Os fãs da série “Game of Thrones” mataram a saudade de Westeros ontem, com a estreia de “A Casa do Dragão”, nova série da HBO Max. A Internet entrou em polvorosa, com as redes sociais bombando reações da galera, memes e cenas do primeiro episódio, incluindo o primeiro Dracarys (palavra que comanda o flamejamento dos dragões).
Não é para menos: a estreia da série mostra a que veio logo de cara. Com jogos políticos em cena e a presença constante dos gigantes alados, “A Casa do Dragão” mostra que tem tudo para ser um grande sucessor da obra que foi sua matéria-prima.
Falando nela, a comparação com “Game of Thrones” é inevitável. E é somente nisto que a nova série perde em pequenos aspectos. Claro que muita gente já devia esperar que um não alcançasse o mesmo patamar do outro. Mesmo assim, achei pertinente colocar esses aspectos para jogo (dos tronos).
Efeito dominó
Este spin-off conta a história da Casa Targaryen, quase dois séculos antes dos eventos da série original. Aliás, é muito importante essa contextualização já aparecer nos letreiros iniciais, como um meio de avisar que não aparecerá nenhum conhecido aqui (afinal, ainda falta um bocado para aquela turma nascer). Rapidamente, aparece um Dragão sobrevoando Porto Real e, com ele, a primeira comparação negativa: os efeitos visuais. Estão bonitos, porém menos bem-feitos que em GOT, uma série que torrava “apenas” um milhão de dólares por episódio – contra os 20 milhões de agora. Com certeza, grana não faltou.
O mais importante, contudo, é a trama, que já sinaliza uma disputa interna pelo Trono de Ferro, comandado pelo Rei Viserys (Paddy Considine). O principal expoente desse tremelique é seu irmão, Daemon (Matt Smith, de “The Crown”), que já se anuncia como herdeiro do Trono. Mesmo com a Rainha grávida, mesmo que já haja uma princesa, a jovem Rhaenyra (Milly Alcock), que, por não ser um homem, não pode suceder seu pai. E pronto. Contar mais que isso é derrubar o primeiro dominó de uma cadeia. Afinal, uma coisa leva à outra, com cada passo do roteiro movimentando uma engrenagem de forma sutil, porém decisiva.
Trono de Ferro outra vez
Não é só o roteiro que faz esse conjunto de movimentos funcionar bem, mas também o elenco. Paddy Considine brilha como um rei complacente e que mantém um reinado aparentemente estável. Matt Smith está bem, apesar de ser o mais unidimensional do elenco principal. Em relação à forte presença física, o destaque vai para Milly Alcock, uma Rhaenyra com cara de quem não vai engolir desaforo fácil; e Steve Toussaint, que interpreta Corlys Velaryon, o Serpente do Mar. Entretanto, a melhor atuação de todas é de Rhys Ifans como o enigmático Otto Hightower, a Mão do Rei. Fiquemos de olho nele.
Para emoldurar esse tabuleiro, a produção não poupou atenção nos detalhes do figurino e da cenografia. Se a computação gráfica não é de milhões (em sentido figurado), a ambientação está visualmente impecável. Dá um alívio ver essa dedicação e saber que não é um spin-off qualquer, mas outra superprodução. E como é bom ver o Trono de Ferro outra vez – mesmo que, às vezes, ocupado pelo corpo errado.
Veredito
Ao fim do episódio, quase tudo perfeito. O “quase” vem, mais uma vez, da comparação. Apesar deste piloto ser só a ponta do iceberg e, logo, com uma lentidão compreensível, faltou aquele impacto que sentimos no primeiro episódio de GOT. Revisitamos o universo violento e devasso e a neblina moral que faz parte da natureza de Westeros. Porém, nada comparado a uma apresentação que, ao mesmo tempo, entrega perigo sobrenatural, ironia afiada (cortesia de Tyrion), incesto, um atentado surpreendente e a constatação definitiva de que algo está muito, mas muito errado.
Felizmente, é só nesse balanço (injusto, pode dizer!) que a nova atração do HBO Max perde peso. Fora isso, “A Casa dos Dragões” começa épico, sacia a sede dos fãs de George R.R. Martin e tem tudo para ser uma das melhores séries do ano. Confio no autor (que está como produtor executivo) e no diretor Miguel Sapochnik, que fez alguns dos melhores episódios de GOT e é o showrunner da série atual. Para quem reclamar dos meus pontos negativos, calma: é só o capítulo inicial. Veremos os próximos.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.