Ataques a Alec Baldwin revelam o pior do ser humano

No início da semana, a modelo Ireland Baldwin usou suas redes sociais para dizer que a apresentadora Candace Owens é “o ser humano mais odioso, nojento e canceroso” que já conheceu

Ataques a Alec Baldwin revelam o pior do ser humano
Donald Trump Jr – Foto: Divulgação

No início da semana, a modelo Ireland Baldwin usou suas redes sociais para dizer que a apresentadora Candace Owens é “o ser humano mais odioso, nojento e canceroso” que já conheceu. Isso porque a comentarista do programa The Candace Owens Show fez a seguinte publicação sobre o pai de Ireland, o ator Alec Baldwin, no Twitter:

“Alec Baldwin passou 4 anos se dedicando a pintar Donald Trump e seus apoiadores como assassinos do mal. O que aconteceu com Alec seria um exemplo de justiça poética se não fosse pelos próprios inocentes que foram assassinados por ele. Ore por suas famílias. Tão triste”.

Para quem não esteve no planeta nos últimos dias, explico. Na semana passada, Alec Baldwin estava ensaiando uma cena, nos bastidores do faroeste “Rust”, quando usou uma arma cenográfica para atirar na direção da câmera. O problema é que havia uma bala de verdade na arma, que atingiu as duas pessoas que estavam atrás da câmera: a diretora de fotografia Halyna Hutchins e o cineasta Joel Souza. Apenas este ficou ferido e teve alta hospitalar. Infelizmente, Halyna não resistiu. As imagens de Baldwin desesperado no telefone, recebendo a trágica notícia, rodaram a Internet.

Investigações

Desde então, a Polícia de Santa Fé (capital do Novo México e local das filmagens) está investigando o episódio para descobrir a origem do erro que tirou a vida de uma das profissionais do filme. Afinal, é uma arma cenográfica, que não deveria estar carregada com munição real. Os dois maiores alvos dos questionamentos acerca do incidente são a armeira Hannah Gutierrez-Reed, a responsável pela manipulação das armas e da garantia de segurança no uso delas nas cenas; e o diretor-assistente Dave Halls, que entregou a arma nas mãos do ator e avisou que estava descarregada (quando, na verdade, não estava).

Paralelo a isso e outras variantes, nada tira da cabeça de Alec que foi ele quem deu o tiro fatal. Foi ele que apertou o gatilho e viu a mulher que estava na sua frente cambalear para trás inesperadamente, com o corpo derramando sangue. Não imagino a culpa que ele deve sentir, mesmo que tenha sido um acidente. Ele já se encontrou pessoalmente com o viúvo de Halyna, Matthew Hutchins, e está colaborando para as investigações. Pior é que, em sua vida pessoal, ele sempre se posicionou contra a política de armas do ex-presidente Donald Trump. Se ser responsável por um tiro que matou outra pessoa já é perturbador, imagine para alguém que luta contra o uso indiscriminado de armas.

O deboche do filho de Trump

Contudo, nem todos respeitam esse momento de dor e culpa. Foi justamente essa característica que foi usada pelo filho de Trump para debochar da situação. No Instagram, Donald Trump Jr. chamou Baldwin de “babaca desarmamentista que matou mais gente com uma arma que sua coleção de armas de fogo jamais matou”. Uma possível vingança pelo ativismo do astro contra a política trumpista nos EUA e, quem sabe, pela paródia feita no programa Saturday Night Live, em que Baldwin imitava o republicano.

Claro que a turba conservadora de apoiadores de Trump também seguiria seus passos. E uma delas é a apresentadora Candace Owens, que disse aquilo lá em cima e fez subir os nervos da filha dele, Ireland. O bate-boca continuou na segunda-feira e a modelo pediu unfollow às pessoas que concordam com Owens. Esta, por sua vez, aumentou os ataques a Alec, chamando-o de psicopata e predador. Até o Brasil participou da baixaria. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (RJ) fez um print do post de Trump Jr. e publicou no Twitter, acrescentando uma piadinha, como se vê na imagem:

Enfim, uma penca de gente suja, baixa e covarde. Discordar de uma opinião é uma coisa. Entretanto, aproveitar-se da fragilidade de uma pessoa para golpeá-la é outra. A total falta de sensibilidade de Donald Trump Jr., Candace Owens, bem como de Eduardo Bolsonaro e outros revoltadinhos com o ativismo de Baldwin demonstra a proporção absurda que a atual polaridade política tomou. As pessoas deveriam entender que as diferenças de torcida nunca devem estar acima da humanidade. Um bom exemplo disso aconteceu quando Manuela D’avila (política de esquerda) prestou apoio a Joyce Hasselman (de direita) quando, em 2019, esta última sofreu ataques machistas e gordofóbicos de um deputado federal (consegue adivinhar quem?). Nesse caso, adversários se ajudaram em nome da solidariedade.

Apatia

Infelizmente, nem todos sabem o que isso significa. Estar mais certo que o outro é prioridade para pessoas como Donald Trump. Gente que não gosta de competir, mas de ganhar a todo custo, sendo melhor ainda no estilo Dick Vigarista, que não quer apenas vencer a corrida, mas fazer os outros competidores se darem mal. Afinal, pisar enquanto o outro já está se afundando é típico de um grupo que não sabe perder (“STOP THE COUNT”, lembra?). Alec Baldwin defende sua causa sem a intenção de machucar alguém. E quando machucou, mesmo sem querer, caiu em lágrimas. Essa é a diferença de caráter entre pessoas. Quem não o tem sorri quando machuca alguém. E de propósito.

E, como Ireland tambem disse, esse desrespeito não é só com o pai dela, mas com a própria memória da falecida. Usar a morte acidental de alguém como palanque político é uma prática abjeta que só reforça o baixo nível dessas pessoas. Nenhum discurso desse tem o mínimo interesse de se compadecer pelos familiares de Halyna Hutchins, mas de rir da cara do ator. Basta acessar o próprio perfil do Instagram de Trump Jr., onde não há espaço para qualquer lamentação ao ocorrido, mas para memes com Alec Baldwin e sua família. Uma vergonha.

Opinião

Você mesmo, leitor, pode discordar à vontade do astro, não apenas de sua crença antiarmamentista como também de seu ativismo pró-aborto e das avacalhações a Donald Trump. Entretanto, atacá-lo por causa de suas opiniões, distorcendo termos (“assassinadas”?), nesse momento tão delicado e ainda em andamento, é de uma covardia atroz. Em nome de sua própria índole, não seja assim. Como já disse o psiquiatra Carl Jung, conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. Em outras palavras, não seja um ser humano odioso, nojento e canceroso.

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema. 

Comentários

Subscribe
Notify of
guest
1 Comentário
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
Arnobio

Bom.Revoltante e deplorável mesmo, porém quando muitos jornalistas, artistas de esquerda fazem o mesmo, usam a mesma tática os jornais , jornalistas, artistas fingem quem não aconteceu.Se fosse a mesma revolta fosse direcionanda para todos, certeza que vivermos num mundo melhor, mas quando apenas um lado é penalizado temos o que temos hoje dia.Um dia desses artistas e jornalistas zoaram com o filho Trump que, se não me engano é autista. Riram debochadaram…e aí teve revolta, indagação?? Não nenhuma, mas como é um inimigo, inimigo dos artistas, da mídia, pode até dizer que vai matar que está tudo bem.

1
0
Would love your thoughts, please comment.x