Garimpeiros abrem cratera próximo a posto de saúde e deixam mais de 600 Yanomami sem serviço médico

Imagens mostram terra destruída como consequência da atividade garimpeira

Garimpeiros abrem cratera próximo a posto de saúde e deixam mais de 600 Yanomami sem serviço médico
Terra Indígena Yanomami – Foto: Divulgação/Dário Kopenawa

615 indígenas da Terra Yanomami estão sem atendimento médico há seis meses. Isso porque o posto de saúde da região Homoxi, onde vivem, precisou ser fechado, pois está próximo de uma cratera que se abriu como consequência do garimpo ilegal.

O relato acima é do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana (Condsi-YY), Júnior Hekurari Yanomami. Lideranças expuseram o caso nessa terça-feira (22) com publicações de imagens da cratera em redes sociais.

Ainda de acordo com Hekurari, há quase três anos os invasores garimpam ilegalmente no local. Além disso, também fala em assédio, ameaças e venda de ouro para equipe de saúde que atuava no posto fechado.

“A Região está controlada pelos invasores impedindo que os Yanomami recebam atendimento, pois é inviável enviar uma equipe fixa ao local. A UBS está fechada há seis meses justamente pela questão do garimpo na localidade. Houve ocorrência de intimidações e venda de ouro entre a equipe e invasores”, disse.

Além disso, o líder Yanomami relembra que há 30 anos ocorreu a demarcação da região. No entanto, lamenta que após décadas seu povo continue sendo desrespeitado, bem como reclama sobre a destruição causada pelos invasores na natureza.

“O avanço do garimpo no Território tem causado diversos problemas a população Yanomami. O governo sequer procura uma forma de amenizar a situação, ao contrário disso tem tentando aprovar projetos que destruirão nossa população. Projetos que beneficiam grandes empresários”, acrescentou.

Em publicação nas redes sociais, o vice presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) Dario Kopenawa também cobrou a presença do Governo Federal Força Nacional, Exército Brasileiro e Polícia Federal na região.

“O garimpo está quase derrubando o posto de saúde. Cadê o Governo Federal, Força Nacional, Polícia Federal e Exército Brasileiro? […] muitos empresários estão envolvidos nos danos [da mineração] e muitos políticos de Roraima”, denunciou.

Território Yanomami e garimpo ilegal

O território Yanomami é alvo de invasão de garimpeiros há mais de 40 anos. No entanto, desde de 2020, a atividade ilegal se intensificou na região.

Em 2021, lideranças indígenas denunciaram uma série de ataques de invasores que exploram ilegalmente o ouro na região. Associações indígenas enviaram ao menos 10 ofícios relatando a escalada de violência para órgãos federais.

À época, garimpeiros atacaram comunidades com bombas caseiras e chegaram a atirar contra os indígenas. Assim, em junho do ano passado, após pressão de organizações indígenas, o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou a retirada dos garimpeiros da região.

Como resultado, o Exército Brasileiro e a Polícia Federal realizaram operações para impedir o avanço do garimpo na TI.

Por outro lado, Hekurari criticou a falta de atuação da União diante das denúncias da atividade ilegal na terra indígena.

“O governo federal não tem cumprido o seu papel com o Povo Yanomami, mesmo diante de tantas denúncias e solicitações por parte deste Conselho e de tantas outras instituições.  Por isso, encaminhamos um relatório com imagens anexas para o Ministério Público Federal (MPF)”.

O Roraima em Tempo entrou em contato com o Fundação Nacional do Índio (Funai), Exército Brasileiro e o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-YY), contudo não obteve retorno.

Saúde

Além do garimpo ilegal, as lideranças também denunciaram durante o ano passado a falta de assistência médica aos povos indígenas. O Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY) chegou a denunciar a morte de crianças com malária por falta de atendimento.

Em menos de dois anos, a Terra Yanomami registrou cerca de 44 mil casos da doença na população. De acordo com o MPF, somente em 2020, a região teve 47% de todos os casos de malária em Terras Indígenas brasileiras.

Fonte: Samantha Rufino e Yara Walker, repórteres do Roraima em Tempo

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