Variante gama provocou mais mortes de mulheres e jovens no Amazonas, diz estudo

Gama surgiu em novembro de 2020 em Manaus e se tornou a principal variante no Brasil dois meses depois

Variante gama provocou mais mortes de mulheres e jovens no Amazonas, diz estudo
Variante gama predominou no Brasil- Foto: Wikimedia Commons

Um estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista The Lancet Regional Health identificou que, após a introdução da variante gama do vírus SARS-CoV-2 no Amazonas, a participação de jovens e mulheres entre casos graves e mortes por Covid-19 aumentou.

De acordo com os cientistas, houve uma maior incidência e aumento na proporção de casos entre jovens; aumento na proporção de mulheres entre os casos graves; e crescimento na taxa de mortalidade em pessoas de 20 a 59 anos hospitalizadas de ambos os sexos.

A pesquisa foi feita por epidemiologistas do Instituto Butantan, da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic de Campinas, da Universidade Federal do Ceará. Também participaram pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, bem como da Faculdade de Medicina do Centro Universitário Christus.

O estudo analisou o perfil de mortalidade e letalidade em pacientes hospitalizados por Covid-19 antes e depois da intensificação da circulação da P.1 no Amazonas.

Surgimento da variante gama

A variante gama surgiu em novembro de 2020 em Manaus e se tornou a principal variante no território brasileiro dois meses depois. Dessa forma, os pesquisadores analisaram dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe. A plataforma também registra casos e óbitos relacionados à Covid-19.

Do mesmo modo, eles compararam dois períodos de pico de casos no Amazonas. Entre abril e maio de 2020 (46.342 casos e 3.094 mortes), e janeiro de 2021 (61.273 casos e 3.664 mortes), quando predominou a variante gama.

As análises mostraram que a proporção de mortes em mulheres aumentou de 34% (1.051) na primeira onda para 47% (1.724) na segunda onda. Também houve aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave em mulheres – de 40% (2.709 de 6.816 casos) para 47% (2.898 de 6.142), respectivamente. 

Além disso, o índice de mortalidade em pessoas hospitalizadas entre 20 e 39 anos na segunda onda foi 2,7 vezes o observado na primeira onda. Anteriormente, a média de idade entre os óbitos por Covid-19 era de 69 anos entre abril e maio de 2020. Em janeiro de 2021, era de 65 anos. 

Casos graves e mortes

Outro fator observado foi o aumento de casos graves e mortes em pacientes sem comorbidades. De 43% e 31% na primeira onda, respectivamente, para 56% e 50% na segunda.

Conforme uma das colaboradoras da pesquisa, Eliana Nogueira Castro de Barros, gerente de epidemiologia do Centro de Farmacovigilância, Segurança Clínica e Gestão de Risco do Butantan, as mudanças observadas no padrão epidemiológico indicam que a variante gama apresenta uma diferença significativa no perfil de virulência e patogenicidade em relação à cepa original de Wuhan.

Para compreender as razões dessas diferenças, Eliana afirma que são necessários mais estudos específicos feitos diretamente com esses grupos em comparação com outros. “Assim seria possível entender se esses fatores podem ter sido atribuídos a aspectos individuais, biológicos ou comportamentais”, explica.

O artigo também cita um estudo anterior feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) que mostrou que a variante gama seria 1,4 a 2,2 vezes mais transmissível do que as demais cepas, o que explicaria a rápida piora da situação epidemiológica no Amazonas na segunda onda.

Monitoramento da variante ômicron

Eliana Barros reforça que sua equipe está monitorando os indicadores epidemiológicos. O objetivo é observar alguma mudança de padrão com a introdução da nova variante ômicron. “Para esta cepa, existe uma preocupação adicional devido ao maior número de mutações. Da mesma forma que aconteceu para as demais variantes, os perfis clínico e epidemiológico dos casos devem ser sempre monitorados com atenção para que os serviços possam se organizar para potenciais alterações com impacto nos diferentes setores da saúde”, aponta a gerente de epidemiologia.

Estudos atestam eficácia da CoronaVac contra as variantes delta, alfa e gama.

Evidências

Uma série de evidências científicas já demonstraram que a CoronaVac, vacina do Butantan e da Sinovac, é capaz de combater as variantes do SARS-CoV-2. Um estudo chileno publicado na revista Frontiers of Immunology indicou que os indicadores de anticorpos neutralizantes gerados pelo imunizante foram acima de 97% contra a cepa original do vírus, acima de 80% contra as variantes alfa e gama e acima de 75% contra a variante delta. Para chegar a esse resultado, os cientistas coletaram amostras de participantes do ensaio clínico de fase 3 receberam a imunização do CoronaVac no Chile.

Outro estudo publicado na plataforma de preprints MedRxiv conduzido no Brasil mostrou que a CoronaVac teve a capacidade de prevenir infecções pela variante gama em idosos com mais de 70 anos. A eficácia da vacina contra hospitalizações foi de 59%, e contra mortes, de 71,4%. O indicador variou com o aumento de idade: entre os indivíduos com idade de 70 a 74 anos, a eficácia foi de 61,8% contra a doença sintomática, de 80,1% contra hospitalizações e de 86% contra mortes.

Além disso, uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade da República, de Montevidéu, apontou que as populações dos países do sul da América do Sul estão mais protegidas contra as variantes regionais gama e lambda do vírus SARS-CoV-2, devido à imunização com a vacina de vírus inativado CoronaVac. Os resultados mostram que o uso generalizado do imunizante nessas regiões preveniu as formas graves da Covid-19. E além disso, conteve a disseminação das variantes regionais altamente transmissíveis. No Chile, 70% das vacinas aplicadas correspondem à CoronaVac; no Uruguai, 60%; no Brasil, 35%.

Fonte: Instituto Butantan

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