“Depois que os garimpeiros que cobiçam o ouro, estragaram as vaginas das mulheres, fizeram elas adoecer […] três moças, que tinham apenas por volta de 13 anos, morreram”. O relato acima mostra a violência causada pela presença de garimpeiros que estupraram mulheres e crianças na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.
Os depoimentos são de mulheres da própria comunidade e constam no relatório da Hutukara Associação Yanomami divulgado nesta segunda-feira (11). Elas afirmam que os invasores geram um clima de terror e angústia à população.
“Quando as pessoas disseram que eles se aproximavam, eu fiquei com medo. Por isso, desde que ouço falar dos garimpeiros, eu vivo com angústia”, disse uma denunciante.
Conforme o relatório, a maioria dos abusos ocorre após os garimpeiros embriagarem os indígenas. Em um dos casos recentes, um suspeito ofereceu drogas e bebidas à população e estuprou uma criança da comunidade.
Ainda de acordo com o documento, os indígenas chegam a passar fome na região. Por isso, os garimpeiros se aproveitam da vulnerabilidade social nas comunidades para estuprar as mulheres e crianças.
“Após os Yanomami solicitarem comida, os garimpeiros rebatem sempre. (…) ‘Vocês não peçam nossa comida à toa! É evidente que você não trouxe sua filha! Somente depois de deitar com tua filha eu irei te dar comida! […] Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer! Você se alimentará!”, dizem.
Outro depoimento menciona que só após aliciar as vítimas os garimpeiros dão comida aos indígenas.
“Os [garimpeiros] dizem: ‘Essa moça aqui. Essa tua filha que está aqui, é muito bonita!’. Então, os Yanomami respondem: ‘É minha filha!’. Quando falam assim, os garimpeiros apalpam as moças. Somente depois de apalpar é que dão um pouco de comida”.
Há relatos ainda de exploração em um “casamento arranjado”, entre uma adolescente Yanomami com um garimpeiro, com promessa de pagamento de mercadoria que não ocorreu.
‘Destruição garimpeira’
Além dos abusos, os moradores da Terra Yamomami sofrem com o avanço da destruição garimpeira na região. Conforme o relatório, em 2021 o garimpo ilegal avançou 46% comparado a 2020.
Além disso, no ano passado, havia sido registrado um crescimento de 30% em relação ao período anterior. De 2016 a 2020, o garimpo na Terra Yanomami cresceu 3.350%.
O relatório mostra ainda que o número de comunidades afetadas diretamente pelo garimpo ilegal chega a 273. Conforme o documento, 16.000 pessoas moram nesses locais, ou seja, 56% da população total é prejudicada.
Ao todo, há 350 comunidades indígenas na Terra Indígena, com uma população de aproximadamente 29 mil pessoas.
Saúde Yanomami
A saúde indígena também é prejudicada pela invasão garimpeira, conforme mostra o relatório. Os dados indicam que a malária ‘explodiu’ em zonas de forte atuação garimpeira, como nas regiões do Uraricoera, Palimiu e Waikás. No Palimiu, em 2020, houve mais de 1.800 casos.
“A extração ilegal de ouro [e cassiterita] no território Yanomami trouxe uma explosão nos casos de malária e outras doenças infectocontagiosas, com sérias consequências para a saúde e para a economia das famílias, e um recrudescimento assustador da violência contra os indígenas […] Destaca-se que a população total do Palimiu no mesmo ano era de pouco mais de 900 pessoas”, diz a Hutukara.
Outra denúncia mostra que entre 37 polos de saúde existentes na região, 18 possuem registro de desmatamento relacionado ao garimpo.
Em março, o vice-presidente da Hutukara denunciou que garimpeiros abriram uma cratera próximo a Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) de Homoxi e deixaram mais de 600 Yanomami sem serviço médico.
Diante das denúncias, o vice-presidente da Hutukara Dario Kopenawa alerta a sociedade e Governo Federal sobre poder de destruição dos invasores.
“O ataque aos povos da Terra Indígena Yanomami já ocorreu na década de 1980, com a invasão de mais de 40 mil garimpeiros. Hoje, em 2022, a história se repete. Isso é muito grave”, diz.
Fonte: Da Redação