2021 foi um ano bacana nas duas extremidades. Começou arrebentando com os melhores filmes do Oscar e entrou em um segundo terço bem morno, mas fecha de forma espetacular. Isso em todas as vertentes, já que a obra mais elogiada do ano foi lançada em novembro e o blockbuster do ano, em dezembro.
Essa montanha russa se refletiu na minha lista de filmes favoritos do ano. Até o meio do ano, só tinha três filmes que eram, digamos, dignos de figurar em um Top 10. Assim ficou até agosto, quando surgiu o quarto integrante. No último bimestre, porem, o resto surgiu como uma manada atropelando tudo. Tantas obras boas que me deixaram em uma situação bem difícil, entre obras maduras, de entretenimento puro e até incógnitas. Mesmo assim, consegui montar a lista dos 10 melhores filmes de 2021.
Vale mencionar alguns que ficaram de fora, mas que merecem ser lembrados. A animação “Raya e o Último Dragão” fez parte do trio que inaugurou a lista, mas caiu na última peneira. O mesmo ocorreu com o nostálgico “Ghostbusters: Mais Alem” e o belo-estranho “Lamb”. Por fim, há três da Netflix que, com certeza, entrariam em um Top 15: “Tick, Tick… Boom!”, musical com uma atuação magistral de Andrew Garfield; “Identidade”, belíssima estreia de Rebecca Hall na direção; e “Não Olhe Para Cima”, sátira apocalíptica do oscarizado Adam McKay.
Lembrando que listas são bem particulares, já que cada pessoa é impactada de forma diferente por uma obra de arte. Logo, não há problema se você discordar. No mais, aproveite a leitura. Feliz 2022!
10. O ESQUADRÃO SUICIDA
Depois do fracasso do filme de David Ayer, a nova turma do mal recrutada para salvar o mundo mostrou o que estava faltando nesse universo: uma mente criativa por trás. Dito isso, o diretor e roteirista James Gunn já chega chutando a porta e não poupa quase ninguem de seu olhar anárquico, sarcástico e deliciosamente sádico.
E olha que a nova aventura tambem tem um enredo simples. Neste caso, localizar e destruir um local de experimentos científicos em uma ilha misteriosa. Cheio de ação e de personagens bem doidões, o longa ainda sacaneia com todo um universo de supervilões. Sério, ESTE “Esquadrão Suicida” não poderia ser feito por outra pessoa.
9. DUNA
Falando em exclusividade, “Duna” é outro que não deveria passar por outras mãos. Isso porque Denis Vileneuve é o cineasta atual que mais sabe usar o cinema para contar uma história épica. Depois de “Blade Runner 2049”, mais uma vez ele carrega sem medo a responsabilidade de adaptar um clássico da ficção científica. Desta vez, da literatura.
Com cenários grandiosos, deslumbre técnico, trilha incrível e uma ótima escolha de elenco, “Duna” foi feito para ser visto NO CINEMA. Há quem prefira a versão de 1984 de David Lynch, mas acredito que isso tem mais nostagia que admiração. Afinal, é com a visão de Vileneuve que o planeta Arrakis se torna um mundo novo ainda mais admirável.
8. HOMEM ARANHA: SEM VOLTA PARA CASA
Fim de ano, duas semanas, maior bilheteria do ano, a maior da história da Sony. A terceira parte do Homem Aranha de Tom Holland atinge seu auge com uma aventura que envolve multiverso, múltiplos vilões e uma atmosfera nostálgica e muito emocionante. E o intérprete está tão bom e maduro no papel que é capaz de calar até seus haters.
Alfred Molina, Jamie Foxx e Willen Dafoe retornam aos papéis de Dr. Octopus, Electro e Duende Verde, respectivamente. Só que todo esse fan service não é gratuito, mas uma aula de como fazer um fan service que melhora a experiência, ao invés de prejudicá-la. E, de quebra, traz o multiverso para o centro do Universo Marvel. Isso que é um blockbuster de verdade.
7. TITANE
Automobilismo, erotismo, brutalidade, ambiguidade e um misto inusitado entre a mecânica e a biologia. Difícil descrever o que é “Titane” é, principalmente, as reações que esse filme provoca no espectador. Vencedor da Palma de Ouro 2021, a obra de Julia Ducornau consolida um estilo bizarro que celebra a transformação corporal.
Como eu disse na minha crítica, há pelo menos uma cena que me marcou: a dança da protagonista Alexia ao som de The Kills. Aliás, não faltam cenas marcantes e que até podem fazer a pessoa querer “desver” o que passou. Portanto, tenha estômago forte para ver com seus próprios olhos. Além de ser um filmaço, “Titane” é a obra mais chocante de 2021.
