Há 25 anos, “O Sexto Sentido” redefinia o plot twist no cinema

A coluna de hoje comemora os 25 anos do suspense “O Sexto Sentido”, obra que consagrou o diretor M. Night Shyamalan. Boa leitura!

Há 25 anos, “O Sexto Sentido” redefinia o plot twist no cinema

O termo plot twist está bem banalizado hoje em dia. Toda trama de cinema pode ter uma surpresa reveladora – que ainda prefiro chamar de “reviravolta” – e elas, geralmente, são uma delícia de ver. Afinal, quem não gosta de ser surpreendido (positivamente, pelo menos) e descobrir que estávamos errados o tempo todo?

O problema é que boa parte do público costuma chamar qualquer coisa de plot twist ou, pior, só de plot (uma tentativa errônea de abreviar o famoso termo). De todo modo, apesar de estarem em voga, as reviravoltas sempre existiram. Mesmo antes do clássico Psicose (1960), que revelou que o verdadeiro assassino da história era o que mais parecia inocente.

Antes do século XX acabar, contudo, a técnica foi redefinida. E o filme responsável por isso foi O Sexto Sentido, que completou 25 anos de lançamento.

Surpresa esperta

Lançado nos cinemas americanos em 6 de agosto de 1999, a obra de M. Night Shyamalan ganhou o mundo no burburinho. Os primeiros espectadores viram nas primeiras semanas de exibição e ficaram embasbacados com a engenhosidade da trama. O boca-a-boca chamou ainda mais gente para conferir que filme tão surpreendente era esse. Mesmo sabendo do plot twist final, as pessoas reviram para constatar as dicas e entender respostas antecipadas do veriam adiante.

O resultado foi um estouro: quase 700 milhões de dólares em bilheteria. Mais que Toy Story 2 e Matrix. Foi o segundo maior filme do ano, perdendo apenas para Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma.

Mas a recompensa mais satisfatória para o diretor Shyamalan foi seu legado cinematográfico. O Sexto Sentido virou a maior referência atual de surpresa esperta e bem construída. Não que não houvesse anteriormente, mas a história do menino que vê gente morta iniciou um novo capítulo no cinema. Nada mais foi o mesmo depois daqui.

“Eu vejo gente morta”

O Sexto Sentido traz a história do psiquiatra Malcolm Crowe (Bruce Willis) que sofre um atentado em sua própria casa por um ex-paciente. Um ano depois, descobre que um garoto chamado Cole Sear (Haley Joel Osment) é parecido com aquele ex-paciente e decide ajudá-lo. Após uma resistência inicial, o garoto finalmente decide contar seu segredo a Malcolm, com uma frase que entrou na história do cinema: “Eu vejo gente morta”.

O desenvolvimento dos personagens, incluindo a mãe de Cole, Lynn (Toni Collete), é muito bem construído e amarrado aos poucos, em uma trama que cresce e vai agregando drama, comoção e medo. Nessa evolução, Shyamalan só deixa o público ver as pessoas mortas com os próprios olhos depois de Cole contar essa habilidade/maldição ao psiquiatra, quase na metade do filme. Então, a trama segue envolta dessa revelação e culmina em uma surpresa inacreditável, convidando o espectador a uma nova sessão, já com o olhar mais apurado. Ninguém sabia na época, mas o final-surpresa nos filmes acabara se ser elevado a outro patamar.

Memes derivativos

Infelizmente, esse impacto acabou se tornando um problema para o próprio Shyamalan. Isso porque ele meio que obrigou o cineasta a uma regra informal: fechar seus filmes seguintes sempre com plot twists. Se não houvesse uma revelação tão grande quanto a do psiquiatra infantil que descobre a verdade, o filme não seria tão bom. Uma regra ainda mais consolidada pelo filme seguinte dele, Corpo Fechado. E mesmo que não houvesse um twist tão grande, teria que ter uma surpresinha, mínima que fosse. Como a função da água no filme Sinais.

Por outro lado, a expressão “Eu vejo gente morta” entrou na cultura pop. A paródia da célebre cena no filme Todo Mundo em Pânico (2000) foi só o começo. Quando o Facebook ainda imperava nas redes sociais, os memes derivativos ganharam muita repercussão. Inclusive, surgiram até camisas de rock com os dizeres “Eu ouço gente morta” – um modo paródico de celebrar músicas antigas. Uma marca que, geralmente, só obras com veia pop conseguem. Desta vez, foi um suspense sério que o fez.

Spoiler tentador

A carreira de Shyamalan ficou bem oscilante ao longo do século XXI, para dizer o mínimo. Isso porque nenhuma das obras seguintes alcançou o esmero de sua filmografia inicial. Alguns, inclusive, são bem ruins e até vergonhosos, como Fim dos Tempos (2008) e Depois da Terra (2013). Outros são bons, como Fragmentado (2016) e Batem à Porta (2023). Mesmo assim, o anúncio de um novo filme seu sempre atiça nossa curiosidade. Eu mesmo quero ver o que ele apronta em Armadilha, lançamento deste mês de agosto (teria um outro twist?).

Porém, ele (e qualquer outro cineasta) nunca tapeou o público tão bem quanto em O Sexto Sentido. Aliás, muita gente teve o prazer da surpresa estragado por algum colega que deposita a força da recomendação do filme no spoiler tentador (seja um bom sujeito e não faça isso!). A melhor coisa, no entanto, é que o longa é tão bom que a tentação que mais prevalece é a de vê-lo outra vez. Quem sabe, fingindo que está sendo tapeado, como na primeira vez.

Há 25 anos, seguimos admirando O Sexto Sentido. E, continuamos vendo – e ouvindo – gente morta.

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.

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