A Hutukara Associação Yanomami (HAY) emitiu nota de repúdio nesta sexta-feira (17). A entidade repudiou a participação dos senadores de Roraima, Chico Rodrigues (PSB), Hiran Gonçalves (PP) e Mecias de Jesus (Republicanos) na Comissão Temporária Externa para acompanhar a situação dos Yanomami no Senado.
Assim, a associação alega que os parlamentares são declaradamente a favor do garimpo em Roraima e estão presidindo a comissão que vai acompanhar a saída dos garimpeiros da Terra Yanomami.
“Há anos a Hutukara vem denunciando a invasão do garimpo na Terra Indígena Yanomami e suas consequências com a devastação e contaminação do meio ambiente, doenças como malária e desnutrição, violências como estupros e aliciamento, levando muitas mortes aos nossos parentes, enquanto esses senadores nunca apoiaram as causas dos povos indígenas em Roraima e ainda estimularam a invasão do garimpo em nossas terras”.
A nota de repúdio destaca ainda que considera “inadmissível que esses senadores façam parte dessa Comissão para acompanhar a situação da crise humanitária e sanitária Yanomami”.
Chico Rodrigues
Conforme a Hutukara, Chico Rodrigues, era dono de avião que circulava no garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Em 2020, agentes da Polícia Federal o flagraram com R$ 33 mil na cueca. Com ele foi apreendido uma pedra que suspeitava ser uma pepita de ouro. Fato que ocorreu durante uma operação para apurar um suposto esquema criminoso de desvio de recursos públicos para o combate à Covid-19 em Roraima.
Além disso, o texto relata que o senador disse em entrevista à Globo News, nesta quinta-feira (16), que o povo Yanomami é a “última etnia do planeta no século 21 que ainda é primitiva, totalmente primitiva”.
“Lamentavelmente, a fala desse senador mostra seu total desconhecimento da realidade do povo Yanomami, não conhece a nossa cultura, a nossa crença. Como autoridade, ao nos chamarmos de primitivos só demostra seu preconceito, racismo e discriminação. Um senador que dá mal exemplo, nem deveria estar no poder”, diz trecho do documento.
A nota rebate o posicionamento do senador e considera a fala dele como colonizadora.
“Repudiamos com veemência essa fala colonizadora, nos reduzindo a incapazes. Nós não somos primitivos. Temos conhecimentos. Somos os povos da floresta. Somos sabedores e temos nosso próprio pensamento. E somos filósofos de tudo que existe na nossa vida com a Mãe-Terra”.
Mecias de Jesus
Sobre o senador Mecias de Jesus, a associação diz que ele também não deveria fazer parte da comissão. Pois em 2019, a empresa Voare, única que presta viagens aéreas para a TIY o denunciou por cobrança de propina, achaque e fraude em licitação.
Além disso, destaca Mecias como responsável pelas indicações no Dsei-Yanomami, que resultaram na falta de medicamentos e atendimentos médicos.
“No governo de Jair Bolsonaro, o senador foi nomeado para “cuidar da Terra Yanomami”, passando a
fazer as indicações para a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena. Foram indicações negativas para os Yanomami e Ye’kuana, irresponsáveis e criminosas, com falta de medicamentos e atendimentos médicos. A corrupção se instalou no distrito e a nossa saúde foi negligenciada e muitas mortes aconteceram, um verdadeiro plano de genocídio e extermínio do nosso povo”.
Hiran Gonçalves
Do mesmo modo, a Hutukara repudiou a participação do senador Hiran Gonçalves na comissão. De acordo com a associação, o parlamentar é grande aliado e apoiador do governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), que é um grande incentivador do garimpo.
Assim, a nota ressaltou que o Denarium sancionou, em 2021, uma lei de sua própria autoria, que autorizava o garimpo em Roraima com o uso de mercúrio. Além disso, ainda sancionou outra lei que proibia a destruição dos bens de garimpo apreendidos em terras indígenas.
Da mesma forma, outro ponto que a Hutukara considerou importante destacar é que Hiran nunca se posicionou na Câmara sobre PLs que prejudicam os indígenas.
“Enquanto deputado federal, Hiran Gonçalves,nunca se posicionou contra o PL490, que prevê alterações nas regras de demarcação de terras indígenas; PL191, que autoriza a mineração e construção de hidrelétricas em terras indígenas e o Marco Temporal, que altera a política de demarcação de terras indígenas”.
Por fim, a nota diz que os três senadores são inimigos dos povos indígenas de Roraima. E então diz que eles é quem deveriam responder pela crise que os Yanomami enfrentam.
“Foram 570 crianças mortas durante o governo Bolsonaro com o apoio desses senadores. Nós temos o nosso protocolo de consulta da Terra Yanomami, deveríamos ser consultados, temos o direito de receber e de negar a presença de qualquer autoridade na nossa Terra. Não queremos esses políticos sujos acompanhando as atividades humanitárias e nem de desintrusão do garimpo ilegal no nosso território, que é um território sagrado para o nosso povo”, finaliza o texto.
Fonte: Da Redação