande quantidade de material de construção para a localidade, o cronograma dos serviços sofre alterações.

Por fim, informou que já realizou a conclusão dos serviços de fundação, que a próxima etapa é a construção da superestrutura de alvenaria, e que aumentará seus esforços para avançar com os serviços e entregar a escola para a comunidade no tempo mais ágil possível.

Fonte: Da Redação

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