O Oscar 2022 já entrou na história. Não sabemos qual filme será o grande vencedor do maior prêmio hollywoodiano de cinema. Porem, as apostas indicam que vai para um longa de streaming. Depois de anos esnobando a maior honraria do cinema para a Netflix, chegou a hora de se render e, enfim, entregar seu maior prêmio ao cinema caseiro.
A diferença é que, até a semana passada, as apostas estavam garantidas para a Netflix. Isso porque “Ataque do Cães” faturou vários prêmios de Melhor Filme da temporada. Quando chegou justamente no prêmio mais alinhado com a categoria Melhor Filme no Oscar, o PGA (Sindicato de Produtores), vence “No Ritmo do Coração’. Assim, um filme da Apple TV + se torna o maior rival do faroeste da Netflix.
Esse é um dos fatores que tornam a edição deste ano sensivelmente melhor que o ano passado. O favoritismo precoce e disparado de “Nomadland” em 2021 (falei sobre isso aqui) deixou tudo muito previsível. Agora não. A única coisa de que temos (quase) certeza é que, independentemente de quem vença, será o Oscar para um serviço de streaming. E a batalha será Netflix x Apple. Afinal, quem vencerá?
Boicote merecido
Se a temporada está quente, o mesmo não podemos dizer da transmissão. Para quem não sabe, oito categorias do Oscar serão limadas da transmissão ao vivo. A fim de atender a uma exigência da Rede BBC para não repetir a baixa audiência do ano passado, a Academia quer encurtar a cerimônia. Para isso, resolver retirar da transmissão as categorias de Curta-Metragem, Curta-Documentário, Curta-Animação, Trilha Sonora, Som, Maquiagem e Cabelo, Figurino e (pasmem!) Edição.
As oito premiações das categorias acima serão realizadas no pré-show, com flashes das entregas de estatuetas no meio da transmissão. Ou seja, oito categorias rebaixadas ao segundo escalão – incluindo Edição, um dos elementos mais importantes do cinema. Os engenheiros de som Tom Fleischman e Peter Kurland chutaram o balde. “Não imagino um propósito de ficar em uma organização que não respeita mais meu ofício”, disse Kurland ao jornal The Hollywood Reporter. Certíssimo.
Os últimos serão os primeiros
Ok, vamos começar as apostas pela própria Netflix, que está dominando as categorias de curtas. Melhor Curta-Animação é uma das minhas favoritas da premiação, mas esse ano está tão morno que deve favorecer o mediano “A Sabiá Sabiazinha”. Também não acho “The Long Goodbye” o melhor candidato a Melhor Curta-Metragem (prefiro o emocionante “On My Mind”), porem aposto nele pelo fator Riz Ahmed.
Curiosamente, a plataforma tem três obras indicadas em Melhor Curta-Documentário, mas é justamente onde ela deve perder. Isso porque “The Queen of Basketball” deve virar o jogo (não pude evitar o trocadilho). Ainda mais que Lusia Harris, a protagonista real, faleceu em 18 de janeiro. Esse misto de homenagem e combate ao silenciamento deve decidir, também, a vitória de “Summer of Soul” em Melhor Documentário. O que nos leva para….
A questão “Flee”
Primeira produção indicada simultaneamente como Documentário, Animação e Filme Internacional, “Flee” pode ter uma triste derrota tripla. Isso porque, apesar de ser um longa incrível e imperdível, a obra dinamarquesa deveria levar apenas como Animação. Só que já tem um grande empecilho para isso e ele tem nome: Disney. Ou seja, “Encanto” é o favorito (também não concordo).
Não deve levar Documentário porque “Summer of Soul” merece esse reconhecimento. O Festival do Harlem foi apagado da História e recuperado pelo diretor e músico Ahmir Thompson (ou Questlove). Nada mais justo que o Oscar para ele, não apenas pela qualidade do documentário, mas também como reconhecimento tardio da importância de um festival da cultura negra que foi silenciado por décadas.
Por fim, sem chance de “Flee” para Filme Internacional. Esse Oscar já é de “Drive My Car”.
Campeão numérico
Direto ao ponto: “Duna” deve levar Efeitos Visuais, Som, Fotografia, Design de Produção (se “O Beco do Pesadelo” deixar) e, talvez, Trilha Sonora (se “Encanto” deixar). Mínimo de três, máximo de cinco prêmios, fazendo dele o campeão numérico. Mais que isso não dá. Maquiagem e Cabelo fica entre “Um Príncipe em Nova York 2” e “Os Olhos de Tammy Faye”. Já Figurino ninguém tira de “Cruella”.
Para não dizer que não há categoria sem favorito, ninguém está garantido nas apostas para Edição. Está bem que “Tick, Tick… Boom!” e “King Richard” foram premiados no Ace Eddie Awards, pelo Sindicato de Montadores, mas não ponho a mão no fogo por nenhum. Por outro lado, Melhor Canção tem o favoritismo mais longo da história. Faz um ano e meio que Billie Eilish está esperando o Oscar por No Time to Die, de “007: Sem Tempo Para Morrer”.
Chance de surpresa?
Os prêmios de atuação devem seguir o Sindicato de Atores à risca. Atriz Coadjuvante para Ariana DeBose, por “Amor, Sublime Amor”; Ator Coadjuvante para Troy Kotsur, por “No Ritmo do Coração”; Ator para Will Smith, por “King Richard”; e Atriz para Jessica Chastain, por “Olhos de Tammy Faye” – tem chance de surpresa nesta última. Já em Direção, sem chance: é Jane Campion, inabalável por “Ataque dos Cães”.
Disputados estão os roteiros. “No Ritmo do Coração” ganhou força nas apostas para Roteiro Adaptado e “Não Olhe Para Cima”, para Roteiro Original. Só que… sei não. Todos têm chance para o primeiro e seria frustrante ver a derrota de obras melhores (ou seja, do resto). Em uma disputa justa para Roteiro Original, o Oscar ficaria entre “Licorice Pizza” e “A Pior Pessoa do Mundo”. Só nos resta torcer para que os votantes internacionais façam a diferença.
And the Oscar goes to…
O prestígio crítico de “Amor, Sublime Amor” e, principalmente, “Ataque dos Cães” nos deu um vislumbre de uma nova rivalidade Campion/Spielberg (repeteco de 1994). Porem, o musical conquistou poucos termômetros na temporada, enquanto o faroeste estava levando quase tudo. Daí o plot twist: quando chegou nos prêmios mais próximos do Oscar, “No Ritmo do Coração” faturou o SAG e o PGA, surpreendendo a todos.
Assim, o que deveria ser uma disputa entre grandes nomes na direção virou um confronto de serviços de streaming. É Netflix contra Apple TV+. A essa altura, seria uma surpresa o resultado ser fora dessa bipolaridade. Pior: seria decepcionante que o primeiro Oscar de Melhor Filme para uma obra de streaming não fosse, justamente, para a gigante do mercado. Decepcionante e injusto, pois “Ataque dos Cães” é o real merecedor. Faça as apostas!
E não perca a LIVE do Oscar 2022 do Tomada Um, meu canal no You Tube. Será no próximo domingo à noite, 27 de março, aproximadamente às 20:15h. Aguardo você! 😉
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.