Governo Federal estuda dar aos Correios permissão para abrir pacotes com possível conteúdo criminoso

Ministério das Comunicações vai propor novo marco regulatório do serviço postal

Governo Federal estuda dar aos Correios permissão para abrir pacotes com possível conteúdo criminoso
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O Governo Federal trabalha na elaboração de um decreto para regulamentar os serviços postais e de telegrama no Brasil e modernizar as funções dos Correios, e um dos pontos da proposta deve prever a possibilidade de abertura de encomendas por funcionários da empresa com supervisão policial quando houver indício de crime, segundo apurou o portal R7.

A reportagem teve acesso à minuta do decreto, que diz que quando houver “fundados indícios da prática de crimes”, os Correios poderão abrir encomendas, desde que acompanhados de uma autoridade policial. O texto diz que a regra não se aplica a correspondências, cujo sigilo é inviolável, segundo a Constituição.

Essa autorização aos Correios visa permitir que a empresa possa agir de forma mais eficaz em situações suspeitas e prevenir o uso dos serviços postais para atividades ilícitas, contribuindo para a segurança da sociedade como um todo.

Além disso, o documento estabelece que, em caso de suspeita de que um pacote tem algo ilegal, os Correios devem entregá-lo à polícia.

As discussões em torno do decreto acontecem em um grupo de trabalho criado pelo Ministério das Comunicações no ano passado e que deve funcionar até 7 de agosto

Sugestões do Ministério da Justiça e Segurança Pública

A minuta do decreto está para avaliação de outras pastas do governo. O Ministério da Justiça e Segurança Pública vai analisar a permissão de abertura de encomendas. A pasta sugeriu que as regras sejam mais específicas e contenham, de maneira expressa, os procedimentos destinados a garantir a legalidade tanto na abertura de encomendas quanto no encaminhamento de itens ilícitos às autoridades.

A preocupação da pasta é garantir que a abertura de encomendas postais não torne a prova ilegal ou inválida no processo. No entendimento do ministério, o procedimento penal precisa seguir à risca. O que então garante que a prova seja íntegra, rastreada e fiscalizada pelas autoridades.

Assim, a recomendação do Ministério da Justiça e Segurança Pública é que a abertura de encomendas suspeitas ocorra de forma formal. Isso com registro por escrito e, gravada em vídeo, para que outras autoridades fiscalizem e garanta que tudo está dentro da lei.

Sobre a entrega de encomendas suspeitas à polícia, a pasta diz que a norma não pode apenas mandar entregar o objeto ilícito à autoridade, mas definir um passo a passo que inclua a retenção do item, o acionamento da polícia e o envio, tudo de forma correta e legal, garantindo que a prova continue válida.

A pasta também aconselha que existam regras complementares, no próprio decreto ou em uma portaria do Ministério das Comunicações, para dar mais segurança jurídica à norma, proteger a validade das provas e fortalecer o combate a crimes postais.

O Ministérios das Comunicações ainda vai analisar as sugestões de alteração ao texto. Não há previsão para apresentação do novo marco regulatório dos Correios.

Julgamento no STF e Correios

As mudanças a serem implementadas pelo governo federal devem adequar as normas a um entendimento firmado no Supremo Tribunal Federal em 2023.

Naquele ano, a corte definiu que é válida a abertura de encomenda nos Correios por funcionários da empresa. Desde que haja indícios fundamentados da prática de atividade ilícita. Contudo, é necessário formalizar o procedimento de abertura dos pacotes para permitir o posterior controle administrativo ou judicial.

Como resultado, a decisão do STF diz que se não houver autorização da Justiça ou uma situação prevista em lei, é ilegal usar como prova qualquer carta, pacote e telegrama. A única exceção é se isso acontecer dentro de um presídio e houver suspeita bem fundamentada de atividades ilegais.

Fonte: Portal R7

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