6. PIG
Quem diria que a busca por uma porca sequestrada seria um dos melhores filmes do ano, hein? Calma, não espere uma versão rural de John Wick. “Pig” é drama contemplativo sobre solidão, apego e, também, desapego. Em sua estreia na direção, Michael Sarnoski mostra firmeza para contar uma jornada interna e um bom estudo de personagem.
A simplicidade do enredo é ideal para que o cineasta promova momentos de reflexão e mostre como dói revisitar o passado. Se não assistir pela trama, assista para ver a maior atuação de Nicolas Cage em anos. O ator mergulha na pele de um homem amargurado que só se lembra de sua humanidade com seu animal. Enxuto e irresistível.
5. A LENDA DO CAVALEIRO VERDE
Para o cineasta David Lowery, o silêncio diz mais que as palavras. Levou o conceito ao pé da letra com “Sombras da Vida” e, agora, eleva esse aspecto íntimo a patamares épicos. Baseado em manuscritos do século XIV, “A Lenda do Cavaleiro Verde” é o longa mais deslumbrante do ano, com uma beleza impecável, tanto técnica quanto narrativamente.
Dev Patel brilha mais uma vez, agora como um cavaleiro da corte do Rei Arthur que precisa completar um desafio lançado pelo personagem-título. Uma viagem de honra, coragem e desbravamento rumo ao desconhecido, como se o Cavaleiro Verde nos convidasse a participar desse percurso. E nós, de bom grado, aceitamos o desafio.
4. NOITE PASSADA EM SOHO
Edgar Wright é um dos caras mais pop da atualidade e autor de obras com gênero inclassificável. “Noite Passada em Soho” parece um drama, mas flerta com fantasia e tem toques de terror. E o enredo tem salto temporal, moda, mistério, crimes e uma atmosfera lúdica que nos mergulha no passado junto com a protagonista.
Tudo isso aliado a um visual cool e ao sempre ótimo gosto musical de Wright, que preenche o corpo do longa com uma trilha que foge do óbvio. Ajuda mais as protagonistas Thomasin McKenzie e Anya Taylor-Joy, que esbanjam carisma e uma sintonia hipnótica. Também vale conferir o último trabalho da grande Diana Riggs, falecida em 2020.
3. UM LUGAR SILENCIOSO: PARTE II
Só a abertura de “Um Lugar Silencioso: Parte II” já coloca essa continuação em um canto especial do cinema de terror. Poderia ser mais uma sequência caça-níquel, mas não. O cineasta John Krasinski mantém as qualidades que consagraram o primeiro filme, ramificando a história e contando duas jornadas paralelas.
Assim como o novo “Homem Aranha” mostra como usar bem o fan service, “Um Lugar 2” ensina como fazer rimas visuais a serviço da narrativa. A montagem paralela mantém a objetivo comum dos diferentes personagens e torna a trama ainda mais coesa. Não supera o antecessor, mas, ainda assim, é uma das melhores continuações do século XXI.
2. ATAQUE DOS CÃES
Com vocês, o melhor filme da Netflix do ano passado. Doze anos após “Brilho de uma Paixão”, Jane Campion retorna na tela pequena com um trabalho que merecia a tela grande. Ignore o enganoso título brasileiro “Ataque dos Cães”, foque no original “The Power of the Dog” (ou “o poder do cão”) e aprecie um conto em que nada pode ser o que parece.
Além da direção primorosa e um roteiro maravilhoso que desconstrói o faroeste como o conhecemos, temos a melhor atuação de Benedict Cumberbatch desde “O Jogo da Imitação”. Ele e Kodi Smit-McPhee conduzem um enredo cheio de camadas que não param de se desfazer nem nos últimos minutos. Agora é sério: Netflix pode sonhar com o Oscar.
1. JUDAS E O MESSIAS NEGRO
Admita: você nem se lembrava desse. Apesar de sua premiação no Oscar passado, “Judas e o Messias Negro” foi lançado simultaneamente nos cinemas e no HBO Max em 2021 – em fevereiro, especificamente. Ou seja, a estreia de Shaka King foi um gancho no estômago do espectador em casa e na sala escura. Um golpe que eu mesmo estou sentindo até hoje.
A história real de como um traidor se infiltrou nos Panteras Negras, para ajudar o FBI, conta com as atuações monstruosas de Lakeith Stanfield e Daniel Kaluuya e uma das construções de cena mais arrepiantes do ano (“Eu sou um revolucionário”). E, claro, com o trabalho extraordinário de King na direção e o toque final da cantora H.E.R., com a magnética canção-tema Fight For You.
Sim, o melhor indicado ao Oscar 2021 se manteve até o fim como o melhor filme do ano.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.